Calçadas bem-concebidas, sustentáveis e acessíveis propiciam cidades mais civilizadas, com melhor qualidade de vida para seus habitantes. Este conceito vem sendo defendido pelo arquiteto paisagista Benedito Abbud ao longo dos seus mais de 40 anos de profissão.
Graduado e mestre em arquitetura paisagística pela FAU/USP, Abbud assina projetos paisagísticos por todo o Brasil e em países como Argentina, Uruguai e Angola.
Cada vez mais interessado pela escala urbana, nesta entrevista ele discorre sobre as propostas que desenvolveu para as calçadas, elemento que considera de fundamental importância na definição do ambiente urbano: "É através das calçadas que se tem a imagem da cidade", ensina o profissional.
O que o levou a buscar soluções inovadoras e melhores para as calçadas das cidades brasileiras?
Por uma constatação simples, porém importante: o sistema viário é constituído por dois elementos, o leito carroçável e as calçadas, que são o espaço de circulação por excelência das pessoas, dos pedestres. E elas têm ainda importância fundamental na definição do ambiente urbano. É através das calçadas que se tem uma imagem da cidade. E infelizmente, boa parte das calçadas da maioria das cidades brasileiras reflete uma visão negativa do ambiente urbano para os que nelas vivem e visitam. Elas traduzem uma poluição visual, são pouco acessíveis, não são saudáveis, têm inúmeros obstáculos e representam a desarmonia urbana, até mesmo nos elementos verdes, na sua vegetação. Enfim, falta projeto de paisagismo de qualidade para nossas calçadas.
Projeto Calçada Viva, do escritório Benedito Abbud (Foto: Pitanga Comunicação)
Falta conhecimento sobre a necessidade de projetos de paisagismo para as cidades?
Sem dúvida. Infelizmente ainda há um grande desconhecimento por parte dos administradores públicos sobre a importância do projeto de paisagismo. Em São Paulo, por exemplo, a Lei das Calçadas está voltando a ser discutida pela Câmara Municipal. Este é um momento importante para decidir se cabe ao poder público assumir a revitalização e a manutenção desses espaços ou se o problema é individual.
A maioria das empresas do mercado imobiliário já valoriza o projeto paisagístico, atualmente. Falta o poder público também adotar essa postura, para termos cidades mais agradáveis, com calçadas e espaços pensados para melhorar a qualidade de vida de seus moradores e visitantes.
Na sua opinião, calçada deve ser obrigação do particular ou da prefeitura?
Defendo que cabe ao poder público essa responsabilidade pelas calçadas, e não aos proprietários dos imóveis, situação que impera hoje na maioria das cidades brasileiras.
Isto porque a desarmonia e o caos de que falava acima têm a ver com o fato de que cada proprietário de um imóvel residencial, comercial ou industrial é quem decide de que forma será sua calçada, quais os materiais que utilizará nela, qual o tipo de vegetação que será – ou não – plantada ali, resultando numa cacofonia, numa grande poluição visual e, em geral, na falta de manutenção, em passeios esburacados, com pisos irregulares e degraus, dificultando a locomoção de pessoas com deficiência visual ou locomotiva, e também para idosos e mães com carrinhos de bebê, por exemplo.
Mas, para que a prefeitura assuma de fato e bem essa responsabilidade, ela precisa ter um departamento específico para isso, com técnicos habilitados, entre eles, arquitetos paisagistas. E precisa ter projeto para desenvolver bem uma calçada, com todos os requisitos necessários.
* Matéria publicada originalmente na revista Prisma nº 47, maio de 2013