Dessa vez o ciclista foi colhido por um ônibus que fazia a Linha PE-15-Afogados, da empresa Globo. O acidente aconteceu na avenida Cidade do Monteiro, uma bifurcação da avenida Beberibe que marca a continuação da 2ª Perimetral, no bairro do Porto da Madeira, na zona norte do Recife.
O ciclista, o ajudante de pedreiro Roberto Márcio da Silva, 32 anos, seguia para um trabalho na Avenida Caxangá, zona oeste da capital, e atravessava a via empurrando a bicicleta, quando foi pego pelo ônibus. O motorista do coletivo deixou a habilitação com um fiscal da empresa e fugiu do local. Parentes da vítima, revoltados com o acidente, denunciaram que o motorista só parou o ônibus porque os passageiros o obrigaram.
O atropelamento foi presenciado por um colega da vítima, um pedreiro, que garantiu que toda a culpa do acidente foi do motorista do ônibus. Ele disse que Roberto Márcio foi pego quando já subia o meio fio da rua, concluindo a travessia. O ônibus que provocou o atropelamento teria ultrapassado um outro coletivo que estava numa parada, sem respeitar o limite de velocidade de 40 km/h indicado, atingindo fortemente o ciclista. Roberto Márcio morreu na hora. As marcas de sangue ficaram na pista. A bicicleta virou um pedaço de ferro retorcido. O parabrisa do ônibus ficou destroçado com o impacto. A primeira informação era de que o ciclista estaria pedalando na contramão, mas ela foi negada por parentes e pelo amigo que presenciou o acidente.
Moradores da área afirmam que o número de ciclistas é grande e a maioria usa a bicicleta como meio de transporte porque não pode pagar pela passagem de ônibus para fazer os deslocamentos necessários. Era o caso do ajudante de pedreiro. Ele não tinha o dinheiro dos dois ônibus que teria que pegar para chegar à Avenida Caxangá. Até quando? Não dá mais para o poder público ignorar a demanda de trabalhadores que usam a bicicleta como meio de transporte. É preciso ampliar a pífia malha cicloviária da Região Metropolitana, que não passa de 40 km e, mesmo assim, é ruim, degradada e descontínua em quase sua totalidade.
Não dá mais para fechar os olhos a essa necessidade. Os ciclistas atropelados no domingo pedalavam por lazer e esporte – hábito que vem crescendo na cidade, graças a Deus – mas Roberto Márcio é mais um dos milhares de trabalhadores que usam a bicicleta para ter acesso à cidadania. Não usam capacete, roupas refletivas ou sinalizadores. Não têm, sequer, dinheiro para comprar uma bicicleta nova. O poder público precisa acordar. Todos. Não importa se prefeituras ou governo estadual. É chegada a hora de fazer pesquisas de origem e destino de ciclistas para saber exatamente quais as áreas que mais necessitam de ciclovias ou, ao menos, ciclofaixas. A demanda é grande. Números extraoficiais apontam que 11% da população no Nordeste usa a bicicleta para pedalar.
Leia também:
No Recife, ciclistas fazem protesto em favor das ciclofaixas
População quer bons acessos às estações do Metrô do Recife
O adeus à ciclovia na zona norte do Recife: Prioridade aos carros revolta ciclistas