A partir de hoje (26) o Mobilize Brasil publica uma série de textos sobre a situação da acessibilidade nas seis linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). O trabalho foi realizado pela jornalista Camilla Feltrin, que visitou (e fotografou) dezenas de estações em toda a Região Metropolitana de São Paulo.
Como todas as linhas derivam de antigas vias ferroviárias, algumas datadas do final do século 19, suas estações também são desiguais no atendimento à acessibilidade desejável para deficientes físicos, idosos, mulheres grávidas ou pessoas portando crianças de colo. Algumas são modernas, dotadas de elevadores e rampas; outras atendem parcialmente às normas de acessibilidade; e algumas são absolutamente fechadas a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida. Também os trens não obedecem a um padrão único, o que resulta em vãos exagerados entre as plataformas e os carros.
Infelizmente a assessoria de imprensa da CPTM não respondeu aos vários contatos por telefone e e-mail sobre os problemas encontrados nas estações e trens.
Iniciamos com uma visão sobre as linhas 7 Rubi e 8 Diamante. Nos próximos dias, publicaremos as informações e fotos das outras quatro linhas de trens urbanos.
Ao entrar nos trens da CPTM, idosos, gestantes, deficientes e pessoas com crianças de colo são informados a respeito dos assentos preferenciais. Esta facilidade é a única garantida, presente em todas as linhas, para o usuário com necessidades especiais ou com alguma dificuldade de locomoção.
As seis linhas de trens da CPTM em toda a Grande São Paulo compreendem mais de 206 quilômetros de trilhos, por onde diariamente viajam mais de dois milhões de pessoas. Mesmo com maior abrangência do que o Metrô, que tem pouco mais de 70 km de extensão, a acessibilidade nos trens urbanos é inferior.
De todas, a linha 9 – Esmeralda é a que oferece mais qualidade de serviços, com praticamente todas as estações dotadas de escadas rolantes e elevadores. A linha 12 – Safira parece seguir o mesmo caminho, o de tornar suas estações acessíveis. Mas o mais comum é a falta de acesso universal nas estações castigar o usuário, mais ainda nas cidades fora da capital.
A reportagem do Mobilize presenciou na linha 10 – Turquesa, por exemplo, um cadeirante que, para conseguir embarcar na estação Mauá, sentido Brás, teve de pedir aos seguranças que o levassem no colo por alguns lances de escada. Já na linha 7 – Rubi, outro deficiente disse preferir pegar ônibus, porque a altura e distância entre o trem e a plataforma é “absurda”, e exige atenção inclusive do usuário comum para evitar cair no grande vão entre o trem a plataforma.
Velhos, sucateados, desbotados, sem ar-condicionado e com portas que não fecham direito: assim é a maioria dos trens que passam pela linha 7 – Rubi, saindo da Luz até a estação e município de Francisco Morato. Várias estações da linha 7, que é um trecho da antiga linha Santos - Jundiaí, são tombadas pelo Patrimônio e originalmente não previam acessibilidade. A começar pela distância e altura entre o trem e a plataforma, que são enormes.
O cadeirante Antônio Manuel da Silva Melo, 37, que mora em Caieiras e faz curso de informática no INSS da Lapa, diz evitar ao máximo pegar o trem; para se locomover, ele geralmente opta por ônibus intermunicipais que, afirma, são mais confortáveis. Em algumas estações mais antigas, como a Jaguaré e Perus, a plataforma é curva. Ou seja, dependendo do trecho em que a pessoa estiver na plataforma é mais fácil ou mais difícil entrar no trem.
O encarregado da estação de Perus, Gervásio Paiva, revela que os acidentes na hora de embarque e desembarque nas composições são muito frequentes, inclusive com os próprios funcionários. Segundo ele, “não é possível ampliar a plataforma por causa dos trens de carga que passam na linha”. Será? Então não há como explicar que os mesmos veículos também passem na linha 10 Turquesa, onde essa distância trem-plataforma não é tão grande.
Nas estações Lapa, Piqueri e Pirituba da Linha 7 – Rubi, a dificuldade começa no embarque, porque a altura é muita do trem em relação à plataforma. Também não há transferência entre plataformas. Na estação Jaraguá, próximo à Serra da Cantareira, as plataformas não estão localizadas de frente uma para outra, e a mudança de lado se dá por meio de escada externa; para idosos e deficientes, há uma passagem no meio dos trilhos. Como a estação é tombada, o que impõe restrições às obras de reforma, a informação é que a CPTM construirá uma nova estação ao lado da já existente.
Também em Perus, a distância entre o trem e a plataforma é enorme. Há rampa de acesso para os sanitários e para ingresso no terminal; escada interna para transferência e uma rampa do lado de fora da estação com essa finalidade.
Linha 8 Diamante
A Linha 8 – Diamante compreende o trecho que vai da estação Júlio Prestes, na capital, até Itapevi, a oeste da região metropolitana de São Paulo. Só depois de subir e descer uns cem degraus é possível ingressar em algumas estações, como Comandante Sampaio, Domingos de Moraes, Quitaúna e General Miguel Costa. Todas elas, apesar de terem sido reformadas recentemente, e mostrarem boa aparência, não contam com elevadores nem rampas de acesso. Ao cadeirante, só resta é pedir ajuda a um segurança.
Bem diferente é a bem iluminada estação Barueri, que tem elevador preferencial e piso tátil. Assim como a parada de Carapicuíba, a estação é agradável e apresenta bom estado de conservação. Há equipamentos – como escadas rolantes e elevadores – necessários para atender a todo tipo de usuário. Já na estação Presidente Altino, que faz conexão para a linha 9 – Rubi, e na estação Osasco, atualmente em reforma, há elevadores para usuários preferenciais.
Um problema comum afeta quase todas as estações da Linha 8: nos trens novos, o embarque é dificultado pela distância entre o trem a plataforma; e nos trens mais antigos, a altura para ingresso no trem é muita, perto de 30 cm.
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