Com cerca de 20 mil ciclistas, Salvador tem apenas 17 quilômetros de ciclovias, destinadas unicamente para o lazer. Situada na orla, liga apenas o bairro de Amaralina a Itapuã, sendo que a ciclovia é interrompida em três trechos e os ciclistas são obrigados a pedalar pelo passeio junto com os pedestres.
O “Cidade Bicicleta” é um projeto de mobilidade urbana da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Governo do Estado da Bahia (Conder), que inicialmente prometia entregar a Salvador uma malha de 217 quilômetros em ciclovias e ciclofaixas, e atualmente reduziu para 82 quilômetros, prometendo entregar até a Copa.
Quando o assunto é “projeto de mobilidade urbana em Salvador” a população da capital baiana já fica desconfiada, devido ao longo período sem conclusão do tão prometido metrô, que teve suas obras iniciadas em abril de 2000. A licitação para o projeto Cidade Bicicleta foi iniciada, mas até o momento nada saiu do papel. O presidente da Associação de Bicicleteiros do Estado da Bahia (Asbeb), Maurício Cruz, fala que a bicicleta é o meio de transporte do futuro e que em países de primeiro mundo, os investimentos voltados para o ciclismo são maiores e sempre priorizam a saúde e a educação da população.
Para debater esta questão, na manhã de sábado (13) vários ciclistas seguiram pedalando até a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) para participar de uma palestra sobre mobilidade urbana.
Maurício Cruz, que participou da palestra, após o evento desabafou: “O Brasil vem sempre na contramão. Até hoje nada foi feito. Eles não estão interessados nesse tipo de investimento porque acham que não irá dar dinheiro. Criam leis para eles mesmos e não para a população”, disse, insatisfeito. Ele informa que, da palestra saiu a exigência, não dos 80 e poucos quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, mas dos 217 que estavam previstos inicialmente no projeto.
Segundo o ciclista, a população quer sair de bicicleta, só não sai devido à falta de segurança nas ruas da cidade. As regras estipuladas pelo Código de Trânsito Brasileiro visam fundamentalmente proteger a vida de quem utiliza as ruas, sejam eles motoristas, ciclistas, pedestres ou até mesmo carroceiros.
Há uma lei que obriga o motorista a passar 1,5 m distante de uma bicicleta (art. 201 do Código de Trânsito), mas, seja pela falta de informação, ou pela falta de respeito, os motoristas dos veículos automotivos e, principalmente, os motoristas de ônibus, não cumprem essa lei, reclama Cruz: “Além de disputar espaço com os pedestres e carros, sofremos com o desrespeito dos motoristas de ônibus. Não existem palestras educativas sobre esse assunto nas garagens, e eles não foram educados para nos respeitar”.
O ciclismo como opção de locomoção
O ciclista Wilson Mendes, de 28 anos, já pedala há 15 anos e também diz que o que mais o incomoda ao pedalar pelas ruas da cidade é o desrespeito dos motoristas. “Falta compreensão dos motoristas para com os ciclistas.” diz o eletromecânico. Ele também nos conta que, apesar da falta de segurança, prefere pedalar a noite quando há menos veículos nas ruas da cidade. “Pedalo mais por lazer, devido à falta de tempo. Mas prefiro pedalar a noite por conta do fluxo de veículos. O risco de acidentes é menor.” diz o integrante do grupo Amigos de Bike.
Se a população fosse beneficiada com esses recursos, o soteropolitano que trabalha no máximo há 10 quilômetros de distância da sua residência poderia ir tranquilamente de bicicleta, contribuindo para a diminuição da poluição como também para a diminuição do trânsito. É o que afirma Maurício Cruz, que reclama também da falta de bicicletários nos Shoppings. “O Shopping Barra é um dos poucos que têm bicicletários, eles disponibilizam cerca de 20 vagas para bicicletas”, revelou.
O presidente da Frente parlamentar de Apoio ao Sistema Cicloviário, vereador Everaldo Augusto (PCdoB), e o vereador Gilmar Santiago (PT) defendem a causa dos ciclistas e vêm promovendo reuniões para discutir sobre o projeto Cidade Bicicleta. Na última sessão especial que promoveram, o vereador Everaldo lamentou que Salvador possua apenas 17 quilômetros de ciclovias e defendeu a ampliação da infraestrutura para incorporar as bicicletas ao sistema de mobilidade urbana. “Salvador avançou muito pouco, ficou parada no tempo.” constata o edil. Como exemplo citou que a Câmara aprovou, no ano passado o Sistema Cicloviário, mas nada foi implantado de lá para cá.
A possibilidade de bikes de aluguel
Recentemente a prefeitura iniciou um projeto para implantar ciclovias, ciclorrotas e compartilhamento de bicicletas na capital baiana até o final do ano. Para o site do Bahia Notícias o vereador Gilmar Santiago alertou sobre o fato de um projeto semelhante, de sua autoria, já ter sido aprovado em 2011.
Com esse projeto, a prefeitura promete criar mecanismos que possam incorporar o aluguel de bicicletas no cotidiano da capital baiana. Dessa forma, uma pessoa que esteja no Campo grande, por exemplo, poderá alugar uma bicicleta com destino a Barra, encontrando lá um ponto de aluguel para deixar a bicicleta.
A expectativa agora é que os vereadores Gilmar Santiago e Everaldo Augusto, porta vozes na Câmara do desejo de quem quer trafegar na cidade de bicicleta, passem a cobrança por mais celeridade do governo do Estado, mais precisamente da Conder, na conclusão do projeto que permitirá a Salvador ser uma capital com uma opção coerente com a opção do ciclismo como alternativa de locomoção dos cidadãos. Mas para isso se tornar uma realidade é preciso mais ciclovias.
Leia também:
Bike Café "Aro 27" oferece banho e estacionamento para ciclista
Recife ganha mais cinco estações de bike
Curitiba propõe 300 km de ciclovias, mas governo federal nega recursos