É preciso ver a calçada como espaço mais importante da cidade

O que é mais importante para a cidade: a calçada ou a rua?

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Fonte: Folha de S. Paulo  |  Autor: Fernando Serapião*  |  Postado em: 11 de janeiro de 2013

Calçada em São Paulo

Calçada no bairro da Luz, em SP

créditos: Arquivo Mobilize

 

Desde o tempo em que, por segurança, foi necessário segregar pedestres e veículos, o pódio cabe à calçada.

 

Trata-se do espaço democrático onde ocorrem as relações humanas públicas. Ali, o cidadão caminha em velocidade civilizada, olha nos olhos do outro, observa árvores e vitrines.

 

As melhores cidades do mundo são aquelas onde diferentes classes sociais caminham juntas. Isso implica manter ao alcance de quem caminha as principais necessidades e calçadas contínuas, que deem uma ideia de ambiente público uno.

 

Infelizmente, isso não ocorre em São Paulo. A prioridade é da rua, ou seja, dos veículos --o governo cuida do asfalto e renega a calçada.

 

A calçada paulistana sempre foi privatizada. A responsabilidade da construção e manutenção é dos proprietários. Arquitetos talentosos estenderam o piso para o ambiente particular --caso exemplar do Conjunto Nacional, na avenida Paulista.

 

Mas, afinal, o que era valorizado? O espaço público, que invadia o privado, ou o privado, que adentrava o público?

 

No restante da cidade, reinou o caos: falta de padrão no piso e no mobiliário urbano. Se isso ocorreu entre ricos, a barbárie da periferia leva o caminhar para rua.

 

Na gestão Serra, um decreto criou o padrão com divisões de faixas para pedestres e vegetação, mas deixou para o proprietário a escolha entre quatro materiais. Se desse certo, essa ideia torta levaria décadas para florescer.

 

Em paralelo, iniciativas públicas e privadas construíram trechos com padrão regular. Exemplo dos comerciantes das ruas Oscar Freire e Clodomiro Amazonas e do governo, quando reformou as avenidas 9 de Julho e Rebouças (na gestão Marta), a rua Augusta e a avenida Paulista (gestão Kassab). 


O governo deve assumir o problema. A questão é chave: enquanto não existir a percepção de que a calçada é o espaço público mais importante da cidade, São Paulo não será um bom lugar para se morar.


*Fernando Serapião é crítico de arquitetura e editor da revista "Monolito"



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Comentários

Roberto - 17 de Janeiro de 2013 às 21:52 Positivo 0 Negativo 0

Repare que em cidades como Londres, Paris, Barcelona e Nova Iorque nao existem tantas entradas/saídas como nas calçadas de SP.

Roberto - 17 de Janeiro de 2013 às 21:51 Positivo 0 Negativo 0

Belo texto.  Concordo com o fato do foco ser a Rua.  Pior ainda quando temos calçadas com tantas entradas/saídas de carros... aí a calçada é adaptada para o veículo e não para o bem estar do pedestre.  Alias, o Pedestre que se vire!

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