A morte da bióloga Juliana Ingrid Dias, 33, ciclista que trafegava pela avenida Paulista quando foi fechada por um ônibus e atropelada por outro, provocou protestos e trouxe de novo à tona a discussão sobre o uso da bicicleta numa cidade como São Paulo. O editorial do jornal Folha de S. Paulo de hoje (12) prossegue dizendo:
Muitos indagam se a congestionada capital seria propícia a esse tipo de veículo. Outros gostariam de vê-lo restringido ao máximo.
Trata-se de uma falsa questão. As bicicletas -cujo uso em vias urbanas está previsto pelo Código de Trânsito Brasileiro- são um fato consumado na maior cidade do país. E sua presença, embora minoritária, é crescente.
A pesquisa Origem e Destino, espécie de censo sobre deslocamentos na metrópole realizado pelo Metrô a cada dez anos, não deixa dúvidas quanto a isso.
Em 2007, ano do último levantamento, constataram-se 304 mil viagens diárias de bicicleta na Grande São Paulo. Esse número, segundo especialistas, estaria hoje próximo de 350 mil, mais do que o dobro dos deslocamentos verificados em 1997 -162 mil.
A título de comparação, as viagens diárias de motocicleta em 2007 chegavam a 721 mil, e as de automóvel eram 10,4 milhões.
Aos que se inclinam a ver no uso da bicicleta um modismo de jovens de classe média, diga-se que a maior parte das viagens concentra-se em faixas de baixa renda e não é realizada a título de lazer. Além disso, quase 70% dos acidentes fatais ocorrem em bairros periféricos. A quantidade de morte de ciclistas, aliás, caiu de 61, em 2009, para 49, em 2010.
O que se deve questionar, portanto, não é se a bicicleta deve ou não ser acolhida em São Paulo, mas por que o poder público tarda em criar as condições necessárias à circulação adequada de ciclistas.
São três as frentes que precisam ser desenvolvidas: as rotas, as ciclofaixas e as ciclovias.
As rotas são os itinerários mais favoráveis nas diversas regiões da cidade, as ruas secundárias em que a concorrência com ônibus e automóveis é menor. Exigem sinalização e controle de velocidade.
As ciclofaixas são caminhos demarcados a tinta no asfalto, que podem ser compartilhados. E as ciclovias são percursos segregados, exclusivos para ciclistas.
Alguns passos, se bem que tímidos, foram dados nos últimos anos. Prevalece, contudo, a impressão de que a prefeitura e a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) hesitam em facilitar o tráfego de bicicletas numa cidade em que proprietários de automóveis comportam-se, não raro, como donos das ruas. É como se a preservação de condições hostis servisse como fator de dissuasão aos ciclistas.
Seria um equívoco. A tendência mundial é de aumento da circulação de bicicletas. São Paulo, que já se adaptou ao cinto de segurança, e começa a respeitar a faixa de pedestres, precisa ser preparada e educada para essa nova realidade.
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