A balança comercial brasileira acumulou, de janeiro a junho, um saldo negativo de US$ 3 bilhões. É o pior resultado desde 1995, quando o negativo atingiu US$ 4,227 bilhões. O saldo é a diferença entre exportações e importações realizadas pelo Brasil no primeiro semestre de 2013. E, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o peso negativo foi dado pela importação de petróleo e derivados.
Mas o que isso tem a ver com mobilidade urbana? Ocorre que grande parte dessas importações é de gasolina, consumida principalmente pelos carros particulares, os mesmos que roubam todos os espaços nas ruas brasileiras. Em outras palavras, o governo brasileiro continua "bancando" o transporte individual, com prejuízos para toda a economia do país. Isso além de reduzir impostos e facilitar o financiamento de automóveis, e financiar obras rodoviárias urbanas, todas de curto fôlego. Claro que há nessas medidas uma estratégia de movimentação da economia e geração de empregos, mas a longo prazo esse modelo se mostra inviável e economicamente insustentável, como já destacamos em vários artigos aqui no Mobilize.
Nas últimas semanas, a sociedade civil já deu sinais de que prefere investimentos públicos na melhoria do transporte coletivo e na adequação da tarifa à renda média nacional. E um estudo divulgado hoje (4) pelo Ipea confirma que - de fato - falta subsídio para baratear o transporte no Brasil. Aqui, na maior parte das cidades, o custeio do transporte é bancado integralmente pelos usuários, situação muito diferente da Europa, segundo o estudo.
Mais: no Rio de Janeiro, uma pesquisa realizada pelo aplicativo de celular Moovit revelou a total insatisfação dos usários de transporte público na cidade mais famosa do Brasil: além de gastar 8 horas semanais nos deslocamentos, os cariocas também esperam o correspondente a quatro dias por ano pela chegada dos coletivos, escreve o jornalista Reinaldo Canto na revista Carta Capital.
Um passo tímido para melhorar o quadro foi dado em São Paulo, com a criação do Conselho Municipal de Trânsito e Transporte, organismo que terá a missão de acompanhar as políticas públicas de mobilidade na capital paulista. O conselho não terá caráter deliberativo - talvez seu ponto mais frágil - mas, no mínimo, indica alguma preocupação com o tema.
Cabe sim aos governantes, de Brasília, dos Estados e Municípios, a iniciativa de alterar esse ciclo vicioso baseado no uso intensivo do transporte individual. O país precisa de medidas urgentes, que melhorem a circulação dos pedestres, bicicletas e ônibus. E projetos de médio e longo prazo (cinco a trinta anos) para desenvolver redes de metrô, trens e outros veículos sobre trilhos, além de barcas, teleféricos, elevadores, escadas, esteiras rolantes etc. Novos modos de transporte gerarão novos negócios, novos empregos e talvez novas cidades.
Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil