Maceió tem hoje 250 mil veículos circulando em ruas estreitas e ladeirosas, o que representa 40% da frota estadual. Com isso, é cada dia mais difícil e perigoso enfrentar o quase caótico trânsito da capital alagoana.
De definição teoricamente complexa, o problema porém tem explicação simples: “As pessoas imaginam tudo a partir do automóvel”, traduz Sérgio Ronaldo de Oliveira, especialista em projetos de trânsito.
Para ele, a problemática resultante da alta concentração de automóveis em espaços que parecem encolher cada vez mais rápido, pode contudo ser revertida com investimento no transporte de massa, uma solução que considera possível para Maceió.
Sérgio Oliveira reconhece que partir para tal alternativa é atitude privativa e exclusiva dos gestores, mas ressalta que a população também pode contribuir para minimizar o problema do trânsito, fazendo rodízio entre amigos e evitando usar o carro em pequenas distâncias, por exemplo. “O carro – define o técnico – é um pouco das pernas da gente, é o status”.
Os dois pólos críticos do trânsito de Maceió hoje são a avenida Fernandes Lima e a Via Expressa, esta última formando um bi-corredor por onde escoa quase 30% do trânsito da capital e desembocando no Complexo Benedito Bentes, além de também se interligar à pandemônica Fernandes Lima.
Para o especialista, a solução mais barata para Maceió seria implantar e ampliar o percurso do VLT, com um ramal partindo do Centro até o Aeroporto Zumbi dos Palmares, disponibilizando 16 composições com uma saída a cada oito minutos.
- Integrando VLT e ônibus, levando os usuários da periferia da parte alta da cidade até a Fernandes Lima para alcançar a integração, isto seria uma solução perfeita para o desafio que temos de enfrentar – disse Sérgio Oliveira.
Pontos críticos
De acordo com o perito, os momentos críticos do trânsito maceioense ocorrem quando se vai ao trabalho, quando se vai às compras, quando se vai aos supermercados e quando se leva e se apanha a criança na escola.
Outro problema apontado pelo especialista é o itinerário das linhas de ônibus de Maceió. Ele explica que muitas pessoas não andam de ônibus porque não sabem o itinerário. “Não é prioridade, não é divulgado, as linhas não são conhecidas. Só conhece aquela linha o morador que mora naquele trecho”.
Ele também admite que uma solução sustentável para capital alagoana é a ciclovia do trabalhador, que segue do Benedito Bentes ao centro e/ou Ponta Verde. Ele reforça: “Se não houver investimento maciço e prioritário no transporte de massa, em especial no VLT, o caos acontecerá daqui a quatro anos” - vaticinou.
Para a região central de Maceió, Sérgio de Oliveira asseverou que ali deveria ser um local reservado às repartições públicas e ao comércio tradicional. Solução antiga, quando sepultou o velho e fétido Canal da Levada nos anos 70, ele afirma que um dos gargalos de Maceió hoje é o decadente Mercado da Produção. “Ninguém consegue circular por ali. É um mercado que tem 32 anos e nada foi feito para atualizá-lo, para restaurá-lo, para adequá-lo aos novos tempos que a cidade vive”.
A abertura de novas vias na nossa capital são apenas soluções paliativas para minimizar o problema do trânsito, na visão do especialista: “É uma operação aqui, que causa problema ali. O problema vai sendo jogado pra frente, vai potencializando um problema maior, enquanto o normal seria um planejamento global, mas hoje temos muitas dificuldades. Uma delas: o trânsito tem sido mal priorizado ao longo dos anos”.
Conforme Sérgio de Oliveira, o transporte público de Maceió funciona pessimamente e não há motivos para isso. “E porque isto acontece?” – ele indaga e responde: “Porque não há uma política integrada”. A sugestão é: integração VLT- ônibus, priorização de ciclovias, mudança de comportamento da população para deixar de ver o carro como transporte principal e investimento total no transporte de massa.
Ele ainda critica a parceira feita entre os órgãos de trânsito. “Essa parceria aparece bem na Semana Santa, no carnaval, no final do ano, no São João, nos períodos festivos. E depois? Parceria deveria existir o ano inteiro”. Segundo ele, Maceió precisa de uma ‘câmara temática’ destinada a discutir o trânsito não só da capital, mas de todo o Estado, uma discussão contínua, ou seja, em caráter permanente.
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