Primeiro foram as ciclovias que tomaram conta da paisagem urbana de Nova York. Depois vieram os calçadões para pedestres, brotando do concreto em locais como Times Square e Union Square para minimizar o insuportável tráfego da região.
Nos próximos meses, os nova-iorquinos poderão testar a última intervenção do governo Bloomberg: placas de “pare” no meio de avenidas centrais, lombadas para redução da velocidade e travessias para pedestres que permearão seis quarteirões localizados no coração de Manhattan, forjando o que alguns têm chamado de “Avenida Sexta e Meia”.
O Departamento de Transporte planeja ligar as praças públicas e galerias que vão das ruas 51 a 57, entre as Avenidas Sexta e Sétima, criando uma passagem que permeará espaços abertos entre prédios de escritórios e oferecerá refúgio do tumulto das principais artérias da cidade.
Apesar de passagens para pedestres existirem em outros lugares na cidade, principalmente perto do Rockfeller Center, o trecho proposto se tornará a única via deste tipo na região conhecida como Midtown e governada por algo mais frequentemente encontrado fora de Manhattan: a placa de “pare”.
Durante anos, a passagem, ligada por uma série de espaços públicos de propriedade privada, tem sido um segredo dos habitantes da área, apresentando talvez a mais tentadora oportunidade de caminhar pelas ruas desta cidade. Os moradores podem almoçar um belo lombo no restaurante The Capital Grille, na Rua 51, assistir a um filme no Teatro Ziegfeld três quarteirões depois e terminar a noite com drinques na Rua 57 no famoso Russian Tea Room, tudo isso sem nunca pôr os pés em uma avenida.
“Muita gente não sabe que estes lugares existem, escondidos no interior dos edifícios”, disse Janette Sadik-Khan, a comissária de transportes da cidade. “Este é um tipo de rota para pedestres que é mantido em segredo, mas que pode ajudar muita gente.”
Para os críticos, a proposta representa a mais recente de uma série de políticas que prejudicam os motoristas ao favorecer os pedestres. Placas de “pare”, segundo eles, só vão agravar o congestionamento em toda Manhattan.
Talvez um sinal de preferência fizesse mais sentido, principalmente porque algumas praças normalmente fecham por volta de sete horas, disse Senjay Meray, 40, que muitas vezes faz entregas em empresas na área. “À noite, as pessoas não caminham por ali, mas os carros ainda usam estes corredores”, disse.
A prefeitura diz que as interrupções no tráfego serão insignificantes. Uma média de menos de 10 veículos atravessam os quarteirões por minuto durante os horários de pico, segundo o Departamento de Transportes, enquanto mais de mil pedestres cruzam algumas das ruas que ligam as praças no horário do almoço.
Alguns opositores afirmam que já existe um entendimento tácito entre pedestres e motoristas familiarizados com a área, argumentando que uma placa de “pare” traria apenas caos a um arranjo perfeitamente funcional.
Joe Ward, 58, um escritor técnico que muitas vezes almoça na praça perto da Rua 51, discorda. “As pessoas andam no meio do tráfego de carros, não vejo nenhum acordo”, afirmou.
Shona Lewis, 25, compreende os perigos também. Durante um trajeto recente pela passagem, que usa muitas vezes para ir do escritório até a academia, quase foi atingida por um táxi. “Ele claramente me viu chegando e acelerou”, lembrou. “Bati no capô – bem estilo Nova York.”
Stella Billings, 29, do Bronx, disse que normalmente desce na estação Columbus Circle e caminha por estes espaços públicos entre as avenidas. Ela elogiou como a cidade tem defendido os pedestres ultimamente. “Em uma área tão comercial, isso é como um oásis”, disse.
A perspectiva de um nome de avenida envolvendo frações lhe parece igualmente atraente.”Isso é bonito”, disse Billings. “Muito Harry Potter.”
Por Matt Flegenheimer (The New York Times)