Cidade brasileira com os maiores problemas de mobilidade do país, São Paulo não tem, apesar disso, nenhum projeto ou estudo em vista para implantação de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), transporte reconhecidamente eficiente, limpo e sustentável. A contradição, apontada na manhã de hoje (9) no debate sobre mobilidade urbana promovido pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), animou o evento. Na sua palestra, o consultor na área de transportes Peter Alouche defendeu entusiasticamente o VLT e o caminho da tecnologia como meio de solucionar os desafios de mobilidade do país.
Sem descartar outros sistemas, entendidos como essenciais para compor uma rede integrada de transportes urbanos, Alouche, no entanto, não escondeu sua predileção pelo VLT: "Sistema de média capacidade, ele tem todas as vantagens: proporciona inserção perfeita com a cidade, sua implantação induz à renovação urbana, é confortável, silencioso, e tem o poder de atrair o usuário do carro". Rebateu ainda o argumento contrário ao sistema, em função do custo alto de sua implantação: "É caro? Pois que seja. Porque por isso mesmo envolve mais responsabilidade ao ser estruturado. O custo na verdade é indicador de que se está investindo num transporte mais durável, de construção cuidadosa e maior qualidade. É como o metrô, que não teria acontecido se pensássemos assim", desafiou.
Ele lamenta que "bons projetos de VLT nunca tenham saído do papel" e questiona: "Por qual motivo não temos esse sistema em São Paulo? Não dá mais para ficar só no ônibus, mesmo em corredores exclusivos, porque são sistemas que se esgotam mais rápido". E cita Curitiba e o Transmilênio, na Colômbia, como sistemas que vem se tornando ineficazes. Para Alouche, um projeto que promete ir adiante é o VLT na Baixada Santista. "Não podemos mais adotar soluções provisórias, que se esgotam".
SP 2040
A primeira palestra do seminário “Mobilidade Urbana no contexto do plano estratégico do SP 2040” foi de Miguel Bucalem, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, que explicou o plano que começou a ser esboçado em 2007 pela prefeitura. Para orientar as ações de planejamento, atendendo ao desejo dos cidadãos por uma cidade melhor, 25 mil paulistanos já foram consultados na pesquisa "A Cidade que Queremos'. E justamente a mobilidade urbana é o ponto mais citado nessa amostragem da população. “Chegar ao trabalho com conforto”, que é compatível com pedir "maior fluidez da cidade", foi o item mais ressaltado. Segundo Bucalem, para que esse desejo se transforme em realidade, será preciso reverter o modelo atual, em que a cidade se esprai cada vez mais, e criar uma cidade policêntrica e compacta, ou seja, em que as pessoas possam ficar próximo ao seu local de trabalho e dispor de uma rede de transporte inteiramente integrada, explicou o secretário.
A expansão da rede metroferroviária é uma das ações que apontam para esse futuro. Hoje o metrô tem 74 km de extensão, e a meta é chegar a 82 km em 2014, 220 km em 2025 e 300 km em 2040. Bucalem reafirmou a meta de construção de 10 km de metrô por ano, com a cobertura da cidade toda já atingida em 2025.
O último painel do evento tratou dos chamados bolsões verdes –estacionamentos estratégicos para reduzir o transporte individual e gerar melhorias da fluidez do coletivo. Participaram do seminário especialistas, secretários municipais e estaduais, representantes do governo federal, entre outros.
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