Philip Kotler, no livro Marketing 3.0 – As Forças que Estão Definindo o Novo Marketing Centrado no Ser Humano, nos diz que “hoje, estamos testemunhando o surgimento da era voltada para os valores”.
Isto significa que nesta era em que estamos vivendo, a dos valores, as pessoas estão em busca não apenas de satisfação funcional e emocional, mas também de satisfação espiritual, nos produtos e serviços que escolhem.
Aplicando para o setor de transportes, podemos dizer que os nossos clientes e usuários não querem apenas que o meio de transporte (ônibus ou o trem) esteja funcionando bem e limpo, e que o cartão eletrônico esteja passando direitinho no validador, o que Kotler chama de “satisfação funcional”. Eles almejam acima de tudo “satisfação espiritual”, isto é, querem ser tratados como seres humanos, com mente, coração e espírito.
Stephen R. Covey no livro O 8º Hábito – Da Eficácia à Grandeza, corrobora com este pensamento dizendo que “estamos testemunhando uma das mais significativas mudanças da História,…..Essa transformação implica em não mais enxergar as pessoas como objetos, mas passar a considerá-las completas, feitas das quatro partes extraordinárias de nossa natureza: corpo, mente, emoções e espírito”.
E estes seres humanos, com mente, coração e espírito, estão cada vez mais preocupados com o que está acontecendo dos portões para dentro das respectivas garagens, pátios, terminais ou estações.
Em outras palavras, estão querendo saber se o serviço, que visa à mobilidade urbana, está sendo praticado com sustentabilidade, dentre outras coisas. Por que na era dos valores, não basta ser bom para o “consumidor”, tem que ser bom para a cidade, para o planeta e para a vida em coletividade.
É importante salientar que nem sempre “valores” esteve no centro das atenções da humanidade.
Mercadologicamente falando, vivemos até 1990 sob a era do PRODUTO, ondecoisas eram mais importantes que pessoas. Uma frase que resume bem o espírito da época do produto é a de Henry Ford: “O cliente pode ter o carro da cor que quiser, desde que seja preto.”
Na era do produto as empresas de transportes eram avaliadas e mediadas pela quantidade de veículos que tinham.
O fato é que a maioria das empresas do nosso setor nasceu baixo esta era, e isto explica o grande apego que temos, até hoje, pelo produto “ônibus / trem”.
Como sabemos a era do produto passou, e, a partir de 1990 vimos o surgimento da era do CLIENTE, onde o foco agora deixa de estar nas coisas e se volta para aspessoas.
As empresas de transportes, na era do cliente, deixaram de ser avaliadas e mediadas pela quantidade de veículos nas garagens ou nos pátios, e sim pela quantidade de pessoas transportadas.
Nesta era satisfazer os desejos do consumidor se tornou o mais importante desafio. Se o cliente queria algo, a indústria de bens de consumo ou de serviços se desdobrava para procurar satisfazê-lo. A palavra de ordem era: “quem manda é o cliente”.
Peter Drucker descreveu bem esta época, com a frase: “Não é a empresa que define o mercado. É o cliente.”
No entanto a maiorias das empresas, e dos marqueteiros, pensam que ainda estamos vivendo na era do cliente.
Kotler sugere no Livro Marketing 3.0, que a partir de 2005 (no Brasil a partir de 2010) começamos a presenciar o surgimento de uma nova era, onde “valores”, que nunca fez parte da equação, se torna agora o centro da questão.
De acordo com este autor, na era voltada para os valores, em vez de tratar as pessoas simplesmente como consumidoras devemos tratá-las como seres humanos plenos: com mente, coração e espírito.
Portanto, hoje se o cliente quiser algo que não for bom para os demais, não for bom para cidade e não for bom para o planeta, NÃO VALE MAIS.
Mas antes valia!
O Prêmio Nobel da Paz Muhammad Yunus, a despeito de não ser um especialista em transportes, trás em seu livro Um mundo sem pobreza uma interessante observação sobre o comportamento da indústria automobilística durante a era do CLIENTE:
“Durante a década de 1990 e no início do novo século, as empresas automotivas americanas produziam gigantescos veículos utilitários esportivos (SUVs), que exigem recursos enormes para serem fabricados, usam grande quantidade de combustível e poluem muito. Mas esses veículos são muito populares – e muito lucrativos -, e os fabricantes de automóveis continuam a fabricá-los e vendê-los aos milhões. Os SUVs são ruins para a sociedade, para o meio ambiente e para o mundo, mas a meta fundamental das grandes fabricantes de automóveis é obter lucro – assim, continuam a fazer algo muito irresponsável socialmente”.
Pois bem, atitudes como esta da indústria automobilística descrita pelo Professor Yunus, que eram comuns na era do cliente, hoje na era dos valores, são encaradas como algo muito irresponsável socialmente.
Reforçando o que já foi dito anteriormente, hoje se o cliente quiser algo que não for bom para os demais, não for bom para cidade e não for bom para o planeta, não vale mais. Pois na era dos valores os consumidores locais se tornaramcidadãos globais.
Cada vez mais, os consumidores estão em busca de soluções para satisfazer seu anseio de transformar o mundo globalizado em um mundo melhor.
Em um mundo confuso, eles buscam empresas que tenham em sua missão, visão e valores a preocupação com a justiça social, econômica e ambiental.
A era dos valores, portanto, abre para o setor de transportes de passageiros um leque de oportunidades.
Uma prova disto é a OIT – Organização Internacional do Trabalho, considerar a função “Motorista de Ônibus” como profissão ecológica ou verde. De acordo com a OIT, os transportes coletivos além de combaterem a poluição do ar, geram empregos formais, renda e impostos que financiam o desenvolvimento sustentável.
Analisando sob o aspecto mercadológico, podemos dizer que nunca houve um tempo tão propício para a promoção do transporte coletivo como agora, porque o transporte coletivo contribui para a mobilidade urbana, para as cidades ser tornarem mais sustentáveis e para o planeta respirar melhor.
Isto é VALOR.
Conclusão
Peter Druker, um dos papas da administração moderna, se refere a esta era como a Era da Sabedoria.
O professor Gil Giardelli no livro Você é o que Você Compartilha, diz que aquele antigo conceito de Marketing dos Ps (produto, preço, etc.) que tanto estudamos, mudou. Agora é P de planeta e pessoas.
Não estamos vivendo apenas uma mudança de época e sim uma época de grandes mudanças.
Bibliografia
Covey, S. R. (2005). O 8º Hábito. Da Eficácia a Grandeza. Rio de Janeiro: Editora Best Seller.
Drucker, P. (2000). Managing Knowledge Means Managing Oneself (pg. 8-10).
Leader to Leader – 16 (primavera 2000).
Giardelli, G. (2012). Você ó o que você compartilha. São Paulo: Editora Gente.
Kotler, P. (2010). Marketing 3.0 – As Forças que Estão Definindo o Novo Marketing Centrado no Ser Humano. Rio de Janeiro: Elsevier Editora.
Yunus, M. (2010). Um mundo sem pobreza. São Paulo: Editora Ática.
*Roberto Sganzerla é especialista em Marketing em Transportes, mestrando em Liderança pela Andrews University – Berrien Springs, MI – USA. Tem MBA em Gestão de Negócios e Liderança e Pós-Graduação em Marketing.