Eleito prefeito de Porto Alegre em primeiro turno, com 65,2% dos votos válidos, José Fortunati (PDT) completa 100 dias de mandato nesta quarta-feira (10). Em meio à preparação para a Copa do Mundo de 2014, uma das bandeiras que o alçaram ao Paço Municipal, e com a cidade transformada em canteiro de obras, o prefeito avaliou o início da nova gestão, falou de planos para a capital e avaliou as recentes manifestações populares que terminaram com a redução da passagem de ônibus.
"As manifestações a que assistimos, especialmente as motivadas pelo reajuste das tarifas de transporte, devem ser encaradas com normalidade e avaliadas corretamente nas suas causas e nos seus desdobramentos", avaliou.
A seguir, trechos da entrevista concedida ao G1, na qual o prefeito falou que o atual período é de "construção" do novo governo e que prefere não dar nota a seu mandato neste momento. "Vou deixar que a cidade dê a nota após avaliar nossos quatro anos de gestão", afirmou em entrevista condedida por e-mail, em razão da agenda apertada desta semana.
Como o senhor avalia os 100 primeiros dias do mandato à frente da Prefeitura de Porto Alegre?
José Fortunati: Foram dias de muito trabalho, de reestruturação e de preparação do governo para enfrentar os desafios e atender aos anseios e necessidades que a cidade apresenta. Alteramos consideravelmente a estrutura da Prefeitura e implantamos uma nova etapa de nosso modelo de gestão, sempre com o objetivo de preparar a cidade para o futuro, ampliar a participação dos cidadãos e de fazer aquilo que deve ser a obrigação de qualquer Prefeitura, prestar bons serviços. Como em qualquer governo que altera sua composição e estrutura, enfrentamos algumas dificuldades neste período, sempre buscando solucioná-los com total transparência, sem demagogia ou com falsas expectativas. Mesmo sendo uma etapa de estruturação e de preparação, continuamos modernizando a cidade com grandes obras de infraestrutura, como as de mobilidade e o Projeto Integrado Socioamebiental (Pisa), que se encontra em sua etapa final de implantação. Mas não e só com grandes obras que Porto Alegre se prepara para o futuro. Obras sociais, de máxima importância, como o avanço da informatização da saúde e a abertura de 600 novas vagas na educação infantil também são ações concretas deste período. Tenho convicção que preparamos as bases para que a cidade siga crescendo com sustentabilidade, projetando o futuro, mas cuidando do dia a dia do cidadão.
Qual está sendo o maior desafio de sua nova gestão?
São grandes desafios. Entre eles, promover a qualificação na prestação dos serviços públicos, modernizando a máquina pública; aproximar o governo das comunidades, fomentando cada vez mais a participação democrática e preparar a cidade para um novo patamar de desenvolvimento. Esses são os pilares em que se baseia o Contrato de Gestão firmado com cada uma das secretarias municipais e que, acreditamos, serão muito importantes para o futuro da cidade.
Na sua opinião, qual é o maior problema de Porto Alegre atualmente e o que a prefeitura está fazendo para resolvê-lo?
Como todas as grandes metrópoles, Porto Alegre sofre com os problemas de mobilidade urbana e neste sentido estamos realizando, no horizonte da Copa do Mundo, 14 grandes obras que servirão para minorar os problemas que estamos enfrentando, ficando como legado para a cidade. Além disso, temos um investimento permanente na melhoria do transporte público, vêm aí os BRTs (Bus Rapid Transit), incentivamos iniciativas como o transporte pelo Guaíba unindo o Centro à Zona Sul e ampliamos a rede de ciclovias, além de outras ações relacionadas à consolidação da bicicleta como novo modal de transporte. Outros desafios importantes estão na área da saúde, buscando qualificar e agilizar o atendimento ao cidadão, na educação, com a ampliação da educação em tempo integral e as vagas nas creches e nas questões de segurança pública, embora sejam responsabilidade do governo do estado. Temos, hoje, um dos mais modernos Centros de Comando (Ceic) da América Latina, com mais de 300 câmeras monitorando a cidade.
Como o senhor avalia as manifestações populares nos assuntos da cidade? Recentemente, houve o protesto pelo valor das passagens e também sobre o corte de árvores na região da Beira-Rio. O que isso acrescenta à sociedade porto-alegrense e o que afeta o trabalho da prefeitura?
Porto Alegre tem uma tradição de participação popular na definição das políticas públicas. Somos pioneiros, por exemplo, nos movimentos pela preservação ambiental. Aqui o Orçamento Participativo encontrou terreno fértil para projetar a cidade mundo a fora como autêntica capital mundial da democracia participativa. Por isso, as manifestações que assistimos, especialmente as motivadas pelo reajuste das tarifas de transporte, fazem parte desse contexto e devem ser encaradas com normalidade e avaliadas corretamente nas suas causas e nos seus desdobramentos. Tenho um histórico de participação nos movimentos sociais, como ex-dirigente sindical, por isso estou à vontade nessa análise. Importante que se diga que tanto na questão do reajuste do transporte como no caso das árvores, o governo agiu absolutamente dentro da lei. Isso é fato, como é fato também que respeitamos todo tipo de manifestação, desde que feita de maneira pacífica.
Quais são os próximos passos da Prefeitura em relação à tarifa de ônibus?
Estamos trabalhando para rever a Planilha dos Custos da Tarifa de ônibus desde o final do ano passado. Abrimos um importante debate sobre o número de isenções no transporte coletivo de Porto Alegre, que hoje chega a 33% dos usuários, e estamos em fase adiantada do processo de licitação de todo o sistema de transporte coletivo da cidade, que deverá ocorrer até o final de 2013.
Desde o início do processo da decisão do reajuste das tarifas deste ano houve, como sempre, a preocupação do poder público de trabalhar sob o ponto de vista legal, bem como seguir as orientações do Tribunal de Contas e as determinações do Conselho Municipal de Transportes. Se a Justiça entendeu que o caminho era de suspender o reajuste nós acatamos a decisão judicial. Agora é ela quem deve dar prosseguimento.
O sistema TRI e as tarifas integradas podem ser afetadas com uma possível revisão das gratuidades no transporte público?
Não. O TRI é um sistema moderno, seguro, que diminui a circulação de dinheiro nos coletivos, inibindo fraudes e assaltos. Quanto à revisão das gratuidades, acreditamos que deva ser feita, hoje de cada 3 usuários de ônibus, um não paga passagem, isso sobrecarrega o sistema. A análise será feita de forma transparente, como são os atos da Prefeitura, e com a participação da sociedade civil. Além disso, propomos que seja feito um estudo técnico sobre a planilha de custos do transporte em vigor, que, é importante que se reafirme, obedece à lei vigente.
Qual é o principal gargalo na infraestrutura da cidade para receber o Mundial? Como resolver?
Costumo dizer que para a Copa acontecer é preciso dois itens qualificados, aeroporto e estádio. Por isso, as obras que a cidade está realizando têm o pretexto da Copa, mas são, verdadeiramente, uma preparação da cidade para o futuro.
Qual é, na sua opinião, a obra viária mais importante em execução neste momento em Porto Alegre? Por quê? Que tipo de reflexo trará para a cidade?
Como disse, grandes obras de mobilidade estão em execução, entre elas a duplicação da Avenida Tronco, que vai garantir uma nova ligação entre a região central e a Zona Sul da cidade. Mais do que isso, garantirá uma vida mais digna para mais de 1,4 mil famílias. Importante também é o Projeto Integrado Socioambiental (Pisa), que está em fase de conclusão e que vai ampliar, junto com o Sistema de Esgotamento Sanitário Sarandi, de 27% para 80%, a capacidade de tratamento de esgotos e contribuir para devolver a balneabilidade ao Guaiba.
Como o senhor avalia o sistema de aluguel de bicicletas até o momento? É possível identificar uma mudança de comportamento no porto-alegrense?
Tem sido o maior sucesso, não esperávamos que fosse atrair tantas pessoas em pouco tempo, por isso estamos ampliando. Instalamos mais três estações do BikePoa, totalizando 20 estações e 200 bicicletas; até o final de abril serão 40 estações e 400 bicicletas.
Qual é o legado que o senhor quer deixar para a cidade ao final de seu mandato?
Uma cidade melhor pra se viver. Com mais qualidade de vida, melhores serviços públicos e agilidade nos processos da prefeitura. Uma Porto Alegre melhor para todos.