Mobilidade em SP? Só invertendo a lógica do automóvel para o transporte coletivo

Aumento da frota de carros/motos e a falta de políticas de planejamento são os grandes responsáveis pela (i)mobilidade urbana na capital paulista, apontam especialistas

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Bruna Piazzi*  |  Postado em: 30 de abril de 2013

Congestionamento em SP na última terça (23)

Congestionamento em SP na última terça (23)

créditos: Renato S. Cerqueira/Futura Press

 

Na maior cidade da América Latina, o problema da falta de mobilidade urbana assume igualmente a escala das grandes proporções. Segundo dados da prefeitura paulistana, cerca de 8,6 milhões de passageiros são transportados diariamente pelas linhas de ônibus e 3,3 milhões utilizam metrô (SPTrans, janeiro de 2013).

 

Os números são altos, mas ainda assim estão longe de refletir um bom equacionamento dessa demanda. Para piorar, estatísticas recentes vêm mostrando que, mais e mais, o paulistano deixa de lado o transporte público e migra para o transporte individual.  

 

Sobre isso, o engenheiro e doutor em políticas públicas pela USP Eduardo Vasconcellos, assessor da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), explica que “a partir dos anos 1990 o sistema de transporte coletivo veio perdendo sua demanda”. O fenômeno não é novo, diz ele, e resulta da expansão da indústria automobilística desde meados do século passado, aliada a incentivos fiscais concedidos pelo governo e à política radiocêntrica, que expandiu ruas e avenidas partindo do eixo central da cidade.

 

A frota em 2011 ultrapassava os 4 milhões de veículos e esse número não parou de crescer. Em pesquisa elaborada pela ANTP revelou-se que o carro e a moto se tornaram mais atrativos ao brasileiro. “O automóvel só custa 10% a mais do que o ônibus e a motocicleta custa um terço a menos” explica Vasconcellos ao falar do custo de desembolso. 

 

O trânsito é o problema que mais incomoda os moradores da cidade, revelou a pesquisa DNA Paulistano (elaborado pela Rede Nossa São Paulo para o jornal Folha de S. Paulo, em outubro de 2012). 

 

Durante conferência do 6º Projeto Repórter do Futuro, realizada na Câmara Municipal de São Paulo em março, o vereador e professor de urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), Nabil Bonduki (PT), afirmou que “o problema da mobilidade afeta todas as classes sociais”, mas quem mais sofre é a camada pobre da população, que mora distante do trabalho e utiliza o transporte público com maior frequência. 

 

Não bastasse, essa camada social é a que mais arca com os prejuízos financeiros do excesso de automóveis, acrescenta Vasconcellos, lembrando que quanto mais devagar anda o ônibus, maior seu custo para a sociedade: “Um real dos três hoje pagos no ônibus vem dos congestionamentos”, contabiliza.

 

“Priorizar o transporte coletivo, mais confortável, rápido e eficiente” é uma das soluções apresentadas por Bonduki ao falar da revisão do Plano Diretor da cidade que ocorrerá este ano. A lei, que organiza a vida na cidade, está sendo amplamente debatida com a sociedade e será reeditada para atender às atuais necessidades da população. O aumento no número de corredores de ônibus, por exemplo, pode elevar para até 20 km/h a velocidade média que hoje é de apenas 12 km/h.

 

Arco do Futuro: diminuir a migração ao centro

O projeto “Arco do Futuro”, mote da campanha que elegeu Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo, promete também desafogar o trânsito na capital e investir em políticas que melhorem a mobilidade urbana. Levar o trabalho para mais perto de casa e distribuir os equipamentos e serviços de forma mais difusa, acredita-se, diminuirá a migração da periferia para o centro. 

 

O Arco pretende promover a descentralização da cidade, e se estenderá da avenida Cupecê, passando pelas marginais até desembocar na avenida Jacu-Pêssego. A estratégia é conceder incentivos para que empresas migrem para essas áreas, encurtando as distâncias para o trabalhador e consequentemente reduzindo o uso do automóvel. 

 

Para o assessor da ANTP, o problema é que a execução do projeto será muito lenta. “A própria decisão empresarial vai levar muito tempo e os resultados demorarão muito para serem vistos. Até você comprar os terrenos, desapropriar as pessoas, construir tudo, arranjar o licenciamento ambiental etc...” 

 

Ele levanta ainda a necessidade de um aumento no nível de conscientização da sociedade. Mas, ainda que num contexto diferente, em que a democracia esteja fortalecida, as pessoas cientes da opção pelo transporte coletivo; mesmo assim, diz o engenheiro, isso tudo não basta para que as pessoas abram mão do conforto do carro. Segundo ele, a solução estaria mais próxima do modelo europeu, que cobra pelo uso excessivo do automóvel.

 

“A história nos mostrou que deve-se aumentar muito a qualidade do transporte público e restringir democraticamente o uso excessivo ou ambientalmente inadequado do transporte individual. É preciso fazer as duas coisas”, observou Vasconcellos.

 

Alternativas também viáveis para a questão da mobilidade urbana são o aumento do número de ciclofaixas e a valorização das caminhadas. Com o trabalho mais próximo de casa, isso se torna mais concreto para o paulistano: “Romper com a cidade radiocêntrica e criar uma nova polarização nas áreas periféricas para que a cidade se torne menos desigual”, foi a meta anunciada por Bonduki ao final da conferência.  

 

*Bruna Piazzi integra o Projeto Repórter do Futuro, organizado pela Oboré e Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) 


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