Trabalhadores do pedal 3: jornais, revistas e bicicletas

Em sequência à série Trabalhadores do Pedal, revelamos hoje mais dois perfis: um entregador de cargas e um mecânico de bicicletas

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa  |  Postado em: 06 de novembro de 2012

Eric trabalha no centro de São Paulo

Eric trabalha no centro de São Paulo entregando jornais

créditos: Sofia Mattos


Jornais e revistas, de porta em porta 

Eric trabalha em uma empresa de logística e mora em Cidade Tiradentes, bairro do extremo leste de São Paulo. Chega às 7h ao trabalho, no centro da cidade, depois de enfrentar uma viagem de ônibus, a parte mais "pesada" de seu dia. Com uma bicicleta vermelha de carga ele sai pelas ruas centrais da cidade para entregar jornais, revistas e outros produtos. 

 

Jovem, quase menino, Eric não reclama do trabalho. Adora pedalar pelas ruas e nem sabe qual é o peso da carga que transporta nos dois compartimentos da bicicleta. Apenas sofre um pouco quando a encomenda é mais pesada, caso de televisores ou aparelhos de som, por exemplo.

 

Em dois meses de pedal, ele já deu uma topada com um carro, "por descuido", reconhece, mas nada sofreu. Como não teve qualquer treinamento para começar em seu trabalho, mantém os olhos bem abertos, um no caminho que tem de fazer e outro nos semáforos, carros e pedestres que disputam espaço nos cruzamentos paulistanos. 

Às vezes a bicicleta é que falha, por falta de manutenção. Daí o jeito é empurrar o veículo até sua base ou passar na bicicletaria do Ceará, na rua General Jardim.

 

Ceará Bike, um hospital de bicicletas

Silval Amâncio na verdade é pernambucano, da cidade de Terra Nova. Mas, logo que chegou à capital paulista, ganhou o apelido de "Ceará", que colou. E que batizou sua bicicletaria, na rua General Jardim, próximo à praça da República, especializada no conserto e manutenção das bikes cargueiras.

 

Parênteses: a maior parte destas bicicletarias está na área central de São Paulo. E é válido pensar que a topografia plana tenha levado os comerciantes locais a utilizarem mais o serviço de entrega por bicicleta, movimento que acabou atraindo as bicicletarias para veículos de carga, o que não se vê tanto nos bairros.

 

Mesmo no centro, não são muitas: fora a Ceará Bike, só há mais duas, num raio de menos de dois quilômetros. Poucos também são os mecânicos, diga-se, os experientes. Ceará lembra que este sempre foi o seu ofício: "Desde os 19 anos. O que sei fazer e o que gosto é ser mecânico de bicicleta".

 

Ele diz que está difícil também achar quem queira aprender este trabalho: ninguém fica, lamenta. Já para pilotar as bicicletas há muito mais gente disposta: "Os serviços de entrega geram muito emprego na cidade. Se desaparecessem, seria um desemprego grande por aí. No Nordeste já é diferente, a moto tomou o lugar da bicicleta", diz.

 

Ceará conhece bem a situação precária e os problemas que enfrentam os trabalhadores da bicicleta: "O salário é baixo, e as condições de trabalho são as piores possíveis. Falta muita coisa: mais ciclovias, que evitariam muitas mortes no trânsito. E o trânsito tem que mudar, para haver mais respeito ao ciclista".

 

Na bicicletaria, quase todo dia chegam para conserto cerca de cinco bicicletas; ou, aproximadamente 25 por semana. Muitas vezes, a bicicleta quebra por excesso de carga: "Ela suporta 50 kg, mas é comum carregarem o veículo muito acima do limite dessa capacidade. Já viu algumas bikes por aí tão cheias que o ciclista tem que dirigir olhando pelos lados?", comenta.

 

A bicicleta de carga até que não difere muito de uma comum, ensina o profissional, só não tem marcha e é mais reforçada no quadro, nas peças... tudo para que trabalhe direitinho. Quando quebra, em geral é porque puseram mais peso do que ela suporta. Sinval gosta de pedalar, mas sua rotina puxada impede que ele próprio faça uso das duas rodas: "Moro longe, em São Miguel Paulista. E trabalho direto, até no sábado faço outros serviços. Não dá o menor tempo para sair pedalando", lamenta.

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