Murillo Piazzi, estudante da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, pedala diariamente 14 km para ir e voltar de sua casa até a Cidade Universitária. Motivado pelas dificuldades que enfrenta no trajeto, Murillo resolveu ampliar seu conhecimento sobre mobilidade urbana e hoje desenvolve um projeto de ciclovia para a cidade de São Paulo. A pesquisa, que ainda é particular e está na fase projetual, baseia-se tanto em dados técnicos quanto no contexto histórico do desenvolvimento da cidade.
Suas propostas vão além da simples produção de infraestrutura para o transporte cicloviário. “A construção de ciclovias não é suficiente para resolver integralmente o problema desse meio de transporte, da mesma maneira que a ampliação das vias utilizadas por automóveis não resolve o trânsito de São Paulo. Sendo assim, eu foco mais em um estudo social da mobilidade urbana”, argumenta o estudante.
Murillo identifica a disputa por espaço nas vias urbanas como a principal barreira para o desenvolvimento do transporte cicloviário. “Não há respeito entre as diferentes modalidades de transporte. Vemos todos os dias ciclistas se expremendo nas sarjetas, passando por situações de muito risco”, declara Murillo. Por isso, a produção de infraestrutura, isolada de outras medidas de incentivo, não estimularia o uso da bicicleta.
Interligação
A interligação da bicicleta com outros meios de transporte público pode ajudar a diminuir os conflitos no trânsito caótico da cidade. É o que sustenta Barbara Bezerra, coordenadora do Núcleo de Estudos de Segurança no Trânsito (NEST) da USP. Para ela, a bicicleta tem ser pensada como uma alternativa para se chegar a corredores de ônibus e ao metrô, que devem possuir bicicletários. “Não adianta construir quilômetros de ciclovia e abandonar o ciclista à própria sorte na competição por espaço com os carros, ônibus e caminhões”, declara.
Murillo também acredita que essa integração entre bicicleta e outro meio de transporte é importante, visto que aumenta a eficiência de ambos. Desta forma, o uso das ciclovias também seria incentivado, tornando-as mais “eficazes” – hoje, algumas delas são subutilizadas. Como exemplo, ele cita a ciclovia que integra o Metrô Butantã à Cidade Universitária. “Ela é um caso típico no qual isso acontece. Há a infraestrutura mas não há quem a use”, conta.
Questão cultural
Em São Paulo, a bicicleta ainda é vista como um objeto de lazer, e não como meio de transporte. Esse é justamente o principal entrave para a evolução do transporte cicloviário apontado por Laura Lucia Ceneviva. Ex-coordenadora do Pró-Ciclista, programa da prefeitura criado para viabilizar políticas públicas de fomento ao transporte cicloviário, Laura afirma que “é preciso mexer na cabeça das pessoas, fazê-las perceber as diferenças entre os veículos, além de instrui-las para se posicionarem nas ruas”.
Murillo Piazzi concorda com Laura e aponta as ciclofaixas de lazer como uma iniciativa que facilita a aproximação do ciclista com seu equipamento. “A estratégia é simples: dá-se a oportunidade de os cidadãos utilizarem a bicicleta como lazer e aos poucos as pessoas vão percebendo que as distâncias e as dificuldades de se trafegar de bicicleta por São Paulo são superestimadas”.
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