As cidades contemporâneas passam por significativas transformações. A incorporação da bicicleta ao espaço urbano permite a inclusão social de um maior número de pessoas aos equipamentos de lazer, saúde e educação.
Além de contribuir para a diminuição de engarrafamentos, poluição sonora e do ar, a inclusão da bicicleta como um tipo de veículo, conforme prevê o Código de Trânsito Brasileiro (CBT), de 1998, e o Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) é também uma forma de denunciar mais um equívoco da cidade moderna, projetada para os carros, e não para as pessoas.
Na sociedade pós-industrial, a bicicleta ganha novo status, ao deixar o estigma de transporte para operário, passando a constituir uma alternativa na busca pela qualidade de vida da cidade e dos seus moradores.
Quem poderia imaginar, na maior cidade da América Latina, São Paulo, em pleno século XXI, pessoas usando a bicicleta como meio de transporte? Mais do que modismo, como alguns criticam, sobretudo a criação de grupos de "bikes", circulam nos fins de semana ou à noite, a inclusão da bicicleta no sistema de mobilidade urbana vira necessidade.
No entanto, não constitui tarefa tão fácil porque inclui questões que vão desde criação de infraestrutura, investimentos até campanhas educativas para melhorar a relação motorista/ciclista nas ruas.
A ausência de ciclovias, sinalização, clima quente e a falta de espaços nas empresas para o banho contribuem para que a bicicleta seja usada apenas por necessidade daqueles que sequer podem pagar a passagem no transporte coletivo.
Equação
Na soma entre os prós e contras quando o assunto é o uso da bicicleta como meio de transporte, estes últimos acabam desequilibrando a equação. A presidente do Sindicato dos Engenheiros do Ceará (Senge-CE), Thereza Neumann Santos de Freitas, considera que está longe a consolidação do uso da bicicleta como meio de transporte diferente do que acontece em outros países.
Ela admite conhecer o Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor) e considera mostrar "alguns índices de que a cidade está despontando na implantação de ciclovias". Mas, ressalva: não basta apenas construir ciclovias, atentando para a interligação desses equipamentos, construídos em eixos importantes de circulação. Indaga como fica a situação dos que usam bicicletas - como acontece no trecho que compreende as Avenidas Mr. Hull e Bezerra de Menezes - contam com ciclovias, quando chegam no fim da via?
Eles passam a disputar espaços com os carros, caso continuem o trajeto para outros pontos da Cidade. Vão se deparar com a Avenida Duque de Caxias, estreita, congestionada e sem possibilidade de diminuir as caixas rolantes para a construção de ciclovias.
A Avenida Leste-Oeste é outro exemplo, assim como a Avenida Francisco Sá. "Sou otimista, mas existem problemas técnicos" que impossibilitam essa inclusão. No entanto, reconhece os ganhos que o Transfor vai trazer para a mobilidade urbana, considerando que outras obras serão ainda necessárias. Para Thereza Neumann, existe diferença entre usar a bicicleta como forma de lazer, citando grupos que circulam em determinados horários, e para ir trabalhar.
"Não consigo ver a bicicleta virar meio de transporte de massa nas condições atuais", diz, afirmando ser a questão também cultural. Sem contar com o clima quente que não favorece. "Temos ruas estreitas e muitos cruzamentos, sendo preciso muita engenharia para adequar o trânsito". A criação de bicicletários, incentivo das empresas, espaços para estacionar nos prédios e locais para a locação de bicicletas são outros pontos lembrados pela engenheira.
Infraestrutura
O coordenador do Transfor, Daniel Lustosa, afirma que Cidade possui 65Km de ciclovias implantados com projeção de aumentar para 100Km. O número é considerado "significativo para o Nordeste", diz. Trata-se dos 30Km que estão previstos para ser construídos pelo Transfor. "Vai dar outra conotação a essas ciclovias no sentido de promover a integração", promete.
A primeira vai ser concretizada com a construção do bicicletário no Terminal de Integração do Antônio Bezerra, interligado às avenidas Mr. Hull e Bezerra de Menezes, contempladas com ciclovias até o Centro e zona do Mercado São Sebastião.
Daniel Lustosa destaca que a construção das ciclovias é baseada em pesquisa que identifica áreas de maior demanda pelas ciclovias, citando a Avenida Sargento Hermínio, onde existem fábricas que já possuem os seus bicicletários.
Outras áreas beneficiadas: as avenidas José Bastos e Augusto dos Anjos que serão interligadas ao Terminal de Integração do Siqueira. Fala do plano cicloviário de Fortaleza com a projeção para 20 anos. O documento vai mostrar a origem, o destino e as tipologias das ciclovias: lazer, serviço, orla, contemplação.
Para Daniel Lustosa, "não é possível pensar o transporte público de maneira isolada, devendo contemplar o individual, coletivo, bicicleta e a pé". Assim, justifica a criação da linha Leste do Metrô de Fortaleza (Metrofor) beneficiando os usuários da região, beneficiando a Avenida Santos Dumont.
Cita, ainda, a construção do Veículo Leve sobre Trilho (VLT), que sai de Parangaba com destino ao Mucuripe. Considera a bicicleta "uma alternativa viável e ambientalmente correta".
NÚMERO
100 km é o número total da rede cicloviária em Fortaleza, após a conclusão das obras do Transfor, que prevê a construção de mais 30km de ciclovias