A implantação simultânea dos dois projetos, que já havia sido descartada pelo Estado, será discutida entre um grupo de estudos misto, com representantes dos dois governos. O secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, se reuniu na semana passada com Bernardo Figueiredo, que vai assumir a presidência da Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade (Etav) — estatal que vai supervisionar a implantação do TAV — e ficou decidido que uma minuta será formulada para desenhar o plano.
É a primeira vez que o Estado admite o funcionamento compartilhado dos dois sistemas. Até então, a proposta do trem regional até Campinas esbarrava na implantação do TAV devido à possibilidade de competição e de desequilíbrio financeiro para uma das partes com a adoção simultânea dos projetos. Com a parceria, Campinas teria o TAV e também o trem regional.
O sistema proposto pelo Estado atenderia ao chamado público de transporte pendular, pessoas que trabalham fora da cidade de origem e voltam todos os dias para casa. Com velocidade máxima de até 160km/h, teria custos semelhantes ao do transporte rodoviário. O TAV, com velocidade quase três vezes maior e tarifas mais elevadas, teria prioridade para pessoas vindas dos aeroportos de São Paulo e Campinas, e para os passageiros de padrão de renda mais elevado.
De acordo com técnicos da secretaria estadual, como o TAV deverá operar em intervalos de pelo menos uma hora, os demais horários seriam utilizados pelo trem rápido, com operações de dez em dez minutos. A ideia seria utilizar determinados trechos do TAV para o trem regional. Embora o TAV não possa se locomover em linhas férreas convencionais, o contrário é possível.
O projeto de implantação do trem regional, afirmou Fernandes ontem em um evento em Campinas, esbarrava em problemas políticos. “Em 2010,o prefeito de Campinas (Hélio de Oliveira Santos, PDT) politizou a questão. Quem vai e volta todo dia não precisa de um trem de alta velocidade. Hoje, são cerca de 600 ônibus fretados nessa região que vão para São Paulo que poderiam passar a usar o trem regional”, disse.
De acordo com Fernandes, os trens regionais deverão funcionar por meio de Parcerias Público Privadas (PPPs). A expectativa do Estado é de que haja também um trecho até Sorocaba e outro até Santos. Durante a entrevista, ele admitiu que o governo estadual poderá ter que subvencionar o sistema para que o preço das passagens sejam competitivas com o transporte rodoviário.
Ele afirmou que o edital do projeto até Jundiaí será lançado nas próximas semanas e, até 2016, estará concluído. Com relação à extensão até Campinas, o prazo dependerá agora do andamento das obras do TAV.
O governo federal espera que o leilão do trem de alta velocidade saia até maio do ano que vem. Em visita recente à Sumaré, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse que o trecho entre Campinas e São Paulo deverá ficar pronto antes dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. A reportagem entrou em contato com o Ministério do Planejamento, mas o órgão não se pronunciou sobre a possibilidade de compartilhamento de sistema com o trem regional paulista.
Estudo para estender linha da CPTM sai em janeiro
Um estudo sobre a proposta de extensão do trem da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) até Campinas deve ser concluído até janeiro e, de acordo com o secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, ainda existe esta possibilidade. Os trens da CPTM, afirmou, atenderiam à regiões suburbanas das cidades da região de Campinas e poderiam funcionar como transporte intermunicipal. “Eles teriam uma capilaridade. O trem regional é intercity (direto de uma cidade para outra sem paradas)”, disse. A viabilidade da extensão até Campinas dos trilhos do trem de subúrbio que ligam São Paulo a Jundiaí está sendo analisada pela Oficina Engenheiros Consultores Associados S.C., que venceu licitação aberta pela CPTM.
Parceria para segurança na malha é viável, diz secretário
O secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, afirmou ontem em Campinas que o Estado pode estudar parcerias com prefeituras da Região Metropolitana de Campinas (RMC) para a realização de obras de segurança no ramal ferroviário regional.
Uma série de acidentes tem deixado as cidades em alerta e os municípios têm exigido contrapartidas de segurança à concessionária ferroviária América Latina Logística (ALL) para que ampliação de tráfego na região sejam autorizadas.
Como a retirada do contorno das linhas da parte urbana dos municípios possui custos elevados, a alternativa vista por alguns municípios é a realização de viadutos e outras obras que impeçam o cruzamento entre ruas e a malha férrea.
Em Araraquara, o governo federal vai financiar a retirada das linhas do interior da cidade e, em Juiz de Fora (MG), o Estado realizou uma parceria com o município e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para que intervenções de segurança em passagens de nível sejam feitas. “Mantemos conversas com o Ministério dos Transportes e podemos tratar de realizar parcerias com os municípios. Temos que ver até onde podemos interferir, mas não há problema quanto à possibilidade de sermos consultado pelos prefeitos para ajudarmos”, disse.
Um novo acidente entre um trem e um ônibus em uma passagem de nível em Valinhos no último sábado deixou sete feridos. De acordo com a Santa Casa de Valinhos, uma pessoa ainda continua internada, mas não corre risco. Esse foi o terceiro no mesmo local em menos de dois anos. Em Hortolândia, já foram registrados três acidentes este ano e, em 2010, dez pessoas morreram após a colisão entre uma locomotiva e um ônibus em Americana.
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