No Pará, onde a frota de veículos já chega a 1,9 milhão, a situação não é diferente.
Dados observados em todo o país pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em sua pesquisa “A mobilidade Urbana no Brasil”, apontam que o número de usuários de motos no país cresceu 19% ao ano, sendo que o de usuários de automóveis cresceu apenas 9%. Dentro dessa perspectiva, o uso do transporte público caiu de 61% para 51%, motivados, segundo a pesquisa, pela elevação do poder aquisitivo da população e pelas deficiências do transporte público.
Foi com a intenção de não chegar mais atrasado no trabalho que o policial militar Rosinaldo Santos adquiriu uma moto há dois meses. Ele, que costumava gastar 50 minutos para ir do trabalho para casa de ônibus, disse ter tido melhora em sua qualidade de vida depois que começou a andar de moto. “Com a moto eu gasto 20 minutos para ir para o trabalho. Agora não chego mais atrasado”.
Apesar de admitir que o meio de transporte oferece alguns perigos, ele acredita ter feito um bom investimento. “A única desvantagem é que a moto é mais perigosa, o risco é maior”. A compra de Rosinaldo, possibilitada pela redução de exigências das concessionárias, ajuda a engordar as estatísticas de crescimento da frota automotora sob duas rodas em Belém.
CRESCIMENTO
Segundo o Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran), nos últimos dez anos, a taxa de crescimento de motos foi maior que a de carros na capital paraense. Enquanto as motos apresentaram um crescimento de 25%, os automóveis cresceram apenas 20%.
Como consequência, e também estimulado pela perda de usuários pelo transporte público, 160 mil em três anos somente em Belém, a velocidade média do trânsito belenense vem diminuindo a cada ano. “Temos uma perspectiva de que, em 2015, a velocidade média em Belém chegue a 30 km/h. Atualmente, a média está entre 50 e 60 km/h”, aponta o coordenador de planejamento do Detran, Carlos Valente.
Segundo o diretor de trânsito da Companhia de Transportes do Município de Belém (CTBel), Elias Jardim, em dez anos, o número de motos deve superar o de carros em Belém. “Isso pode trazer grandes problemas para o trânsito, além do perigo que a moto oferece”, disse. “Hoje, no Pará, já morre mais gente por acidente de moto do que pedestres, que por muito tempo foram as maiores vítimas”. Segundo o Ipea, de 1996 a 2006, as 7,6 milhões de novas motos que entraram no trânsito no Brasil, estiveram associadas a cerca de oito mil mortes.
Para tentar amenizar os problemas causados pelo aumento no número de usuários de transporte individual, em Belém, a CTBel pretende implantar, ainda neste ano, corredores exclusivos para ônibus em duas avenidas.
Segundo Elias Jardim, essa medida ajudará a desafogar o trânsito. “O entendimento é priorizar o transporte coletivo. Existem projetos de faixas exclusivas para ônibus na avenida Almirante Barroso e avenida Pedro Álvares Cabral que deve ser implantado ainda em 2011”.
Segundo ele, a implantação de ônibus tipo BRT (sigla em inglês sem tradução para o português), que abrigam uma quantidade maior de passageiros e oferece mais agilidade no trajeto, poderá atrair mais usuários. “Se conseguirmos que a população volte para o transporte coletivo, vão ter menos carros nas ruas”.
FROTA
Até abril deste ano, em Belém, a frota de veículos já chegava a quase 300 mil, sendo 170 mil automóveis e 60 mil motos. “É um número muito expressivo e a tendência é crescer cada vez mais. Se continuar assim, vai haver um inchaço e se estabelecerá uma situação de calamidade”, afirma Carlos Valente.