Regiane de Lima de Souza, de 26 anos, mora em Rio Grande da Serra e trabalha como auxiliar de serviços gerais em Santo André. Todos os dias, ela precisa pegar o trem às 5h10 e ir até a estação andreense.
Ao chegar pega um ônibus até o terminal da Vila Luzita e faz integração em outra condução com destino ao bairro Represa para chegar ao condomínio onde começa o serviço às 7h. Ao todo, são pelo menos quatro horas dentro dos coletivos.
Assim como ela, uma em cada quatro pessoas demora pelo menos uma hora para chegar ao trabalho ou à escola. De acordo com pesquisa divulgada na quarta pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), 43% das pessoas gastam até meia hora por dia para chegar ao trabalho ou a escola, 27% precisam de mais de meia hora para fazer o percurso rotineiro, e 24% levam mais de uma hora por dia.
Ainda segundo o levantamento, os ônibus, micro-ônibus, vans, metrôs, trens, bondes e barcas são o principal meio de locomoção de 42% dos brasileiros.
O número sobe para 58% nas cidades com mais de 100 mil habitantes, o caso de seis cidades do ABCD. No entanto, poderia ser ainda maior se o sistema fosse mais eficiente, porque 25% da população deixam de usar os coletivos pela inexistência ou pela indisponibilidade nos horários necessários.
Para o professor de engenharia civil da Universidade FEI e mestre em transportes, Creso de Franco Peixoto, para aumentar esse índice as administrações precisam tirar os automóveis das ruas. “Falta oferta de transportes alternativos porque muitas cidades se recusam a colocar faixas exclusivas para ônibus. É preciso diminuir o espaço dos carros.Para incentivar outras formas, como o ciclismo, por exemplo.”
O estudo ainda mostrou que 34% da população tem o ônibus como principal meio de locomoção. Mas, que 24% vão a pé para seu destino e 16% de carro próprio. Os demais utilizam outros meios, como táxi, moto e bicicleta. O especialista, entretanto, fez um alerta para o fato dos índices serem nacionais.
“Quando olhamos para região sudeste percebemos que a situação é pior. No Brasil, são 4 habitantes por carro, mas em São Paulo são 1,6 por automóvel. Em São Caetano, o percentual chega a uma pessoa por carro. É uma evolução dramática”, explicou o professor.
Para 49% dos brasileiros, o sistema de transporte público no país deve melhorar nos próximos três anos. Peixoto, disse que como técnico não vê mudança para melhor nesse prazo e que a situação tende é piorar. “Não costumo ser pessimista, mas é a realidade. Se começarmos a mudar nosso pensamento agora, daqui quatro anos poderemos ver melhorias”, aposta o especialista.
Um dos usuários que fazem parte da metade que utiliza transportes públicos é Ricardo Marques Gutierrez, de 35 anos. O arquiteto e urbanista teria que pegar ônibus, trem e metrô para ir da sua casa em Santo André até o trabalho em São Paulo.
Para gastar menos dinheiro, ganhar tempo e ajudar a saúde e o meio ambiente ele começou a usar a bicicleta no primeiro trecho do caminho. “Comprei uma bicicleta elétrica e dobrável por R$ 2,9 mil. Agora não preciso mais esperar o ônibus e aproveito para me exercitar”, explicou.
Na opinião de Gutierrez, mais pessoas poderiam repetir a prática, mas a ausência de ciclovias. “Não existe respeito com o ciclista. É uma aventura disputar lugar com os carros. Homem até se arrisca, mas mulher dificilmente encara esse desafio”, criticou o profissional que também é professor universitário.
O ciclista também fez uma crítica ao horário de funcionamento do bicicletário da estação de trem da cidade. “Acho que deveria funcionar na mesma hora que os trens.” Hoje, o horário é das 6h às 22h.
Outro morador que usa bicicleta para ganhar tempo é Dejair Mendes, de 43 anos. O auxiliar de hidráulica demora 10 minutos para chegar à estação de trem, mas se vier de ônibus o percurso fica 20 minutos mais demorado.
“Já fui derrubado por falta de atenção de motorista. Se tivesse ciclovia na avenida dos Estados iria até o metrô Tamanduateí, mas sem é muito perigoso.”
Recrutadora explica que distância de trabalho só é levada em conta quando se trata de oportunidades operacionais e administrativas
O tempo de permanência em transportes públicos pode ser fator eliminatório de acordo com o tipo de vaga que se está buscando.
De acordo com Vanessa de Mello Roggeri Mariano, consultora de Recrutamento e Seleção da Ricardo Xavier Recursos Humanos, oportunidades para cargos específicos como na área de gestão e coordenação nas empresas o local de residência dos candidatos não é levado em conta. O mesmo acontece com cargos para área de engenharia e mineração.
Ainda segundo a recrutadora, o quadro muda quando se trata de posições administrativas e operacionais e as companhias passam a levar em conta a distância em que o candidato mora.
“Isso acontece devido aos custos com transporte e com o desgaste físico dos colaboradores. A permanência por muitas horas nos coletivos ou no carro pode comprometer o rendimento durante o expediente”, explicou.
A profissional também afirmou que é possível identificar uma mudança de comportamento das empresas atualmente.
“Nós costumamos orientar nossos clientes a verificarem o aspecto comportamental antes das condições geográficas. Porque normalmente pessoas que buscam oportunidades longe de casa querem desenvolvimento profissional e tendem a ser mais comprometidas. Não é porque o candidato mora perto que ele será comprometido.”