Aventura e perigo em calçada

Para andar por uma das principais vias no Centro do Recife, é preciso driblar lixo, esgoto, camelôs, buracos e gente apressada

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Fonte: JC Online  |  Autor: Da redação  |  Postado em: 22 de novembro de 2012

Calçadas em más condições

Calçadas em más condições

créditos: Bernardo Soares/JC Imagem

 

Passear nas calçadas da Rua do Hospício, uma das principais artérias do Centro do Recife, é aventurar-se entre sacões de lixos, esgoto que vaza, desníveis no piso, camelôs, buracos, barracas, estandes e corpos apressados. São 900 metros de história e perigo, onde passear olhando para o Parque 13 de Maio pode terminar em uma torção no pé; onde chegar à Igreja Matriz Boa Vista, no fim da via, sem tropeçar, precisar invadir a rua ou fazer alguma acrobacia é uma proeza. “Caminhar aqui é esporte radical”, brinca com olhos tristes o lojista Fernando Maranhão.

 

Há apenas oito meses, o portal de mobilidade urbana sustentável Mobilize Brasil a elegeu a pior da capital pernambucana para circular. De lá pra cá, esperava-se que houvesse melhorias. Continua-se esperando. “Nem sei quantos casos já vimos de mulheres que torcem os pés e de idosas que precisam ser socorridas ali, nas imediações com a Rua do Riachuelo”, relata Roberto Lima, segurança da Farmácia do Homem Trabalhador. Se a situação pode ser infernizante para quem anda normalmente, ela é mesmo ultrajante às pessoas com necessidades especiais. “Alguém numa cadeira de rodas passa onde ali? Onde? Não passa!”, critica o camelô Antônio Junior, apontando para uma faixa de pedestre e o meio-fio na Rua do Hospício. Até quando deficientes físicos serão negligenciados nas obras públicas?”

 

 

Lúcio Marinho, vendedor da Loja da Fábrica, faz uma ressalva e elogia o trabalho da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb). “Costumam limpar a rua todo dia. A sujeira não acumula como acumulava no passado.” Contudo, é vísivel que a situação está longe do ideal. A questão envolve a educação do cidadão pernambucano nas ruas e a reversão de hábitos nocivos ao patrimônio público, como jogar nas calçadas copos plásticos, embalagens, latas e afins. Ao lado da loja de Lúcio, vê-se a lixeira vermelha, com selo da Emlurb, depredada.

 

A estudante Talita Aguiar vê erro de prioridades do poder público. “Tanto dinheiro para a Copa, mas para resolver a situação dessas calçadas e dos camelôs ninguém tem dinheiro, não é?”. A presença dos camelôs em alguns pontos da via foi regularizada pela prefeitura. Eles portam as carteiras de autorização especial para exercer a profissão, mas não têm destino definido na próxima gestão. “Vai entrar um novo prefeito. Não sei qual é a política dele e não sei o que esperar”, comenta o camelô Dimens do Nascimento.

 

A voz dos camelôs ecoa em uníssono quando a proposta em questão é a escolha de um novo camelódromo para onde eles seriam transferidos: precisa ser um lugar de referência, adequado e movimentado. É a única exigência. “Há mais de dois anos, a Prefeitura do Recife promete um espaço pra gente e até hoje não cumpriu. Ficamos no esquecimento”, reclama Tiago Miranda, outro camelô. “Até quando os camelôs vão disputar com os passantes as espremidas calçadas da Rua do Hospício, da Avenida Conde da Boa Vista e tantas outras ruas do Centro do Recife?”, questiona outro ambulante, que prefere não se identificar.

 

MAUS TRATOS

O urbanista Francisco Cunha, sócio fundador da TGI Consultoria em Gestão e integrante do Observatório do Recife, lamenta que um dos principais endereços da capital pernambucana nas décadas de 1950 a 1970 esteja praticamente às moscas. “Toda essa região deveria ser tratada exemplarmente pela sua beleza e historicidade. Mas hoje, a Rua do Hospício – desde o Parque 13 de Maio à Praça Maciel Pinheiro, passando pelo Instituto Arqueológico, o Teatro do Parque e a Igreja Matriz da Boa Vista – é capaz de levar o cidadão, com o perdão do trocadilho, ao hospício por toda a destruição e descaso”, observa. “Torçamos para que a próxima gestão (do novo prefeito, Geraldo Julio, que assume no dia 1º de janeiro) se aperceba desse abismo urbanístico” completa Francisco Cunha.

 

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