Aconteceu no dia 7, na sede do Metrô de São Paulo, no centro da cidade, uma reunião entre o presidente da entidade, Sérgio Avelleda, o diretor de operações do metrô, Mário Fioratti, e os ciclistas Maurício Alcântara, Raphael Monteiro de Oliveira, Lídia Arrais e Fernanda Krajuska, membros do coletivo Ciclo Liga.
A reunião foi marcada alguns dias depois da divulgação de um vídeo produzido pelo coletivo mostrando a dificuldade de se cumprir a norma do metrô que obrigava os ciclistas a transportarem suas bikes apenas pelas escadas fixas das estações. Além do vídeo, foi também divulgada uma carta aberta ao metrô com sugestões de melhorias. O vídeo teve grande repercussão, com mais de dois mil acessos nos cinco primeiros dias. Em de 27 de janeiro, quatro dias depois da divulgação do vídeo, metrô, ViaQuatro – concessionária que administra a linha amarela – e CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) anunciavam a liberação do uso das escadas rolantes para transporte da bike em caráter de teste e apenas nas subidas.
A medida entrou em vigor no dia 4 de fevereiro e teve grande repercussão entre os ciclistas. Até o momento, segundo o próprio presidente do metrô, não houve qualquer ocorrência negativa envolvendo bikes, usuários e escadas rolantes.
Reunião
O Na Bike acompanhou a reunião entre Avelleda, Fioratti e os ciclistas do coletivo. Entre os principais temas abordados estava a justificativa para a proibição, mesmo em caráter de teste, do uso da escada rolante no sentido da descida. O diretor de operações do metrô, Mário Fioratti, explicou que durante os testes realizados, constatou-se que as rodas da bicicleta não se encaixam perfeitamente nos degraus, e que um “tranco” do degrau mais alto na roda traseira projeta o ciclista e sua bike para a frente. Para um ciclista experiente, argumentou Fioratti, esse tranco pode ser dominado com facilidade, mas para um ciclista menos experiente pode representar um risco de queda. O metrô, explicou o diretor, é uma empresa conservadora no que se refere a medidas de segurança, e todo procedimento que, de algum modo, pode colocar em risco a integridade física dos usuários, é rejeitado.
Solução
Facilitar o transporte da bicicleta na descida, contudo, não é um tema fechado. Avelleda e Fioratti adiantaram que já está em estudo o uso de canaletas nas escadas fixas para tornar a tarefa mais simples, e pediram ajuda aos ciclistas do coletivo para identificarem as estações com maior necessidade de recebê-las em um primeiro momento. O mundo ideal, disse o presidente do metrô, seria o transporte feito por elevador. Mas, infelizmente, os elevadores das estações (e toda a estrutura metroviária, na verdade) não foram projetados contemplando as formas, medidas e especificidades de uma bicicleta. A canaleta é uma medida paliativa, mas eficiente, para um problema que é, antes de tudo, cultural. A discussão sobre o transporte intermodal é relativamente nova por aqui se comparada a capitais européias, por exemplo, e a bicicleta no metrô é uma presença recente, de não mais que cinco anos. Sendo assim, é preciso adaptar as estações prontas às bikes e às necessidades dos ciclistas e, futuramente, pensar as novas estações já contemplando a integração bike + metrô.
Novidades
Além das canaletas nas escadas fixas, Avelleda também falou de outra novidade: a ampliação da ciclovia da Radial Leste, que hoje vai de Itaquera até o Tatuapé. Com a ampliação, prevista para ser entregue em 2014, a ciclovia chegará ao Parque Dom Pedro. O projeto ainda está em fase de licitação.
Durante a reunião, foi levantada a questão da obrigatoriedade de transportar as bicicletas dobráveis no metrô envolvidas em suas sacolas de proteção com a justificativa de evitar riscos aos demais usuários. A norma foi questionada pelos ciclistas do coletivo e pelo próprio presidente da entidade, que também usa a bike como meio de transporte. Ao ser colocada na sacola, a dobrável não pode mais ser empurrada – um dos seus trunfos de mobilidade – e torna-se ainda mais difícil de ser transportada do que uma bike convencional. Avelleda citou sua experiência por dez dias com uma Brompton, bike dobrável inglesa, cujo sistema de dobra permite que a bicicleta vire um carrinho fácil e leve de ser empurrado. Com a sacola, a Brompton se transforma em uma mala sem alça, pesada e desajeitada. Tanto o presidente do metrô quanto o diretor de planejamento disseram não haver pensado ainda no assunto, e naquela mesma hora, incluíram na pauta oficial da entidade a busca de uma solução para o problema.
Abertura
Sérgio Avelleda e Mário Fioratti mostraram-se completamente abertos às sugestões dos ciclistas. Avelleda foi além, e disse que marcaria uma reunião entre os membros do coletivo e outros ativistas com uma das equipes técnicas do metrô para que novas melhorias fossem propostas e executadas. Além disso, Avelleda também se propôs a colocar em contato os ciclistas da Ciclo Liga e o Secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, para pensar formas de promover a união entre CPTM, Metrô e EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) de forma que as três entidades ofereçam soluções integradas para a bicicleta. “A boa vontade é imensa de receber a bicicleta. Às vezes seremos obrigados a dizer não porque há outros valores para atender que são mais importantes. Agora, quando isso não colocar (os usuários) em risco, nós vamos avançar. E isso porque achamos que a solução para a mobilidade é a integração dos modais”, disse Sérgio Avelleda.
Mais um passo adiante.
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