O ex-ombudsman da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) na gestão Kassab entre maio e setembro de 2011 e consultor em Engenharia Urbana Trânsito em SP, Luiz Célio Bottura, classificou como "absurda" a medida da prefeitura de tolerar mais passageiros embarcados nos ônibus urbanos.
A nova norma passará a vigorar em agosto deste ano, quando forem assinados os novos contratos de concessão entre a administração pública e as empresas de ônibus. Conforme a regra atual, podem viajar até cinco passageiros por metro quadrado nos ônibus. Pelo novo contrato, o número será de seis.
"Isso é um absurdo. Com isso, a prefeitura admite piora na qualidade. Na prática vai até 10 pessoas ou mais, o ideal seria nenhuma pessoa viajar em pé, mas a nossa realidade sócio-econômica é teórica é poética", diz Bottura, que foi conselheiro da SPTrans, empresa que administra o transporte público na cidade, durante 10 anos nas gestões Maluf, Pitta e Marta. "Seis passageiros, um número apertado desse, há até o abuso sexual. Tem pessoas que aproveitam isso para praticar atos libidinosos", afirma o especialista.
Bottura reforça que cinco passageiros é mais folgado do que seis, um aumento de 20%. "Se fizer um teste para saber o que é 5 ou 6 pessoas no metro quadro, o que é 10, você vai ver como é. É muito apertado. Uma sardinha em lata", afirma o ex-presidente da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) no governo Montoro, entre 1984 e 1987.
Para o consultor, a administração municipal deve aumentar o IPK, que é o índice de passageiros transportado por quilômetro.
"O IPK significa mais gente subindo e mais gente descendo, principalmente mais gente descendo. É igual a estoque de negócios, quanto mais gira o estoque, mais lucro o proprietário tem", diz o especialista.
Segundo Bottura, as passageiros pegam o primeiro ônibus porque não acreditam que o próximo vai chegar logo.
"Como não tem hora definida por causa do tráfego, as pessoas não sabem o que acontece. Agora se tivesse uma hora definida, ele acharia que vale a pena esperar um pouco mais", afirma.
Mudanças
Na licitação para contratar as empresas de ônibus, a prefeitura aumentou o número de passageiros que podem ser transportados, mas o tamanho do ônibus é o mesmo. Os ônibus do tipo básico podem carregar até 65 passageiros, mas esse número pulou para 75.
A capacidade dos biarticulados aumentou de 160 para 198, mas seu comprimento continua sendo 27 metros.
Os ônibus articulados podem transportar 100, mas a partir do novo contrato vão poder transportar entre 111 e 171 passageiros, dependendo do tamanho. Antes, a média era 18,8 metros, agora tem 23 metros.
Outro lado
Segundo a SPTrans, empresa que administra o transporte público na cidade de São Paulo, o atual número de cinco passageiros está defasado.
Estudos da SPTrans, elaborados para a nova licitação da operação do sistema de transporte coletivo na cidade, apontam que as condições mínimas, ajustadas à capacidade do viário, tenham um dimensionamento de seis ocupantes por metro quadrado.
Hoje, de acordo com a SPTrans, viajam em média oito passageiros por metro quadrado nos horários de pico.
Veja o vídeo com a reportagem num ônibus de São Paulo, realizada por Marivaldo Carvalho, da UOL.