A mobilidade nas cidades médias

Leia o artigo de José Luiz Portella, da Folha de S. Paulo

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Fonte: Folha de S. Paulo  |  Autor: José Luiz Portella Pereira*  |  Postado em: 19 de outubro de 2012

Obra realizada em São José do Rio Preto promete me

Obra realizada em São José promete melhorar o trânsito

créditos: Toninho Cury/Divulgação

 

Em São José do Rio Preto, cidade do oeste paulista com 400 mil habitantes, os usuários de carro pegam a rodovia Washington Luiz para atravessar a cidade escapando dos congestionamentos no centro.

 

Por conta de um semáforo, o acesso que leva à avenida Andaló e à Marginal começou a formar filas que avançavam pela rodovia, causando acidentes e desconforto. A solução encontrada foi prolongar o acesso em mais 100 metros, removendo parte da terra que margeava a estrada.

 

O alívio vai durar pouco. A solução vai dar em nada. Logo, logo, o aumento da frota vai esgotar o espaço de 180 metros. Uma hora, o barranco lateral acaba. E os carros voltam a se acumular perigosamente na rodovia.

 

Isso está acontecendo em dezenas de cidades brasileiras de porte médio. Há um enorme aumento das frotas de carros e motos e essas cidades não foram dimensionadas para isso. Geralmente têm um centro velho com vias estreitas, onde quase todo comércio se concentra.

 

Forma-se um nó no centro. A hora de uma cidade começar a planejar o transporte sobre trilhos é essa. Na verdade, esse já é um prazo fatal.

 

Para que as cidades brasileiras médias que estão crescendo junto com o desenvolvimento do Brasil não caiam no mesmo erro em que as grandes metrópoles incorreram, esse é o momento decisivo.

 

O plano de mobilidade, inicialmente criado para cidades com população acima de 500.000 habitantes, ficou mais rígido. Desde abril de 2012 atinge municípios com mais de 20.000 habitantes. Os com mais de 300.000, têm que pensar em operar corredores de ônibus e em trilhos. Pensar nos próximos 50 anos.

 

O Brasil possui mais de 60 cidades com população entre 300.000 e um milhão de habitantes.

 

São Paulo e Rio de Janeiro pagam um alto preço por começarem os seus metrôs e corredores muito tempo depois da hora. Em São Paulo, o metrô só rodou em 1974. Obra em cidade já urbanizada custa mais, é mais difícil e causa mais transtornos. O período de transição, quando a obra incomoda e o benefício ainda não chegou, é doloroso.

 

Rio Preto tem quase trinta cidades em volta. O aglomerado chega a 760 mil habitantes. Muita gente dessas cidades, além dos habitantes locais, trabalha em Rio Preto e faz os trajetos de ida e volta como a população da periferia de São Paulo.

 

A solução é a prioridade a transporte público de média e alta capacidade, acompanhada da restrição ao carro. E a ciclovias.

 

Muito mais fácil de ser equacionada nesse estágio.

 

Estamos perdendo a luta pela qualidade de vida nas cidades. As cidades vieram como forma de facilitar o ser humano a ganhar a vida de modo mais próspero. Foi uma brilhante solução, num certo momento.

 

Todo ganho é acompanhado de uma perda. A perda está sendo na qualidade de vida, todos já perceberam. Porém algo nos faz quase inertes ou meramente reativos.

 

Remover um barranco e aumentar em mais 100 metros um acesso para a fila não invadir a estrada é uma atitude paliativa. Defensiva. Empurrar com a barriga.

 

As cidades com mais de 300 000 habitantes têm que pensar grande.

 

O caminho é o trilho. As cidades médias, além de corredores de ônibus, precisam andar de trem.

O Brasil também.

 

 

José Luiz Portella

José Luiz Portella Pereira, 58, é engenheiro civil especializado em gerenciamento de projetos, orçamento público, transportes e tráfego. Foi secretário-executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes, secretário estadual dos Transportes Metropolitanos e de Serviços e Obras da Prefeitura de São Paulo e presidente da Fundação de Assistência ao Estudante. Formulou e implantou o Programa Alfabetização Solidária e implantou o 1º Programa Universidade Solidária. Escreve às quintas-feiras. Faz comentários no "RedeTVNews" e na rádio CBN.

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