Atualmente, segundo o Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran), 781.197 veículos circulam diariamente na Capital. Para vivenciar de perto todos esses transtornos, a equipe de reportagem do Diário do Nordeste percorreu algumas das principais vias para saber quanto tempo o fortalezense passa no trânsito em um simples deslocamento. Outra preocupação que vai além do dia a dia é como será o fluxo de veículos diante das intervenções para a Copa de 2014.
Um dos trajetos avaliados teve como ponto de partida a rotatória da Avenida Alberto Craveiro, em frente ao Estádio Castelão, e de chegada a Avenida Desembargador Moreira, em frente à Praça da Imprensa. A equipe saiu às 7h35 e chegou no destino às 8h10, totalizando 35 minutos de viagem. Contudo, segundo o site Google Maps, o trajeto de sete quilômetros deveria ser feito em 14 minutos, ou seja, diante do trânsito intenso, gastamos mais do que o dobro do tempo.
Outro trecho percorrido teve como ponto de partida o Aeroporto Internacional Pinto Martins com destino a Avenida Beira-Mar, trajeto bastante procurado pelos turistas. O percurso de 12,6 quilômetros, de acordo com o dispositivo do Google, deveria ser feito em 22 minutos. Porém, a equipe iniciou o trajeto às 8h50 e só chegou ao destino às 9h30, um total de 40 minutos.
Há oito anos, o taxista Carlos Alberto Araújo, lotado no Aeroporto Internacional Pinto Martins, faz o mesmo percurso. Segundo explica, há quatro anos, gastaria 40 minutos no trajeto de ida e volta. Porém, atualmente, passa o mesmo período para percorrer apenas um trecho. "É um absurdo, isso causa transtornos para nós e para os turistas, que esperam horas até chegar ao destino. É preciso fazer algo urgente. Senão, quando vierem as intervenções da Copa, a situação vai ficar insustentável", diz.
Os transtornos no trânsito não são apenas no período da manhã. À medida que vai anoitecendo, a quantidade de veículos circulando nas vias da Capital aumenta, causando novos engarrafamentos. Quem trafega na Washington Soares às 17h30 já sente as consequências de um trânsito que piora diante da falta de paciência dos condutores.
Naquele horário, quem parte do cruzamento das avenidas Antônio Sales com Engenheiro Santana Júnior no sentido praia/sertão e deseja chegar ao recém-inaugurado viaduto da Avenida Maestro Lisboa gasta meia hora, no entanto, deveria realizar o percurso em pelo menos 19 minutos, segundo o Google Maps.
Quem sai da BR-116 e pega a Aguanambi para chegar à Domingos Olímpio perde, em média, 40 minutos, percurso que poderia ser feito em apenas seis minutos, o que é impossível pela grande quantidade de semáforos e veículos trafegando.
SOLUÇÕES
Segundo o chefe do Núcleo de Trânsito da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC), Arcelino Lima, para evitar complicações durante os período das intervenções para a Copa do Mundo, estão sendo avaliadas e planejadas algumas soluções como restrição de caminhões em mais vias da Capital durante o horário de pico, regulamentação de vias prioritárias para transportes coletivos e táxis com passageiros, além de sinalizações verticais e horizontais em todas as vias em obra.
Porém, segundo ele, não há previsão para a contratação de mais fiscais, nem para realização de um novo concurso, o que, conforme Arcelino Lima, deixa um déficit na fiscalização.
"A Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda pelo menos um fiscal para cada mil veículos. Portanto, se temos 781 mil circulando na Capital, deveríamos ter 781 fiscais, mas só temos 421. Por enquanto, estamos resolvendo com sinalização", conclui.
PROBLEMAS
40 minutos é o tempo que leva o motorista que sai da BR-116 para chegar à Domingos Olímpio. O percurso deveria ser feito em apenas seis minutos
421 fiscais de trânsito atuam na Capital atualmente. Segundo recomendação da ONU, o número de funcionários deveria ser, pelo menos, 781
1788 ônibus e 320 vans circulam, diariamente, em Fortaleza, segundo a Etufor, que elabora projeto de corredores prioritários, não exclusivos para os coletivos
ETUFOR FARÁ VIAS PRIORITÁRIAS PARA TRANSPORTES PÚBLICOS
Há 13 anos trabalhando como mototaxista, Francisco de Assis Gomes Fernandes, 37 anos, diz que quase nada foi feito no tocante à mobilidade urbana. "Está quase impossível trafegar nas grandes avenidas nos horários de pico. O que já era complicado há dez anos, ficou ainda pior", avalia. Ele, que conhece bem todas as vias da cidade, considera as avenidas Raul Barbosa e Domingos Olímpio umas das piores. "Só melhora depois das 20h, não adianta", afirma.
Um dos principais problemas que dificultam a mobilidade na Capital apontados pelo motorista é a falta de corredores exclusivos para os transportes públicos (vans e ônibus). "A Prefeitura tem que achar alternativas com resultados imediatos, caso queira ter uma Copa do Mundo organizada e sem caos do trânsito".
Segundo Ademar Gondim, presidente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), entre dezenas de projetos, um em especial está sendo elaborado ainda para este semestre: corredores prioritários, não exclusivos para ônibus.
Ele explica que, de acordo com a lei de mobilidade urbana12.587, do dia 3 de janeiro de 2012, o transporte coletivo tem prioridade sobre o individual e o público sobre o privado. Portanto, em cinco avenidas de Fortaleza (Leste- Oeste, Bezerra de Menezes, Perimetral, José Bastos, e Aguanambi) será reservada uma faixa prioritária para ônibus e vans. "Temos que priorizar o coletivo. A partir dessas novas faixas, a população chegará com mais rapidez ao seu destino".
Segundo ele, as faixas prioritárias são soluções mais urgentes do que os corredores exclusivos, pois, para estabelecer a segunda opção, é necessário realizar desapropriações demoradas e viabilizar uma valor maior de recursos financeiros. Já com a faixa prioritária, basta realizar a sinalização necessária.
DEMANDA
Ademar Gondim afirma que, atualmente, circulam em Fortaleza 1.788 ônibus e 320 vans. Ele acrescenta que, além das faixas prioritárias, a Etufor está realizando um estudo para modificar o local das paradas de ônibus de acordo com o fluxo. "O trânsito é vivo, devemos mudar sempre".
Fonte: Diário do Nordeste
Leia também:
Nos ônibus, sufoco é ainda maior
Governador vistoria obras da linha sul do metrô de Fortaleza
Fortaleza: Pedido de suspensão das obras do Veículo Leve sobre Trilhos é negado