Em Curitiba, ciclovia da Linha Verde não cumpre sua função

Maioria dos usuários utiliza a via inaugurada há quatro anos como forma de lazer, e não para deslocamentos funcionais

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Fonte: Gazeta do Povo  |  Autor: Raphael Marchiori  |  Postado em: 26 de abril de 2013

Falta de continuidade no traçado da pista é um dos

Usuários reclamam da falta de continuidade na pista

créditos: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

 

Em maio de 2009, a Secretaria de Esporte e Lazer de Curitiba inaugurava o primeiro trecho da ciclovia da Linha Verde Sul.

 

À época, a escolha da pasta para o evento foi criticada por cicloativistas por demonstrar que a obra não pretendia integrar a bicicleta como modal de transporte. Passados quase quatro anos, as críticas agora parecem fazer sentido. No local, há apenas quem busca lazer ou faz pequenos trajetos e a maior parte dos ciclistas ainda prefere se arriscar em meio aos ônibus na canaleta.

 

Esse é caso de Emerson Lourenço, que leva 50 minutos pedalando entre a casa dele, no Pinheirinho, e o local onde trabalha, na Avenida das Torres, e diz evitar a ciclovia da Linha Verde. “Uso a canaleta porque é mais prática, pois você não precisa parar em semáforos e atravessar de um lado para o outro. Na ciclovia, eu levaria uns 20 minutos a mais”, afirma o vigia de 31 anos.

 

Exemplo de SP: projeto para destinar 10% das multas às ciclovias

A Câmara de São Paulo aprovou, em primeira sessão, um projeto que já anima cicloativistas de todo o país. O texto de autoria dos petistas Chico Macena e Nabil Bonduki tenta acrescentar um parágrafo ao Fundo Municipal de Desenvolvimento de Trânsito para destinar 10% da verba arrecada com multas de trânsito ao sistema cicloviário da capital paulista.

 

O projeto, de dezembro de 2010, foi aprovado na sessão do último dia 26 de março, mas ainda depende de segunda votação e da sanção do prefeito Fernando Haddad.

 

Para Jean Felipe Sirigate, membro da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu, um projeto como o paulista pode influenciar ações nas demais câmaras municipais do país. “A Câmara de São Paulo, muitas vezes, serve como referência para outras casas legislativas. Se o projeto for bacana, não requer esperar os resultados para implantá-lo aqui”, anima-se.

 

Já o arquiteto e urbanista Rafael Sindelar Barczak vê a ideia como uma forma de assegurar os recursos para o setor. “Trata-se de uma retroalimentação positiva. Como há cada vez mais carros, haverá mais infrações e mais recursos para o planejamento cicloviário. Hoje, vemos os órgãos municipais com o déficit grande de recursos para o planejamento cicloviário”.

 

Segundo o arquiteto e urbanista Rafael Sindelar Barczak, mestre em Gestão Urbana pela PUCPR, a ciclovia da Linha Verde pode ser entendida como um exemplo mal acabado do que hoje é a malha cicloviária de Curitiba. “Aquilo, na verdade, não é uma ciclovia. É uma circulação compartilhada – uma calçada com capa de asfalto – que não tem guia rebaixada na maior parte das intersecções e fica sem conexão em alguns pontos”, afirma.

 

A reestruturação da ciclovia da Linha Verde, que deve chegar a 18 km com a conclusão das obras no trecho norte da pista, faz parte de um plano de expansão da malha cicloviária na cidade. O projeto, que está sendo elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), promete nortear a construção de 300 km de espaços exclusivos para bicicletas e requalificar os 118 km já existentes.

 

“Queremos um plano de desenvolvimento para cada regional, elaborado a partir das opiniões das pessoas que usam as bicicletas. Queremos ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas para ter um sistema funcionando em toda a cidade”, diz Sérgio Pires, presidente do Ippuc.

 

Barczak apoia a iniciativa da atual gestão municipal, que descartou o Plano Diretor Cicloviário – documento da antiga administração municipal para o setor. “A cidade precisa de rotas ‘cicláveis’ voltadas ao trabalhador. As nossas ciclovias são voltadas ao lazer e ligam o ‘nada ao lugar nenhum’”, criticou o arquiteto.

 

Enquanto o novo plano cicloviário não sai do papel, porém, o primeiro projeto da prefeitura para o setor foi exatamente para promover o lazer. Batizado como Ciclolazer Curitiba, o percurso da Avenida Cândido de Abreu substitui o Circuito Ciclofaixa, rota criada em 2011 e que sofreu críticas de usuários por estar no lado errado das ruas (esquerdo e não o direito).

 

Moradores exaltam segurança de via em “ziguezague”

Encontrar ciclistas trafegando pela ciclovia da Linha Verde não é uma tarefa fácil. A maior parte deles está na canaleta da via – que por não contar com cruzamentos torna o deslocamento mais rápido, mas também muito mais perigoso. Mas há quem use a faixa exclusiva para bicicletas em momentos de lazer ou para realizar curtos deslocamentos.

 

O espaço, por exemplo, serve às necessidades da instrumentadora cirúrgica Roseli Bellon, 37 anos. No final da tarde da última quarta-feira, ela pedalava no ziguezague da pista. O desenho do circuito é um dos efeitos criticados por cicloativistas, mas divertia o filho dela, Luiz Manoel Sales de Souza, de 3 anos.

 

“Estou criando meu terceiro filho no Fanny [bairro vizinho da Linha Verde] e antes tínhamos de pedalar nas ruas, no meio de carros e ao lado de terrenos com mato alto. Agora, pedalo com segurança”, afirma.

 

Mesma segurança que atrai Jonatas Costa Aguiar, 19, usuário diário da ciclovia no trajeto entre a empresa na qual trabalha e sua casa. Ele, porém, faz ressalvas em relação à sua utilização. “Pedalo só 3 km. Por isso prefiro evitar a canaleta, que é muito perigosa”, afirma.

 

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