Não adianta construir estações de metrô nem corredores de ônibus para convencer os moradores de São Paulo a deixar o carro em casa. É preciso fazer doer no bolso. A conclusão é de um estudo do Insper - que promete enfurecer motoristas - obtido pelo site Exame.com e em fase de finalização.
De acordo com a pesquisa, uma cobrança de cinco reais de quem circula pelo centro expandido da capital paulista acarretaria na diminuição imediata de 28% no uso de carros.
Se o valor fosse aplicado em toda a cidade, a queda na presença dos automóveis de uso pessoal - que somam mais de 7 milhões na cidade - chegaria a 56%.
Cobrando um real, os resultados são mais modestos: 6% no centro expandido e 12% se usado em toda a cidade.
A cobrança monetária foi a única solução tida como eficaz pelos pesquisadores Rodrigo Moita e Carlos Eduardo Lopes no estudo “A Infraestrutura Urbana e a Demanda por Meios de Transporte na Região Metropolitana de São Paulo”.
Eles simularam as variações nos usos dos principais meios de transporte da cidade – metrô, ônibus ou carro – a partir de duas situações: diante de construções de mais estações de metrô e corredores de ônibus ou pela aplicação do pedágio urbano.
A conclusão é que a argumentação de motoristas que dizem que largarão o próprio carro quando tiverem um transporte público decente não é verdadeira. Não ocorre, por exemplo, quando uma nova estação de metrô é construída.
“Faixas exclusivas de ônibus não adicionam pessoas ao ônibus. O que fazem é melhorar a vida de quem pega o ônibus. E novas estações de metrô apenas causam a substituição por quem pega o ônibus, não o carro. Melhorias em infraestrutura não fazem as pessoas deixarem o automóvel”, afirma o economista Rodrigo Moita.
No cenário da cobrança de cinco reais, a questão é se o transporte público da cidade, saturado em horários de pico, daria conta dos novos usuários: a estimativa é que o uso do metrô suba 57%; dos ônibus, 59%.
Na simulação efetuada pelo Insper, um novo corredor de ônibus causa um aumento marginal de somente 0,2% em seu uso. O estudo reconhece, no entanto, que não consegue prever a migração de motoristas para o ônibus no caso em que isso ocorre pelo fato do corredor roubar espaço dos carros e piorar o trânsito na região.
Vai mudar mesmo?
Em parte, o engenheiro civil e ex-secretário estadual dos Transportes de SP, José Luiz Portella, concorda com os resultados.
“Existe essa desculpa esfarrapada de 'mudo do carro quando tiver transporte decente'. É falso. Em vários lugares que implantamos o metrô, como Vila Prudente, isso não aconteceu. Carro tem status, conforto e liberdade”, afirma o ex-secretário, que acredita que a pesquisa pode ter deixado passar alguns detalhes na hora de estudar a mudança de demanda.
Os pesquisadores do Insper usaram os microdados da Pesquisa Origem e Destino do Metrô, de 2007, a última disponível.
Outra atratividade do automóvel, segundo a pesquisa, é que seu custo é o mais barato entre todos os meios a partir do momento que já se tem um em casa, ou seja, desconsiderando tudo que já foi pago até colocá-lo na garagem. Neste caso, pesa-se apenas o preço da gasolina.
O valor de estacionamento na rua, que muitas vezes é usado no dia a dia, não foi considerado pela pesquisa.
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