Muitos paulistanos desfrutam do elevado aos domingos e já se dão conta de que a obra malufista, que acelerou o esvaziamento do centro, não resolve o trânsito (aliás, como todas as obras viárias que priorizam o carro e não o transporte público).
Infelizmente, não dá para simplesmente transplantar o modelo nova-iorquino. Os dois viadutos têm materiais, larguras e vizinhanças muito diferentes.
Mas há lições a se tirar do High Line, feliz encontro de uma ONG obstinada, um prefeito fazedor e uma sociedade acostumada a não esperar tudo do governo. A arquitetura e o design foram centrais desde o início. O concurso, com alguns dos melhores escritórios de arquitetura do mundo, deu resultado.
Nova York tem uma outra ONG, o Conselho de Design para Espaços Públicos, que dá bolsas a órgãos da prefeitura, a ONGs e a organizações de bairro para estudarem propostas inovadoras fora das amarras da burocracia. Os Amigos do High Line ganharam uma dessas bolsas, no início da década passada.
Em São Paulo, os dois raros casos de revitalização de áreas degradadas carecem desses ingredientes. Em 12 anos de teatros na praça, a praça Roosevelt ganhou um projeto de reforma genérico, como a República e a Sé antes. Não vai ficar para a história.
O Baixo Augusta está sendo soterrado por horrendos edifícios residenciais, sem nenhum espaço para estabelecimentos comerciais no nível da rua, o oxigênio da região.
Do federal Minha Casa, Minha Vida às estaduais novas estações de metrô, passando pelas tristes novas calçadas da rua Augusta, o descaso total com arquitetura, design e capricho é suprapartidário.
Não é exclusividade do poder público: nem as maiores empresas do país conseguem impressionar com a arquitetura de suas sedes.
Sem ousadia arquitetônica, participação comunitária ou generosidade da iniciativa privada, é difícil replicar o modelo do High Line em São Paulo.
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