Nesta quinta-feira (17), durante a apresentação dos resultados da pesquisa Ibope sobre a percepção do paulistano em relação à cidade, o secretário da ONG Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinzini, terminou seu discurso com as seguintes palavras:
"Afinal, vamos ver uma São Paulo caminhando rumo ao desenvolvimento sustentável? Porque nossa expectativa é que o novo prefeito torne realidade suas propostas de campanha, e vá além. O que queremos é audácia nesta administração. Só assim vamos conseguir realizar os desafios hoje aqui expostos sob a forma de um plano de metas", afirmou.
A pesquisa da Rede Nossa São Paulo mostra que a insatisfação da população é a maior já apurada, em comparação às três edições anteriores. A versão atual do Irbem - Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município revelou que a sensação dos moradores piorou em todas as áreas analisadas.
Os dados da cidade de São Paulo são no mínimo escandalosos: 160 mil crianças sem creche, 1.300.000 favelas, desigualdade social altíssima, dois meses para marcar uma consulta médica na rede de saúde pública, só 1% do lixo reciclado, quase metade da cidade sem equipamentos culturais e serviços públicos.
A confiança nas instituições anda baixíssima: 56% dos dos 1.512 entrevistados dizem querer deixar São Paulo, o medo da violência é crescente e quanto à mobilidade urbana, na pesquisa anterior a nota tinha sido 4.4 (abaixo da média de 5.5), e na atual a queda foi ainda maior, ficando em 3.8. Isso, mesmo considerando que houve fatores considerados positivos, como a campanha de respeito à faixa de pedestre e a construção de faixas para bicicletas.
Fernando Haddad
Ao final do evento, que ocorreu no auditório Sesc Anchieta, na região central, o prefeito Fernando Haddad discursou. Mas, se a expectativa era para respostas objetivas e claras, com propostas de ação para o período de início da gestão ou pelo menos alguma palavra sobre como a autoridade pretende atacar os graves problemas levantados, o tom do discurso optou pela generalidade. E por pedidos de compreensão da população para as limitações do poder público frente as restrições orçamentárias. Nenhuma audácia, portanto, como se esperava.
Haddad não se furtou às justificativas e manifestou boas intenções, ao dizer: "Para fazer, não basta ter recursos, o que aliás já faltam - temos por exemplo que honrar contratos bilionários com prestadores de serviços... São Paulo precisa saber que não existe espaço orçamentário para investimento - para se ter ideia, o Rio de Janeiro conta com o dobro para investir. Então, governar, cumprir as metas, vira uma obra de grande engenho", explicou o chefe do executivo. E citou a necessidade de firmar parcerias com governos, com a iniciativa privada. O único caminho, prometeu Haddad, será manter o diálogo com a população: "É preciso uma batalha de comunicação para explicar à sociedade as limitações por que passa a administração, dizer o que está emperrando. E fóruns como este permitem reunir a inteligência que participará das soluções", afirmou o prefeito.