Mais de 81 mil moradores de Jundiaí levam de 6 a 30 minutos para ir de casa ao trabalho, ou vice-versa, diariamente. A estimativa de tempo que as pessoas perdem no trânsito faz parte, pela primeira vez, dos resultados do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O número representa 54% do total de trabalhadores da cidade, índice médio também de outros municípios do interior com quadro aproximado de 150 mil pessoas empregadas, como Piracicaba, Bauru e São José do Rio Preto.
As estatísticas ainda são favoráveis considerando que a frota total de Jundiaí chega a ser assustadora: ultrapassa 257 mil veículos - só de carros são mais de 170 mil e 38,5 mil motos, de acordo com dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito). Ou seja, são sete veículos para cada dez moradores da cidade.
A gerente de marketing Adriana do Amaral usa o carro como meio de transporte há mais de dez anos. Mora no bairro Retiro e trabalha no Centro, fazendo parte da maioria que realiza o percurso casa/trabalho diariamente em menos de meia hora. Ela conta que hoje leva pelo menos 20 minutos para um trajeto de 5km. Até há dois anos, porém, realizava o mesmo percurso em menos de dez. “Considero novidade o impacto que um carro quebrado, por exemplo, causa hoje em dia no trânsito de Jundiaí. Gera um congestionamento de fazer a gente chegar atrasado no trabalho, coisa que antes não ocorria.”
De acordo com o diretor municipal de Transportes, Leslie Litano Tealdi, este fato já é considerado há muito tempo pela atual administração e as intervenções viárias em andamento nos pontos de tráfego intenso levam em conta este e outros fatores fundamentais. “Gargalos foram detectados e estão sendo trabalhados”, diz, citando as obras de trânsito como a ligação da Ponte São João ao Centro, a construção de viadutos na avenida Antonio Frederico Ozanan e marginal do Rio Jundiaí, entre outras. São investimentos necessários, segundo ele, mas que não resolverão o problema do trânsito por si só.
“A média de veículos para o número de habitantes de Jundiaí é preocupante. É necessário somar alternativas”, completa Leslie. Segundo ele, o foco é investir no transporte coletivo para que o jundiaiense possa criar a cultura de deixar o carro em casa na hora de ir para o trabalho. “Estamos investindo em frota, o projeto do VLT [Veículo Leve sobre Trilho] está sendo pensando de forma a ser interligado com o Situ e assim por diante. Temos que pensar no coletivo para Jundiaí não parar”.
A compradora Evelyn Cristina Nono, 37, é exemplo de pessoa que deixaria o carro na garagem e usaria o transporte coletivo se o sistema funcionasse com mais eficiência. Todo dia, ela sai de sua casa com a filha antes das 7h da manhã, a deixa na escola e guarda o veículo na garagem da casa da mãe, de onde anda a pé até à avenida Jundiaí para pegar o ônibus fretado da empresa. “Uso o carro por comodidade, mas a situação na cidade chegou a um ponto que já me programo para evitar sair em horários de pico. Moro perto da Unip e naquela região você chega a ficar mais de 20 minutos parado no trânsito por volta das 19h”, conta. Para Evelyn, a infraestrutura da cidade não acompanhou o desenvolvimento repentino.
258 ônibus compõem a frota operante de Jundiaí. São 130 mil usuários por dia, em média, e 172 veículos são adaptados para atender pessoas com necessidades especiais.
De Itupeva para Jundiaí
A repositora Michele Borges de Carvalho, 30, leva mais de uma hora para chegar ao trabalho. Mora em Itupeva e depende de ônibus. São dois por dia e mais um trecho de caminhada. “A pessoa tem que precisar mesmo e gostar do trabalho para aguentar”, diz.
Obras e projetos visam melhorar o transporte coletivo em todas as regiões da cidade
Para o secretário de Obras, Sinésio Scarabello Filho, a sensação de que o trânsito está muito ruim em Jundiaí se deve à modificação repentina no cenário da mobilidade urbana. “É consequência do novo momento econômico e não houve tempo para as pessoas assimilarem isso”, diz. Ele aponta que não só em Jundiaí, mas nos quatro cantos do mundo hoje o foco é investir no transporte coletivo e explica o que a prefeitura tem feito pelo trânsito: “Estamos priorizando obras de alargamento de vias, pavimentação onde passam ônibus e, ainda, agindo diretamente em gargalos como o acesso para a região leste de Jundiaí”.
O vendedor Luiz Carlos da Silva, 46, comenta o quanto é complicado depender do transporte coletivo no bairro onde mora, o Almerinda Chaves. Se de carro ele leva em torno de 20 minutos para chegar ao trabalho, no Centro, levaria pelo menos 50 minutos se fosse de ônibus. “Mas economizaria R$ 400 por mês”.
Essa questão vem sendo melhorada pela prefeitura de acordo com Leslie, diretor de Transportes. Ele aponta medidas como as linhas expressas de um terminal para outro, o projeto Ganha Tempo, que oferece a possibilidade de a pessoa encurtar o trajeto pagando uma só passagem, e a implantação de corredores de ônibus como a da rua São João, no bairro de mesmo nome. “O corredor ofereceu ganho de até 15 minutos para alguns trabalhadores segundo nossas pesquisas”.
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