Manifestações populares ampliam debate sobre mobilidade urbana no País

Em todos os protestos, a população pede por mais metrôs, ônibus, ciclovias e transparência para o sistema público de transporte e por mais mobilidade urbana

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Fonte: iBahia  |  Autor: Da redação  |  Postado em: 20 de junho de 2013

Cerca de 250 mil manifestantes se reuniram em todo

Cerca de 250 mil manifestantes se reuniram em todo o país

créditos: Tomaz Silva/ABr

 

No Brasil, não se fala em outra coisa. Desde a segunda semana de junho, todas as conversas dos brasileiros, sejam nos escritórios, filas de banco ou redes sociais, se voltaram para as manifestações que tomaram as ruas de São Paulo, Porto Alegre, e se espalharam por todo o país - e até para outros continentes.

 


Na segunda-feira (17), cerca de 250 mil manifestantes percorreram as ruas de 12 capitais e dezenas de cidades no interior do país para reivindicar redução das tarifas de ônibus, melhorias no transporte público, mais investimento em educação e saúde, punição aos políticos envolvidos em casos de corrupção e outras incontáveis reclamações. 

 

Somente nas redes sociais, como Twitter, Facebook e Youtube, os compartilhamentos de conteúdos ligados ao tema atingiram mais 79 milhões de internautas, de acordo com um mapeamento realizado entre a quarta-feira (12) e às 21h desta segunda (17) pela empresa de monitoramento, interação e análise de mídias sociais, Scup.

 

Mobilidade em foco

Entre os infinitos cartazes que desfilaram pelas ruas do Brasil, muitos pediam mais metrôs, frotas de ônibus, ciclovias e transparência para o sistema público de mobilidade urbana. E tanta revolta não é à toa. Somente na região metropolitana de São Paulo, mais de 5,2 milhões de pessoas usam o sistema de transporte coletivo diariamente. De acordo com o jornal El País, o número de usuários aumentou 142% desde 2003, enquanto que a frota de veículos cresceu apenas a metade disso.

 

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Entre as pautas, a melhoria dos sistemas de transporte público é a principal
Foto: Tânia Rêgo/ABr

 

Segundo a jornalista e ativista Rebeca Lerer, a gestão do transporte de São Paulo, maior cidade do país com 11 milhões de habitantes, fomenta uma "desigualdade histórica". Em entrevista ao jornal espanhol, ela reclama que a maior parte dos recursos públicos se destina à industria do automóvel e deixa de lado o transporte público.

 

"O trânsito é um caos, muita gente leva de três a quatro horas para chegar aos seus trabalhos e entre a meia noite e as cinco da manha não tem transporte. A periferia é como uma ilha de pessoas que nunca vão ao centro porque, para eles, se deslocar é um luxo. A ida e volta de casa ao trabalho custam seis reais diários, e isso é muito dinheiro para muitos. Com essas condições, como é que podemos permitir um aumento de preço?", questiona.

 

Soluções começam a surgir

As reclamações são ecoadas por todas as regiões do país, onde cidades com estruturas precárias de mobilidade, em contraste com altos preços cobrados pelas empresas de transporte, assistem seus cidadãos saírem às ruas para exigir melhorias e propor soluções, como o passe livre.

 

Vista como utópica para muitos, a tarifa zero já é usada em algumas cidades brasileiras, como Agudos e Potirendaba, no interior de São Paulo, Porto Real, no Rio de Janeiro, e Ivaporã, no Paraná. Em comum, todas têm baixa densidade demográfica e transporte gratuito para os cidadãos. Para o ex-secretário municipal de transportes de São Paulo, Lúcio Gregori, a alternativa é possível mesmo em cidades de grande porte.

 

Gregori, que atuou na gestão de Luiza Erundina, chegou a criar um projeto que liberava as catracas do transporte público de São Paulo, mas viu sua ideia barrada pela Câmara dos Vereadores. Segundo ele, dezenas de cidades norte-americanas com populações entre 180 mil e 200 mil habitantes já oferecem gratuidade nos sistemas de transporte público.

 

"A aplicação da tarifa zero independe do tamanho da cidade. Ela é possível, mas depende do planejamento financeiro de cada município. Numa cidade do tamanho de São Paulo, o planejamento técnico precisa ser muito maior, além de envolver também os governos estadual e federal", afirmou ao jornal Estadão.

 

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Lincoln Paiva acredita que as manifestações apontam para um novo modelo de demanda entre governantes e cidadãos
Foto: Tomaz Silva/ABr

 

Com a pressão dos movimentos populares, reduções de tarifas começam a ser noticiadas em todo o país. Em Pelotas, no Rio Grande do Sul, haverá redução de R$ 0,15 e o novo valor ficará R$ 2,60. A redução ocorreu por meio de decreto assinado pelo prefeito, Eduardo Leite. Cuiabá vai reduzir em R$ 0,10 a tarifa do transporte coletivo. O novo valor, R$ 2,85, também passará a valer a partir da meia-noite de quarta-feira (19).

 

Em Porto Alegre, a passagem de ônibus será reduzida para R$ 2,80 graças à isenção do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) sobre o transporte coletivo, informou o prefeito José Fortunati. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), também anunciou uma redução no preço da tarifa do transporte público no Recife e Região Metropolitana. A tarifa será reduzida em R$ 0,10 em todos os anéis, a partir desta quinta-feira (20).

 

Novo papel do cidadão

Além de mudanças na tarifa, as manifestações que pipocam no Brasil podem representar uma novidade também na maneira como governantes e cidadãos se relacionam quando o assunto é serviço público. Para Lincoln Paiva, fundador e presidente da Green Mobility Brazil, os movimentos recentes apontam para um cenário onde a sociedade passa a ser protagonista das demandas, e não quer ser apenas representada pelas Câmaras de Vereadores ou executivo.

 

"Ontem secretário municipal dos Transportes de São Paulo, Jilmar Tatto, apresentou para discussão pública uma licitação de 45 bilhões e deu seis dias para o público se manifestar. Precisamos inverter isso, o público deve apresentar sua demanda e suas necessidades e o governo ter seis dias para dar uma resposta", defende.

 

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