Fernando Haddad, o novo prefeito, e os novos vereadores de São Paulo estão assumindo seus cargos no momento em que a maioria da população da cidade se queixa da baixa qualidade de vida e tem pouquíssima confiança na polícia, na Câmara Municipal e na prefeitura.
A pesquisa Irbem (Indicadores de Referência para o Bem-Estar no Município), realizada por iniciativa da Rede Nossa São Paulo, mostra que o paulistano está bastante insatisfeito com 82% dos 169 itens pesquisados em 25 áreas.
A seleção dos itens e áreas se deu por meio de uma ampla consulta à população, em que aproximadamente 40 mil pessoas de diversas classes sociais escolheram os aspectos prioritários para sua qualidade de vida.
Responderam não se sentir seguros em São Paulo 91%. A insatisfação chega ao ponto de 56% declararem que mudariam de cidade se pudessem. A pesquisa está, na íntegra, no site www.nossasaopaulo.org.br.
Esse descontentamento tem suas razões: 1,3 milhões de pessoas vivem em favelas. O paulistano passa, em média, duas horas e 23 minutos por dia no trânsito, espera 66 dias para ser atendido em consulta médica, 86 dias para fazer exames clínicos e 178 dias para conseguir procedimentos mais complexos.
Dos 96 distritos, 45 não têm sequer uma biblioteca, 59 não oferecem um centro cultural, em 59 não há cinema, 71 não abrigam museus, 52 não têm sala de show e concerto e 54 não oferecem teatro a seus moradores.
Em São Paulo, 56 distritos não têm uma unidade com equipamentos públicos de esporte. As pessoas são obrigadas a percorrer enormes distâncias para satisfazer seus interesses: em 38 distritos, não é possível encontrar um parque.
A desigualdade entre os indicadores das poucas regiões mais ricas e das mais pobres chega a centenas e até milhares de vezes. Cento e setenta mil crianças estão sem creche.
Por obrigação legal, o prefeito tem que apresentar até o dia 31 de março um plano de metas para a sua gestão. Ou seja, deve explicitar como pretende deixar a cidade no final do seu mandato e apontar os caminhos para isso. Essas metas precisam objetivar a reversão desse quadro de insatisfação e colocar a cidade no rumo do desenvolvimento sustentável, oferecendo qualidade de vida para todos.
Para isso, é necessário melhorar substancialmente a mobilidade e a qualidade dos serviços e equipamentos públicos, diminuir a desigualdade, descentralizar a gestão, dando mais autonomia e oferecendo mais participação para a população nas subprefeituras.
É imprescindível que o poder público mantenha, em todos os distritos, um mínimo de serviços e equipamentos públicos, diminua o deficit habitacional e coloque todas as crianças em creches e escolas de boa qualidade. E, em parceria com os governos estadual e federal, combata a violência na cidade.
A pesquisa Irbem revela que 69% da população não confiam nos vereadores e 59% não confiam na prefeitura. Recuperar a confiança é fundamental. Uma gestão pautada pela transparência e pela ética, que combata a desigualdade e a violência, que promova o desenvolvimento sustentável e a participação da sociedade, é o que pode fazer os paulistanos viverem com bem-estar, segurança e confiança nas instituições públicas.
*ODED GRAJEW, 68, empresário, é coordenador da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos. É idealizador do Fórum Social Mundial