Capital com quase 2,5 milhões de habitantes, em Fortaleza a disputa por espaços no trânsito ocorre a olho nu, comprometendo, muitas vezes, a mobilidade urbana. Em meio ao tráfego caótico, uma infração é constante embora passe quase despercebida pela população: o desrespeito às faixas de pedestre.
Assim como a semaforização, as faixas de pedestres são para permitir uma travessia mais segura. Na cidade, existem 2.700 faixas de pedestres, sendo que 2.300 estão em cruzamentos semaforizados. De um total 639 semáforos, 64 deles são para pedestres e 55 se localizam em cruzamentos com estágio exclusivo para pedestres.
De acordo com informações da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC), mesmo quando os semáforos não possuem estes estágios, também ajudam na travessia, permitindo que esta seja realizada apenas se o foco ficar vermelho para os veículos de cada via.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, estacionar sobre a faixa destinada a pedestres é considerada infração grave e está prevista no artigo 181, com multa correspondente a um valor de R$ 127,00 e perda de cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Deixar de dar preferência a pedestre/veículo não motorizado na faixa a ele destinada é falha gravíssima, segundo o artigo 214.
Apesar de reconhecer que é comum o desrespeito às faixas de pedestres na Capital, o presidente da AMC, Ademar Gondim, garante que "mesmo vagarosamente, registramos um avanço, pois as pessoas estão se conscientizando da prioridade que deve ser dada ao pedestre".
Explica que a observância das normas de trânsito ocorre mais comumente em alguns pontos das cidade, citando como exemplo na Avenida Beira-Mar e em algumas vias do Centro da Cidade. "Alguns condutores simplesmente já param para as pessoas passarem", disse.
Condutor
Conforme o gestor, onde existe faixa sem semáforo, o condutor deve aguardar para travessia dos passantes; já onde tem semáforo, esse equipamento é determinante.
Ademar Gondim ressalta que o respeito a legislação no que se refere a sinalização horizontal tem motivado campanhas realizadas em parcerias entre Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e AMC. "Isso também ajuda a educar as pessoas acerca as normas do trânsito", ressaltou o gestor.
A mobilidade urbana, acessibilidades e a obediência as normas de trânsito nunca foram tão debatidos como na atualidade, envolvendo as pessoas em geral, entidades e organizações da sociedade, observou a psicóloga Ana Claudia Reis Sales, coordenadora Escola de Educação para o Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE).
Para ela, o desrespeito às faixas de pedestres e demais infrações estão intimamente relacionados com o processo educacional. "Faz-se necessário uma conscientização individual do real papel que temos neste trânsito, o quão poderemos fazê-lo mais seguro, para só assim, mudarmos o cenário que aí está", declarou Ana Claudia.
A Escola de Educação para o Trânsito do Detran-CE tem o objetivo de contribuir para essa conscientização, assegurou a psicóloga. Atendendo crianças de escolas públicas e privadas, nas faixas etárias de seis a 16 anos, de segunda a sexta-feira, com a proposta pedagógica de educar para a cidadania, a unidade orienta sobre os diversos papéis exercidos no trânsito da capital, sejam eles o pedestre, o passageiro, ciclista condutor, procurando, através da montagem de blocos cognitivos da cidade ideal. As visitas são agendadas. "Nossa meta é educar para um trânsito mais seguro. Nossa missão é promover cidadania".
Mudança
Ana Claudia destaca, ainda, que é preciso haver mudança de hábitos para população para que as leis sejam cumpridas. "No entanto, a mudança de atitude está dentro de nós mesmos, de dentro para fora, e não de fora para dentro" , destaca.
Inaugurada em 14 de maio de 2009, pela Escola de Educação para o Trânsito já passaram 45.709 crianças e adolescentes. A média de atendimento mensal de 1.550 entre alunos de escolas públicas e particulares.
ENQUETE
Por que não há respeito com as travessias?
"Não há consciência. Se os motoristas puderem, passam por cima do pedestre. Se fosse um povo educado não precisaria semáforo, bastaria levantar o braço para passar"
Leonardo Chaves - Comerciante
"A faixa de pedestre é para aumentar a segurança no trânsito da cidade, mas nem todo mundo obedece. O problema é que não há punição para o desrespeito"
Bárbara Braga - Fisioterapeuta