Andar de bicicleta pode representar um bom alívio para o bolso do ciclista. Um estudo da pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2011 mostra que adotar a magrela para ir ao trabalho chega a proporcionar uma economia anual de até R$ 2.700 em relação à manutenção de um automóvel.
Segundo os cálculos da pesquisa, a bike consome cerca de R$ 0,12 por quilômetro, um sexto da despesa referente aos veículos movidos a gasolina, que chega a R$ 0,76. O levantamento considerou o preço de uma bicicleta nova, a aquisição de acessórios, a depreciação e a manutenção do equipamento, com base em trajetos de 20 quilômetros por dia.
A média anual de gastos com a bicicleta é de cerca de R$ 519, considerando a troca periódica de peças, como freios, correntes e pneus. O custo da pedalada ficou abaixo do uso do carro a gasolina (R$ 3.219 por ano), da moto (R$ 2.029) e do ônibus (R$ 1.367).
Nos últimos dois anos, o administrador e professor Rene Rodrigues Fernandes, de 28 anos, deixou o carro durante a semana na garagem para fazer o trajeto casa-trabalho de bicicleta. "Percebi quanto tempo perdia todos os dias. Eram 40 minutos para chegar no meu destino". Hoje, são 15 minutos. Também houve impacto financeiro. Rene gastava quatro tanques de etanol por mês, ou cerca de R$ 400. Como usa o carro eventualmente, agora não gasta mais do que R$ 130 mensais. "Não me preocupo com lugar para estacionar e nem com a Lei Seca", diz Rene, que gostaria de viver em uma cidade amigável com ciclistas.
Transporte
Políticas de desestímulo ao uso de automóveis foram alguns dos pontos abordados nas discussões sobre mobilidade urbana, em audiência pública realizada ontem, na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado. A melhoria do transporte público urbano, com prioridade para veículos não poluentes, também foi debatida.
O presidente da organização não governamental Rodas da Paz, Uirá Felipe Lourenço, levantou o problema da violência no trânsito. Ele disse que ocorre "verdadeiro massacre" de ciclistas e motociclistas em grandes cidades. E defendeu a mudança de cultura em relação ao uso da bicicleta, que tem o estigma "de ser transporte para pobre".
Depois de reclamar da falta de planejamento para o transporte no país, o presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Vieira da Cunha, destacou que "só agora, depois de 30 anos, o governo federal começa a investir em transportes, que estão cada vez mais caóticos". Como exemplo, ele citou Brasília, que poderia ser exemplo mas vive problemas crônicos no trânsito e não tem espaços na área central para estacionamento.
Para Antônio Carlos Penna, do blog Ambiente e Transporte, os automóveis estão ocupando mais espaço nas cidades que as próprias pessoas. Um veículo ocupa cerca de 8 metros quadrados (m²), lembrou. Ele defendeu o uso de vans e microônibus para pequenas distâncias. Para ele, o verdadeiro progresso não é ter mais carros no país, mas o cidadão levar menos tempo para se deslocar cotidianamente.
A professora Maria Rosa Abreu, da Universidade de Brasília (UnB), disse que os governos devem procurar soluções mais saudáveis para a população. Ela citou como exemplo ônibus elétricos, metrôs e políticas de incentivo ao uso da bicicleta. "É preciso ver a questão da saúde e da qualidade de vida", avaliou.
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