Muitos não sabem, mas o preço da tarifa já foi motivo de manifestações há trinta anos, que resultaram na criação do famoso VT (vale transporte) e que garantiu a estabilização dos preços do transporte público numa época na qual o país sofria fortemente com a inflação. Portanto, não é de hoje que esse assunto é tão polêmico.
Ultimamente, diversas são as notícias que tem explorado o quanto a tarifa aumentou acima da inflação ou quanto tempo de trabalho precisamos para pagá-la aqui no Brasil, em comparação a outros países. Porém, é raro encontrar informações de como a tarifa é calculada e, principalmente, o que pode ser feito para que seu custo seja reduzido.
Normalmente, baseado em uma planilha da década de 90 do extinto Geipot (Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes), o cálculo da tarifa é um valor obtido através da divisão do custo médio por quilômetro (R$/km) e do IPK (pass/km). Resumidamente, os principais insumos que influenciam o custo do quilômetro são:
• Combustível
• Pneus
• Veículo padrão
• Salários dos motoristas e cobradores
• Seguros
Deveria ser com estes valores, e não com a tarifa, a comparação com os índices de inflação, uma vez que, a diminuição do número de passageiros pagantes implica o aumento ainda maior da passagem.
Situação vivenciada pelo transporte urbano de ônibus nas nove principais capitais do país: Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. (Fonte: NTU)
Atualmente, a política do governo se concentra em diminuir as taxas sobre os insumos a fim de evitar o aumento das tarifas, ou seja, cortando a própria carne, ao invés de combater os fatores que fazem o custo aumentar. Com uma frota cada vez maior, as grandes cidades brasileiras hoje apresentam uma taxa de motorização equivalente a da Europa nos anos 80, mas sem a mesma infraestrutura que havia no Velho Continente. Consequentemente, cada dia estão maiores os tempos que levamos para percorrer um mesmo trajeto. O ônibus, que transporta mais de 15,5 bilhões de passageiros por ano no país, também é refém deste congestionamento.
Crescimento da frota de veículos de passeio no Brasil. (Referência: DENATRAN)
Quanto mais congestionadas as vias, menor a velocidade e mais ônibus são necessários para atender à demanda com o mesmo intervalo entre um e outro. A conta é lógica: mais ônibus, mais funcionários, mais custos. Hoje, estima-se que até 25% do custo das tarifas deve-se ao congestionamento, portanto, medidas que visem dar prioridade ao ônibus e um serviço de qualidade, como o BRT (Bus Rapid Transit), são de fundamental importância para conter a fuga de passageiros para outros modais de transporte, pois isso apenas ocasionará um maior aumento da tarifa.
Este texto foi publicado originalmente no site The City Fix Brasil.
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