Desde que a fiscalização de motoristas com base na Lei Seca ficou mais rígida em Belo Horizonte, no ano passado, uma velha questão foi reacesa entre os motoristas frequentadores de bares e restaurantes na capital mineira: as limitações do transporte público da cidade.
Metrô e linhas de ônibus têm a circulação interrompida ou reduzida durante a madrugada e nos fins de semana, e os táxis são poucos para a atender a demanda, além de caros. Um projeto de lei que tramita na Câmara Municipal tenta minimizar o problema. De autoria do vereador Marcelo Aro (PHS), o texto propõe a criação de um serviço de transporte público coletivo destinado a atender ao público das regiões boêmias da cidade.
A ideia, segundo o parlamentar, é criar circuitos especiais para as regiões dos bairros de Lourdes, Cidade Jardim, Pampulha e Savassi, onde há concentração de bares e restaurantes na cidade. “O Estado implantou a Lei Seca, que é benéfica, mas faz imposição. Junto com a lei, o Estado também tem de dar condições para o cidadão cumpri-la”, pontua Aro.
Segundo o vereador, a proposta não traria custos para a prefeitura. “Serão cobradas tarifas que pagarão esse gasto, do mesmo jeito que os ônibus comuns. Quem paga não é o poder público, são as empresas de ônibus”, explicou.
Para a formulação do projeto, Marcelo Aro se inspirou no modelo de Paris, na França. Lá, há um coletivo noturno adaptado para jovens – uma espécie de pré-balada – que circula entre as regiões mais movimentadas durante a noite.
Opinião
Gustavo Jacob, sócio de três casas noturnas na capital, aprova a ideia. “Quem foi prejudicado mesmo (com a Lei Seca) foram os bares. Esse projeto pode ajudar”, prevê. Pedro Loureiro, também sócio de um bar em Belo Horizonte, faz coro. “Costumávamos funcionar até as 4h, e hoje ficamos até 2h30. Não se acha táxi depois das 2h, não tem ônibus”, aponta.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) informou que não vai se pronunciar por desconhecer o projeto. Já o líder do governo na Câmara, o vereador Preto (DEM), afirmou que será preciso ver viabilidade da proposta. “Muitos ônibus na madrugada circulam com poucos passageiros. Podemos optar por outras alternativas, como táxi lotação”, disse.
Linha precisa de conforto, diz analista
O especialista em transporte público e presidente do Conselho Empresarial de Políticas Urbanas da ACMinas, José Aparecido Ribeiro, aprova a intenção, mas não como o projeto foi pensado. Segundo ele, para virar realidade, o transporte noturno deveria ser mais sofisticado que as linhas convencionais.
“As pessoas que saem à noite não gostam do coletivo, gostam de carro, táxi. Teria de ser uma carroceria confortável, diferente dos ônibus normais, em que as pessoas não saiam cheirando a diesel. Nem os novos coletivos, que oferecem ar-condicionado, bastariam. Precisamos de outros atrativos, como serviço de bordo”.
Ônibus e metrô
Déficit. A assessoria da BHTrans informou que, das 274 linhas municipais, 58% não operam entre 0h e 3h59 nos dias úteis, 56% param aos sábados, e 54%, aos domingos. O metrô para após as 23h.
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