Apelidadas de laranjinhas, as bicicletas para aluguel compartilhado na Zona Sul e no Centro já fazem parte da paisagem do Rio. Reinaugurado há seis meses, depois de um período de tombos, o projeto Bike Rio alcançou a marca de 500 mil viagens no último dia 23. São mais de 66 mil usuários cadastrados e aproximadamente quatro mil viagens por dia. Desde a reinauguração, nenhum furto de bicicleta foi registrado, diferentemente do que acontecia no Pedala Rio, sistema que antecedeu o atual. O sucesso é tanto que um projeto para estender o serviço a todas as regiões da cidade já foi encaminhado à prefeitura do Rio.
A reformulação do Bike Rio em outubro de 2011 representou um divisor de águas na aceitação do serviço pelos cariocas. Além de novo sistema de travamento, o design e a cor das bicicletas ajudaram a zerar os registros de depredações e furtos, que no Pedala Rio chegaram a 56 bicicletas só em 2010.
— Aprimoramos o produto, mudamos o sistema de travamento e incorporamos tecnologias que dificultaram ações de vandalismo. A cor das bicicletas e a aceitação da população fazem com que o sistema seja preservado. O carioca já incorporou o Bike Rio como um serviço dele — diz Ângelo Leite, presidente da empresa Serttel, responsável pela operação do sistema.
Projeto conta com 55 estações
Atualmente, o Bike Rio tem 55 estações e 550 bicicletas. A previsão é que, nos próximos meses, mais cinco estações sejam inauguradas na Zona Sul e no Centro. A cobertura completa das ciclovias cariocas pelo serviço prevê 300 estações e 3 mil bicicletas, segundo projeto da Serttel encaminhado ao município.
A ampliação do serviço tem como objetivo atender a um número cada vez maior de pessoas que utilizam as bicicletas como meio de transporte. O vigilante Nielton dos Anjos, de 33 anos, mora em Pilares e trabalha no Jardim Botânico. Desde que conheceu o serviço, economiza passagens de ida e volta.
— Pego ônibus em Pilares e sigo para Botafogo. Lá, alugo a bicicleta e vou pedalando até o Jardim Botânico. Além de economizar, faço exercício. O único problema é a falta de ciclovia neste trajeto. Seria ótimo se fizessem mais ciclovias na cidade — diz Nielton, que, antes de sair de casa, checa pelo celular quais as estações que têm bicicletas disponíveis.
Segundo Cícero Araújo, diretor de Relações Institucionais e Governos do Itaú, banco que patrocina o projeto, alguns bairros que receberão corredores exclusivos para ônibus como o Transcarioca e a Transolímpica podem ter estações do Bike Rio no futuro:
— O Bike Rio ultrapassa a questão de lazer, é um projeto de mobilidade urbana. Estamos em permanente conversa com a prefeitura, e há várias possibilidades de expansão, como Madureira, Bangu e Barra da Tijuca.
De acordo com a secretaria municipal de Conservação, o projeto de ampliação do Bike Rio ainda não chegou à prefeitura.
A falta de ciclovias é um dos obstáculos para que o serviço seja ampliado para as zona Norte e Oeste. Problemas como falta de conexão, buracos e iluminação deficiente das ciclovias, como mostrou reportagem do GLOBO em novembro do ano passado, também dificultam a vida de quem pedala na cidade.
— As ciclovias ainda têm problemas de manutenção e conexão. Mas, de uma forma geral, o Rio está avançando para se tornar uma cidade mais amiga da bicicleta — afirma José Lobo, ciclista e diretor da ONG Transporte Ativo.
Para solucionar a questão das ciclovias, a prefeitura promete ampliar a malha da cidade em 150 quilômetros até 2016. Hoje o Rio conta com 270 quilômetros de ciclovias e deve ganhar mais 30 quilômetros até o fim do ano.
— Teremos novos trechos na Ilha, em Copacabana e Santa Cruz até o fim do ano. Também temos projeto para outros 150 quilômetros até 2016, que atenderão à Zona Norte, região com menor rede de ciclovias da cidade atualmente — afirma Altamirando Moraes, subsecretário municipal de Meio Ambiente.
Adepto do Bike Rio, desde que teve sua bicicleta roubada, o adestrador de cães Fábio Hidd, de 30 anos, não pretende comprar uma nova. Ele usa o sistema como principal meio de transporte para atender seus clientes.
— A minha bicicleta custava R$ 2 mil. Agora eu não preciso me preocupar mais com manutenção, nem com roubo. Eu me desloco para casa dos meus clientes usando essas bikes — conta.
As laranjinhas foram inspiradas no sistema de aluguel de bicicleta de Paris, chamado Vélib, inaugurado em 2007. Lá, os usuários podem comprar, pelo site do projeto, tíquetes para um ou sete dias, que custam 1,70 e 8 euros, respectivamente. De acordo com dados dos dois primeiros anos de implementação do Vélib, o sistema sofreu crescente vandalismo. Foram 16.000 depredações, 8.000 furtos, 3.500 queixas registradas na polícia e 1.500 consertos por dia.
No Rio, o sistema teve investimento de R$ 3 milhões para implantação e tem custo operacional mensal de R$ 250 mil. Desde outubro, o pico de usuários do Bike Rio aconteceu no mês de janeiro, quando foram feitas 113 mil viagens. A estação de aluguel da Rua Santa Clara, em Copacabana, é a mais movimentada, tanto para retiradas como entregas.
Acostumados a utilizar o aluguel de bicicletas na Europa, Sérgio Bruno, de 53 anos, e Madalena Gonçalves, de 41, que moram na Itália e passam férias no Rio, apontam algumas falhas na versão carioca do sistema. Apesar da praticidade, o casal acredita que o serviço ainda está longe do ideal.
— É um grande conforto, mas é o único lugar em que para alugar a bicicleta você precisa de um cartão de crédito e celular. Um celular desbloqueia apenas uma bicicleta, ou seja, precisei de dois celulares para conseguir uma bicicleta para mim e outra para minha mulher. Não é um sistema feito para estrangeiro — acredita Sérgio.