Copos, embalagem e sol
Tales Tadashi mora longe - no município de Poá, região metropolitana de São Paulo. Antes, já fora auxiliar tipográfico. Agora, sua rotina é embarcar todo dia bem cedo no transporte público e viajar até a região central da capital paulista, onde trabalha como ciclista de entregas há um ano e meio. Na firma, é só o tempo de ajeitar as encomendas na bike, pegar as orientações, os endereços, e sair pedalando assim que possível.
De feições levemente orientais e aparentando menos idade do que os seus 23 anos, o jovem é empregado em uma fornecedora de artigos descartáveis, copos e embalagens, condimentos, produtos de limpeza e itens variados para bares e restaurantes. Na Sonho Pronto Embalagens, que fica na rua Guaianazes, em Campos Elíseos, ele pega no batente às 8h e vai até as cinco da tarde.
Em geral, sai para fazer entregas no Brás ou na região da Tiradentes. A carga que carrega é mais leve?, perguntamos. Não mesmo, diz Tales: "Não levo apenas copos de plástico, coisas assim, mas também pacotes de sal de 10 kg, por exemplo... É cansativo".
Outra dificuldade que deve enfrentar é o trânsito, que não dá moleza à bicicleta, desabafa: "Talvez melhorasse se pusessem umas faixas para ciclistas", palpita.
Tiago, da quitanda
Faz dois anos que Tiago Oliveira saiu de sua cidade, Feira de Santana, na Bahia. Como já pedalava, explica o rapaz, aceitou o emprego que surgiu ao chegar a São Paulo, o de entregador com bicicleta numa quitanda da rua Frederico Abranches, bairro de Santa Cecília. Ele mora perto, e diz que é uma vantagem para quem começa cedo, às 6h da manhã.
Na sua bike, o jovem de 19 anos carrega caixas de laranja, limão, abacaxi, e também folhas, legumes e outras mercadorias.Tudo conduzido com cuidado e para ser entregue ainda pela manhã nos depósitos dos restaurantes da região do entorno. "Gosto de pedalar e sei que faz bem para a saúde. Mas é um trabalho muito cansativo - depois de algumas horas sinto dores nas pernas", queixa-se.
Explica que pedala todo dia, faça chuva ou faça sol, às vezes carregando pesados galões de água. Outra dificuldade é ter de lidar com as imprudências dos carros e motos. Em seguida, relativiza o problema: "As pessoas nas ruas quase sempre me tratam bem e no serviço não me falta nada". Mas Tiago tem um sonho secreto, o de voltar a estudar, assim que tiver condições: "Queria cursar administração", conta com um sorriso nos olhos.