Depois de São Paulo, Rio de Janeiro, Sorocaba (SP), Gramado (RS), Porto Alegre e Recife, no próximo sábado (22) a cidade de Campinas (SP) passa a contar com um novo sistema de compartilhamento de bicicletas. O lançamento oficial acontece às 9h, na Lagoa do Taquaral (avenida Heitor Penteado), portão 1, Segundo a prefeitura, o sistema de Campinas é o mesmo implantado há seis anos na cidade de Barcelona, o Bicing.
Inicialmente com duas estações no bairro de Taquaral, 200 bicicletas estão disponíveis para a população, mediante o pagamento de uma taxa anual de R$ 80,00 por ano. Uma vez cadastrado, o usuário pode utilizar as bikes todas as vezes que precisar por dia, mas com um intervalo de 15 minutos entre um uso e outro. No lançamento do projeto, os primeiros mil usuários que se cadastrarem contam com uma promoção e pagam R$ 6,00 por ano.
No dia 29 de setembro outras duas estações serão instaladas em Barão de Geraldo, finalizando esta primeira fase. Na segunda fase, em outubro e novembro, mais estações serão implantadas, e suas localizações serão determinadas por estudos que estão sendo realizados pela empresa operadora e pela prefeitura de Campinas. A expectativa é de chegar a seis mil bicicletas quando o sistema estiver completamente instalado na cidade.
Como garantia de segurança, a Brasil e Movimento conta com um sistema que monitora as estações através de câmeras instaladas conectadas com a central da própria empresa e com a Polícia Militar. Através dele, todos os movimentos das bicicletas, que contam com tecnologia GPS, são detectados, sendo possível identificar o percurso percorrido, a data e o responsável pela utilização de cada bicicleta.
Para a implantação do sistema no país, foi formada a Brasil e Movimento, empresa com participação de 50% da empresa brasileira Joie Investimentos e 50% da Movement, companhia espanhola responsável pelo transporte público de bicicletas nas cidades de Barcelona, Girona, Zaragoza (Espanha) e Punta Cana (República Dominicana).
Segundo o presidente da Brasil e Movimento, Renato Frison, este modelo de negócio visa promover o uso da bicicleta compartilhada dentro do conceito de mobilidade urbana sustentável, "gerando ganhos para a população, para cidade e para o meio ambiente", argumenta.
Segundo Frison, além de Campinas, outras cidades brasileiras estão em negociação com a Brasil e Movimento e a expectativa é de implantação do sistema em quatro cidades até dezembro de 2012, chegando a dez localidades até o final de 2013.
Críticas e riscos
Em entrevista ao portal G1, o urbanista Eugênio Queiroga (professor da PUC-Campinas e da Universidade de São Paulo) contesta a estratégia da prefeitura e defende que o projeto de bicicletas públicas é "esquizofrênico", já que deveria antes prever a implantação de ciclovias e propostas que integrem o sistema de transporte público como um todo. "O correto era a prefeitura ter um plano de mobilidade implantado antes e não ajustá-lo de acordo com os testes da iniciativa privada. O capital privado não pode nortear o sistema de transporte público", afirma.
O urbanista também faz um alerta sobre o risco de fracasso do projeto. "Existe o risco de se 'queimar' uma boa ideia, como ocorreu com o sistema VLT, que não tinha nenhuma conexão com o transporte público e não 'vingou'. Os projetos que acompanhamos atualmente em Campinas estão sendo implantados de forma isolada. Transporte é, por essência, uma ação que precisa, por antecedência, de um plano", diz Queiroga. A proposta de interligar as ciclovias e ciclofaixas com o Sistema InterCamp, transporte público coletivo municipal, consta no projeto da prefeitura, mas só deve estar concluído nos próximos cinco anos.
A experiência em Barcelona
O projeto instalado em Campinas é baseado no que foi desenvolvido em Barcelona, onde a Movement é a empresa responsável pela gestão que integra toda a operação, desde a manutenção das seis mil bicicletas e das 430 estações da cidade, logística de reposição nas estações, monitoramento via GPS até o atendimento ao usuário via Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). Barcelona conta com 180 mil usuários registrados e a média de utilização é de dois a três quilômetros num tempo médio de 17 minutos.
Com a implantação do sistem, a cidade de Barcelona ampliou de 90 para 201 km a extensão de ciclovias, em função da adesão da população. O valor atualmente pago pelos habitantes é de 45 euros por ano para trajetos de 30 minutos, sendo o excedente a este tempo cobrado a cada fração de 30 minutos e com um tempo máximo de duas horas de uso das bicicletas. Caso haja uma utilização maior, o usuário recebe uma penalidade, e a cada três penalidades, o usuário é excluído do sistema. "Isso porque o propósito é a mobilidade urbana e numa cidade turística como Barcelona, era necessário ter esta restrição", informa o CEO da Movement.
Quando o sistema entrou em operação em Barcelona, em 2007, a expectativa era de uma implantação progressiva num período de dois anos, para chegar a 400 estações e seis mil bicicletas, num total de 80 mil usuários cadastrados. Entretanto, ao final de um ano, já existiam 100 mil habitantes cadastrados. Apenas em 2011, o transporte público de bicicleta foi utilizado 14 milhões de vezes pela população da cidade.
Alguns benefícios gerados em Barcelona com a implantação Bicing em Barcelona*
- 36 milhões de deslocamentos em distâncias médias de três quilômetros
- 108 milhões de quilômetros percorridos
- Este mesmo transporte feito por carro consumiria 10 milhões de litros de combustível, com geração de 27 milhões de quilos de CO2 na atmosfera
- A utilização de bicicletas como transporte público em Barcelona equivale a um
valor de 351 mil euros no comércio de crédito de carbono
- A prevenção de saúde na cidade em função do uso da bicicleta por seus habitantes é estimada em 621 mil euros
- Os deslocamentos por carro geram cinco vezes mais custos que o realizado por bicicletas
- O transporte público de bicicleta gera uma economia de 1 milhão de euros à cidade
* Fonte: Município de Barcelona
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