A silenciosa invasão das bicicletas

Leia o texto sobre a Bicicletada Nacional em São Paulo

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa  |  Postado em: 07 de março de 2012

A reunião começou na Praça do Ciclista

A reunião começou na Praça do Ciclista

créditos: Regina Rocha

Durante alguns minutos me senti um chinês abrindo caminho na avenida Chang'an, em Beijing. Na verdade, estava na avenida Paulista, durante a Bicicletada Nacional, que reuniu um número que variou entre 500 a 1.500 pedalantes na noite de ontem (6/3). Os números variam, mas a massa de bicicletas ocupava todas as cinco faixas da avenida no sentido do bairro-Paraíso e - pelo que foi possível ver - tomava cerca de duas quadras, uns 200 metros.

 

Os participantes vieram de todos os cantos da cidade, desde o bairro do Tucuruvi, na zona norte, até Grajaú, no extremo sul, incluindo Vila Formosa e Itaquera, na zona leste, e Butantã, na zona oeste da capital paulista. E havia gente de todas as idades, desde crianças bem pequenas até alguns raros octagenários. Gente de calça social e gravata, trabalhadores de entregas, famílias inteiras e muitos, muitos jovens.

 

Escoltado por motociclistas da policia militar, o pelotão de bikes fechou o trânsito em algumas esquinas, para desespero dos motoristas, mas respeitou rigorosamente todos os semáforos e faixas de pedestres. E abriu espaço para duas ambulâncias que pediam passagem. Enfim, o clima foi de uma serenidade incomum, salvo por alguns bate-bocas com motoristas e motociclistas mais afoitos ou distraídos. Kassab, o prefeito, também não foi poupado pelos manifestantes, que o apontavam como o principal responsável pelos acidentes com ciclistas e pedestres na capital paulista.

 

A marcha parou duas vezes na Paulista para lembrar as duas ciclistas mortas na avenida nos últimos anos: Márcia Prado, em 2009, e Julia Dias, na semana passada. Velas foram acesas, bikes e corpos pintados no asfalto, bem ao lado das duas "bicicletas fantasma" que as homenageiam.

 

Embora vários grupos organizados tenham participado da manifestação, ninguém assumiu qualquer papel de direção. Como acontece nos protestos na Wall Street, em Nova York, em Barcelona e outras cidades da Europa, há uma deliberada ausência de liderança, fenômeno estranho para mim, quando lembro dos protestos contra a ditadura nos anos 1978 a 1980. Apenas cartazes, plaquetas e camisetas avisavam: "Menos um carro...Desarme-se...Mais amor, menos motor!... Movido a arroz e feijão...Sua pressa vale uma vida?...Meu veículo não polui. E o seu?... Mais respeito à vida!"... e coisas assim.

 

A massa de magrelas andou lenta até a esquina da Paulista com a rua Treze de Maio e dali seguiu para o bairro da Bela Vista, num raro trecho em que foi possível imprimir maior velocidade. Algumas paradas depois, o grupo seguiu até a Câmara Municipal, passou pela praça da Sé e seguiu até a sede da prefeitura, no viaduto do Chá. Dali, às 22h30, o pelotão foi dispersando. Tarefa cumprida, fim da noite.

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