Quando um vereador se dispõe a escrever, com a finalidade de expor as suas convicções, muitas ideias lhe vêm à mente, ainda mais quando se trata de demandas urgentes, onde a maior interessada é a população. Além de ser um agente político do Poder Legislativo, com o mandato confiado pelo povo, o vereador também assume a responsabilidade de compor, debater e votar leis em função de municipalidade. No predicado de ser um funcionário público, compete-lhe a missão de verificar se os serviços coletivos têm sido oferecidos conforme o prometido e o esperado.
Trabalhando pela inclusão social, por uma gestão municipal mais participativa e sustentável. Unida à democratização do espaço público, surge a temática da mobilidade urbana, reconhecida como um direito do cidadão e um dever do Estado. Desde o início do meu mandato tenho tratado da necessidade imperativa de olhar para Goiânia com as lentes do planejamento das políticas públicas, voltadas para circulação urbana de todos. Esta totalidade não inclui apenas automobilistas, pedestres ou ciclistas, mas, também, as pessoas com restrição de mobilidade, os deficientes, idosos, gestantes e as crianças. O acesso à cidade é um direito que não deve ser negado a ninguém. Ingressar em uma via urbana, sem estresse e de forma qualificada, é uma prerrogativa ligada diretamente à democracia, ainda mais porque o espaço público é de soberania popular.
No Brasil, somente 20% da população vive no campo. Os outros 80% se aglomeram nas cidades, buscando trabalho, gerando renda, desempenhando papéis sociais, procurando por bens de serviço, recorrendo à educação, tratando da saúde e ainda desenvolvendo atividades de lazer. Cá estão os grandes avanços da urbanização. O que não quer dizer que a população da zona rural não os possua. No entanto, todos estes benefícios tornam-se inacessíveis quando não há mobilidade no fluxo de uma cidade.
Reduz o discurso quem pensa a mobilidade somente como circulação do trânsito, associada, única e exclusivamente, à resolução de engarrafamentos. A perda de tempo e o imediato desperdício de combustível são a ponta do iceberg. O que está em jogo é o fato do espaço público ter dei-xado de ser um lugar de convivência satisfatória para a população. Quando não há qualidade de vida, nos grandes e pequenos centros, muitos cidadãos ficam insatisfeitos e, por isso, saem às ruas como se fossem para a guerra. Impaciência, nervosismo, xingamento têm sido os comportamentos mais observados nas malhas urbanas. Tristemente, também há casos de agressividade física, seguidos de homicídio.
Não existe acessibilidade democrática nas cidades se não houver, antes, redes integradas de trânsito, gerenciamento e operacionalização de veículos, criação de aparelhos sobre trilhos e ciclovias, calçadas adaptadas às necessidades especiais e a despoluição auditiva, sonora e visual. Nos últimos debates que tenho organizado, na Câmara Municipal de Goiânia, a implementação de corredores exclusivos para ônibus tem sido alvo de uma profunda reflexão com os demais setores da sociedade.
Unida à mobilidade urbana também está uma lamentável realidade, marcada pelo rompimento dos laços familiares e comunitários, chamada de exclusão. À medida que as cidades crescem a população mais carente costuma ser deslocada para as regiões mais distantes, pois ali os terrenos são mais baratos. Lá ao longe, padecendo com a vulnerabilidade social, ainda sofrem as consequências de um transporte coletivo ineficaz em conduzi-las de casa para o trabalho e vice-versa. Ficam horas afins em ônibus lotados e lentos, fazendo baldeação de terminal em terminal, pagando por um serviço que não costuma ser ofertado na qualidade necessária. Logo, vinculada ao sistema de transporte de excelência, a mobilidade urbana também passa pela distribuição efetiva dos serviços comerciais, econômicos e industriais àqueles que estão longe do Centro da cidade.
Que tal passarmos de um trânsito ruim, caótico e barulhento para uma convivência harmônica, sustentável e eficiente? Este é um desafio. É uma responsabilidade que compete a todos nós. Na razão de ser da mobilidade urbana está o interesse coletivo. Se antes os automóveis eram usados em vista de uma solução rápida, agora, deve-se pensar na sua utilização racional, inclusive, substituindo-o por outro veículo não motorizado, sempre que possível. Ou, no mínimo, substituindo o individual pelo coletivo. Repensemos, portanto, a circulação dos veículos, o deslocamento dos pedestres, o desenho da malha urbana e a exagerada emissão de poluentes na nossa amada Goiânia. Ela é a nossa casa comum, o nosso lar coletivo. O acesso à Capital, com fluidez e qualidade, é um direito democrático de todos!
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