Dezenove de abril marca o Dia Mundial da Bicicleta, data pouco conhecida em homenagem a um dos transportes mais populares e elogiados quando se leva em conta a saúde e sustentabilidade da mobilidade urbana. No entanto, o Brasil ainda trabalha para adaptar sua realidade metropolitana para fazer deste meio uma alternativa viável de vida e locomoção.
Em Porto Alegre, o assunto está em alta. Faz parte da agenda da prefeitura de José Fortunati (PDT) a ampliação das ciclovias, projeto ligado à modernização da cidade para receber a Copa do Mundo. Novas faixas para ciclistas foram inauguradas nos últimos meses, mas ainda resta bastante a ser feito. Enquanto isso, muitos ciclistas precisam lidar com o desafio do tráfego em meio aos carros, situação que ainda inibe muitos amantes do veículo.
“Já faz dois anos que estou me movendo só com a bike mesmo, uma questão de mobilidade e uma questão também coletiva. Cara, com a bicicleta eu deixo de emitir gases, economizo também, e faço bem para o meu corpo”, conta Diego, estudante de musicoterapia. Ele adotou a bicicleta, mas sente ainda as dificuldades da escolha. “É muito difícil, porque tem poucas ciclovias, poucos lugares (para andar), e acho que o respeito, né: existe muito desrespeito da pessoa que está andando de carro.”
A prefeitura atual instalou às vésperas das eleições de outubro de 2012 o sistema público de bicicletas que permite a locação através de uma conta mensal. Os pontos de tomada e largada de bicicletas estão crescendo na cidade, reflexo da boa adoção da medida pela população.
André, bancário no centro da cidade, volta para casa de bicicleta algumas vezes por semana. No entanto, se a cultura da bicicleta já estivesse mais avançada, o hábito pudesse ser ampliado. “Ainda Porto Alegre carece de uma cultura de respeitar o usuário de bicicleta – tanto pelo pedestre como por quem usa automóvel”, avalia.
As bicicletas locáveis ampliam o uso da bicicleta como meio de transporte diário, mas muitos ainda sentem a insegurança das ruas e permanecem usuários de lazer do veículo das duas rodas. “Eu acho a ideia (de andar de bicicleta) genial, a partir do momento em que você visa a sustentabilidade, enfim, a melhoria do mundo, mas eu morro de medo”, desabafa Marina, nutricionista, que tomava chimarrão com uma amiga na Usina do Gasômetro.
Marina havia ido ao local de bicicleta, que estava depositada em cima da grama para aproveitar o pôr do sol do Guaíba. Era uma situação de lazer, ainda não parte constituinte de sua rotina diária por medo de histórias da violência que ainda existe na tênue encruzilhada entre o automobilismo e o ciclismo urbanos.
“Eu costumo andar pouco de bicicleta, mas gostaria de andar mais”, diz. “Um dos motivos é realmente que eu tenho medo, não me sinto segura. Tenho um caso de um amigo que já morreu atropelado de bicicleta uns anos atrás, agora tenho uma conhecida que bateram na bicicleta e caiu e quebrou o braço. Não sei. Eu gostaria de poder me sentir mais segura e andar mais, com certeza. Melhorar a qualidade de vida.”
Lisiane, auxiliar administrativa, passeava com o pequeno Henrique, que ainda ensaiava suas pedaladas com a ajuda das rodinhas no Gasômetro. Ela conta que gosta de incentivar o hábito como esporte e alternativa para uma vida saudável, mas ainda não se sente segura para encarar o trânsito. “Não ando no trânsito e não me sinto segura. Acho que tem que ter uns bons anos de prática, eu acho, para poder andar no trânsito, pelo menos por enquanto”, disse. “Mas acho que isso está mudando. Aos poucos, o pessoal está se conscientizando”.
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