Dois acidentes, em dois dias seguidos - um com pedestre e outro com moto - aconteceram no novo corredor de ônibus do Rio de Janeiro, o BRT Transoeste, inaugurado há apenas 20 dias.
Primeiro, foi com o jovem Marlon Martins Barbosa, de 23 anos, atropelado por um ônibus quando atravessava a pista do corredor, próximo à estação Novo Leblon, na manhã de ontem (26). Hoje pela manhã, foi a vez de um motociclista da CET-Rio, atingido por ônibus "ligeirão" na pista do BRT, sentido Recreio dos Bandeirantes.
Segundo informação da própria CET-Rio, o operador de trânsito foi atingido por ônibus do Consórcio Santa Cruz, na altura da estação Magarça, em Guaratiba, na Avenida das Américas. O choque não foi violento, mas o acidente ocorreu porque o motociclista trafegava na via exclusiva. Já no caso do pedestre atropelado ontem, a vítima foi levada para o Hospital Municipal Lourenço Jorge com escoriação no ombro, e liberada em seguida.
Falta de atenção
A imprudência da população, tanto pedestres como ciclistas (e até motociclistas, como se viu), em relação ao BRT foi destacada na matéria de hoje (27) do jornal O Dia, que fez flagrantes de exposição ao perigo: em 20 minutos, apontou a reportagem, ao menos seis pessoas se arriscaram, cruzando a via exclusiva para coletivos, a poucos metros da faixa de pedestres.
A travessia acontece a qualquer horário, mas sobretudo nos períodos de pico do trânsito, diz a matéria. Transeuntes esperam o melhor momento para atravessar, em vez de ir até a faixa de pedestres. “Estou cheia de pressa”, justificou Maria Angélica Pereira. A 50 metros da estação Nova Barra, alunos que saem de um colégio estadual também fazem o percurso arriscado. “É perigoso. Até penso no risco, mas acabo atravessando. Perco mais tempo se andar até a faixa de pedestre”, assumiu o auxiliar administrativo Rony Santos.
Algumas pessoas desafiam o perigo e se equilibram na estreita mureta que divide as pistas. Em outro flagrante, ciclista pedalava tranquilo pela contramão do corredor. Outros acidentes ocorreram desde a inauguração do Transoeste, como colisões entre caminhão e ônibus e de carro que desrespeitou a sinalização.
Faixa de pedestre nos cruzamentos
No trecho próximo ao local do acidente, na altura do número 7.777 da Av. das Américas, não há passarela, mas nos cruzamentos que cortam o BRT Transoeste, existem faixas de pedestres nos sinais de trânsito. As placas de sinalização indicam que a via é de uso exclusivo para ônibus. O corredor tem 40 km de extensão e, nas pistas laterais, a velocidade máxima é de 70km/h.
O Rio Ônibus informou que não há projeto para evitar a travessia de pedestres e ciclistas. O consórcio Santa Cruz, que administra o Transoeste, lamentou o atropelamento e fez apelo para que as pessoas não circulem na pista.
Lotação e atrasos irritam passageiros da via seletiva
A travessia perigosa não foi o único problema notado desde a inauguração do BRT Transoeste. Passageiros reclamaram de superlotação e de atrasos, e houve tumultos no embarque. Segunda-feira, quando começou a circular o coletivo de Santa Cruz ao terminal Alvorada, na Barra, a venda de bilhetes chegou a ser interrompida por conta do grande número de usuários.
Moradora de Santa Cruz, Cláudia Tavares disse que só conseguiu sair do terminal 45 minutos depois. “Um verdadeiro inferno. Plataformas lotadas, ônibus atrasados, empurra-empurra para entrar. Um perigo para idosos e crianças. Entendo que o sistema ainda esteja passando por testes, mas o que foi visto foi uma completa falta de respeito com os moradores da Zona Oeste”, criticou.
Ontem, o secretário municipal de Transporte, Alexandre Sansão, esteve no local. “Estou aqui para fiscalizar a ação dos operadores, se os ônibus estão saindo na hora. Estamos testando, a coisa é nova”, justificou.