Os cinco projetos ferroviários previstos para a Copa do Mundo de 2014 não deverão estar totalmente prontos para o evento.
A informação é dos próprios responsáveis pelos monotrilhos de Manaus (AM) e São Paulo (SP) e pelo VLT (veículo leve sobre trilhos) de Brasília (DF). Para o VLT de Cuiabá (MT), a previsão do governo estadual é que o projeto esteja operando plenamente na Copa. Na prática, isso dificilmente ocorrerá.
Fortaleza, que construirá um sistema pequeno e mais simples movido a diesel, é o único com mais chances de cumprir o prazo.
Até agora, nenhum dos cinco projetos está com obras iniciadas. Todos estão com cronograma atrasado, pela previsão de 2010, quando foram oficializados como projetos da Copa (ver quadro na página B9).
As obras de transporte não eram obrigatórias no contrato com a Fifa, mas foram um compromisso assumido pelo país com a organizadora do evento, além de terem sido anunciadas como o maior legado para a população.
"É preciso analisar projeto por projeto. Mas, no caso dos projetos da Copa, acho que já é leite derramado", afirmou José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia), atribuindo o problema à falta de planejamento dos governos envolvidos. "Estamos alertando para isso desde novembro de 2007."
Especialistas ouvidos pela Folha disseram que seriam necessários seis meses, no mínimo, para realizar o projeto executivo. Além disso, há o próprio período da obra e da encomenda dos equipamentos. Depois, ainda é preciso um prazo para a realização de testes do sistema antes de abri-lo ao público, o que pode levar de quatro a seis meses. Sem os testes, há riscos de acidentes graves.
"O trem precisa ser testado de várias formas, inclusive com sacos de areia dentro para simular o peso com passageiros", afirma Telmo Porto, professor da Escola Politécnica da USP que acredita que o Brasil está no limite do prazo para fazer as obras ferroviárias a tempo da Copa.
O Mundial começa em 26 meses. Para quem ainda não começou o projeto executivo, as obras e encomendas terão de ser feitas em 14 a 16 meses, prazo considerado exíguo.
Sem saída
O projeto mais atrasado é o VLT de Brasília, que começou a ser feito em 2009, está parado há dois anos e não tem mais chance de ficar pronto para a Copa.
O contrato para o VLT foi cancelado em 2011. O governo do Distrito Federal promete lançar novo edital neste mês, quando, a princípio, se esperava que a obra estivesse pronta. O novo edital estabelece o prazo até 2014, mas para apenas um terço do projeto previsto originalmente.
Em Cuiabá, o governo estadual resolveu trocar o BRT (ônibus rápido) pelo VLT no ano passado, quando as obras do BRT já deveriam ter começado. O anteprojeto ferroviário só ficou pronto neste ano, e a conclusão da licitação está prometida para o mês de maio.
Após a liberação do financiamento do projeto, que não tem previsão, o governo dará 24 meses ao vencedor para que conclua o projeto executivo, as obras, as encomendas e os testes.
Outro Lado: sedes preveem trechos concluídos até a Copa
O governo paulista disse aguardar a liberação da licença ambiental para iniciar a obra de seu sistema de transporte ferroviário para a Copa. A licença foi pedida em setembro. Para o Mundial, a promessa é que 8 km dos 18 km fiquem prontos.
Segundo o governo, o VLT (chamado Linha 17-Ouro) foi mantido como obra da Copa mesmo com a mudança de estádio -que era o Morumbi e passou a ser em Itaquera- por ser uma interligação com o aeroporto de Congonhas.
Em Manaus, a Secretaria da Copa informou que o projeto executivo do monotrilho começou a ser feito em janeiro. Dos 20 km, 14 km devem ficar prontos para a Copa.
Em Brasília, o governo diz que lança neste mês o edital para o novo VLT e espera ter um trecho pronto até a Copa. O governo afirma ainda que prepara um esquema com ônibus para o evento.
A Secretaria da Copa de Mato Grosso informa que o contrato determina que tudo deve estar pronto em Cuiabá dois anos. Contudo, segundo o edital, o prazo só começa a contar após a Caixa liberar o financiamento, o que o banco só tem feito após a análise de órgãos de controle.
Em Fortaleza, onde o sistema é mais simples por ser a diesel, o governo diz que terminará a obra em setembro de 2013 e que os testes vão durar de três a seis meses para liberação ao público.
O sistema da capital cearense tem apenas 12,7 km (o menor entre os cinco) e os trens já foram comprados.
O Ministério das Cidades, que escolheu os modais, disse em nota que monitora as obras "de forma que os pactos sejam atendidos".
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