Os trens da Linha 10-Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) não voltarão à estação da Luz, no centro da capital paulista. Eles passarão a ter o Brás como estação terminal. Em audiência pública que durou quase quatro horas na Câmara Municipal de Santo André, nesta segunda-feira (27), a companhia defendeu a mudança adotada em agosto de 2011 e prometeu melhorias na linha.
Ao reforçar que a volta dos trens à estação da Luz é “tecnicamente” inviável, o presidente da empresa, Mário Bandeira, lembrou que o passageiro do ABC paulista será beneficiado com a redução do headway (intervalo entre os trens) de sete para cinco minutos em horário de pico, com um novo e moderno sistema de sinalização dos trens, com a ampliação da frota (inclusive com carros com mais vagões) e com a chegada do Expresso ABC.
As reivindicações dos usuários presentes na audiência eram pontuais. Eles protestaram contra a superlotação na baldeação no Expresso Leste, necessária desde que a Luz deixou de fazer parte do ramal, e questionaram a veracidade da pesquisa de opinião realizada pela CPTM em 2011, apontando que 55% dos usuários estavam satisfeitos com o serviço oferecido após as mudanças.
“Gostaria de pedir que levante a mão aquele que respondeu este questionário“, indagou Julio Campano, morador de Santo André. “Estão vendo? Vocês não consultaram a população”, ponderou.
Mário Bandeira explicou que a pesquisa foi realizada com mais de 60 mil usuários e alertou para a saturação da estação histórica. "A Luz não comporta três linhas de trem. Isso coloca em risco a segurança dos passageiros. Por isso optamos pela mudança", afirmou. “Existe conflito de embarque e desembarque na Luz, problemas técnicos na plataforma e na sinalização”, argumentou o diretor de operação da empresa, José Luiz Lavorente.
Patrimônio histórico
Ao todo, 465 mil pessoas passam diariamente pela Luz, estação tombada como patrimônio histórico. De acordo com a CPTM, a Linha Turquesa acabou escolhida para o corte por já contar com duas conexões com o Metrô, no Brás e no Tamanduateí. “Concluímos que 63 mil pessoas usam a Linha Turquesa até a Luz. Mas na Linha Rubi, por exemplo, este número é mais do que o dobro”, alertou Bandeira.
A insatisfação de moradores do ABC paulista que estavam na audiência pública era tamanha que houve quem creditasse a manobra a uma “decisão política”. O deputado estadual Carlos Grana (PT) chegou a convidar a diretoria da CPTM a experimentar a baldeação na estação Brás 10 durante o horário de pico. Um advogado da OAB de Mauá levantou a possibilidade de levar a questão ao Ministério Público, sob justificativa de que a modificação do itinerário fere artigos do Código do Consumidor.
Acuado, Bandeira reconheceu, no entanto, que a empresa falhou na divulgação da mudança na linha. “Faço aqui uma mea culpa. Não criamos comunicação direta com o usuário; deveríamos ter feito um trabalho melhor antes da decisão final”, admitiu.
Líder do Consórcio Intermunicipal do ABC, o prefeito de Diadema, Mário Reali (PT), disse ter compreendido os motivos apresentados pela CPTM, mas estava “indignado como cidadão”. “Espero que, com os futuros investimentos da CPTM e do Metrô, essa decisão não seja para sempre", finalizou.
A retirada dos trens da Linha 10 da estação da Luz já completa seis meses. Em agosto de 2011, a companhia de trens anunciou que o trecho Brás-Luz seria interditado provisoriamente para reformas. No fim do ano, no entanto, a CPTM anunciou que a manobra era definitiva e o Brás passaria a ser a parada final.
A alteração faz com que passageiros que vêm do ABC tenham que aumentar o percurso até a Luz em quase 30 minutos, uma vez que é necessário realizar uma baldeação no Brás, completando o trajeto com os trens da Linha 11-Coral. Estas composições, no entanto, já chegam abarrotadas de passageiros da zona leste de São Paulo, fato que revoltou os usuários da Linha 10.
Desde então, a mobilização na internet tem sido grande. Na rede social Facebook, por exemplo, a página “Queremos a Linha 10 da CPTM de volta a Luz” tem mais de 800 participantes.
Expresso ABC
Em meio ao clima de animosidade entre CPTM e moradores, o diretor de Planejamento da companhia, Silvestre Ribeiro, anunciou algumas novidades que podem ser entendidas como compensações.
Segundo ele, o processo de licitação de estações do futuro Expresso ABC está em andamento. A nova linha expressa – que servirá as estações de Mauá, Santo André, São Caetano, Tamanduateí e Brás – deverá entrar em operação em 2015. “Mas 2015 é muito longe. Eu trabalho amanhã”, rebateu Rosana Pegoraro, uma das moradoras do ABC que participaram da audiência.
O dirigente revelou a intenção da CPTM em integrar a passagem do trem com o bilhete dos ônibus municipais no ABC paulista. A iniciativa será implantada, em um primeiro momento, em São Caetano do Sul. Ainda sobre o Expresso ABC, Ribeiro afirmou ainda que “as estações serão todas redesenhadas para cumprir as normas universais de acessibilidade”.