Eduardo Emmerick é uma daquelas pessoas que acreditam que podem mudar o mundo, ou pelo menos a cidade onde vivem. Professor de Filosofia em uma grande rede de colégios particulares de Curitiba, ele dedica todo o seu tempo livre para ensinar o que sabe a pupilos de todas as idades e classes sociais. Fora das salas de aula, suas lições não são sobre Platão, Kant ou Nietzsche, mas envolvem guidão, selim e pedais. É ensinando, de graça, ciclistas novatos a pedalar pelo trânsito curitibano que Emmerick conseguiu realizar seu desejo de contribuir para a transformação da realidade.
A brincadeira começou em 2010, quando o rapaz de 30 anos elevou a sua bicicleta do status de “lazer” para “meio de transporte”. Cursando Filosofia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emmerick ia para as aulas pedalando pelo Calçadão da Rua XV de Novembro, até que foi parado por um guarda municipal que lhe explicou ser proibido transitar por ali montado na magrela. “Primeiro fiquei um tempo sem andar de bicicleta, porque era perigoso, depois me dei de presente uma bicicleta melhor e comecei a enfrentar as ruas da cidade com mais dois colegas”, conta.
Os três começaram a tirar fotos e colocar nas redes sociais e as pessoas começaram a se interessar pela “brincadeira”. Quando viu, ele estava dando dicas para quem desejava pedalar com segurança. “Já que as pessoas estavam a fim de aprender e eu conhecia um pouco a cidade, resolvi dar um treinamento e montei o Bike Curitiba, em abril deste ano”, diz o professor.
Assim como Sócrates preferia os espaços públicos de Atenas para debater e dialogar sobre filosofia, Emmerick escolheu a Praça da Espanha, no bairro Batel, para o seu trabalho voluntário. As aulas são realizadas aos sábados, a partir das 14h30, e se dividem em duas partes. Na primeira, teórica e com duração de meia hora, o ciclista iniciante aprende a desenvolver habilidades (como posicionamento, destreza e equilíbrio sobre a bicicleta) e recebe informações sobre manutenção e mecânica da bike, Código de Trânsito Brasileiro e itens de segurança.
Vencida essa etapa, os novatos enfrentam as ruas acompanhados do professor. Em um trajeto pelas vias centrais da cidade ou em percurso até o Parque Barigui ou o São Lourenço, os alunos são ensinados a sinalizar corretamente, posicionar-se na rua e parar no semáforo. Além disso, aprendem técnicas de subida e descida e transposição de obstáculos.
Público
Emmerick diz que ensina os ciclistas a pedalarem com conforto e segurança e que as aulas não atingem só novatos, mas também quem pedala com frequência. “O ciclista iniciante é aquele que não sabe andar de bicicleta, nunca montou numa, ou o cara que faz muito tempo que não pratica. Mas é também aquela pessoa que pedala todos os dias e não sabe dos detalhes, como postura e posição correta do pé no pedal”, explica.
Para participar, basta ter uma bicicleta e os equipamentos de segurança (capacete, luva e sinalizadores), além de mais de 15 anos. A cada sábado, em torno de 20 a 30 ciclistas iniciam suas pedaladas na Praça da Espanha. “Tem muita gente que não sabe pedalar. E mesmo quem pedala não recebeu uma educação correta; muitos ainda pensam que o ciclista deve andar na contramão, por exemplo”, afirma.
Orientação particular e para empresas
Além das aulas para iniciantes na Praça da Espanha, Emmerick presta serviços para empresas que queiram estimular o uso de bicicletas por seus funcionários. Para quem tem mais dificuldade e precisa de aulas particulares, o professor também faz esse tipo de atendimento em parques da cidade, conforme a disponibilidade do novo ciclista.
No domingo o professor organiza um passeio ciclístico para iniciantes. Quem já pedalou umas três ou quatro vezes com a equipe do Bike Curitiba pode acompanhar os roteiros, feitos sempre para fora de Curitiba, com percursos entre 30 e 50 quilômetros. Geralmente em estradas de chão, os trajetos de domingo já incluíram a Ilha do Mel, a região de São Luís do Purunã e o município de São José dos Pinhais.
Os passeios reúnem até 40 pessoas. Assim como todos os demais serviços prestados por Emmerick, o pedal de domingo é gratuito, e o ciclista só arca com os custos da gasolina para ir até o ponto de encontro.
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