Teleférico, o pulo do gato no Rio de Janeiro

Em operação há seis meses, sistema de transporte por cabos recebe elogios e críticas de usuários

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Silvia Pereira  |  Postado em: 24 de janeiro de 2012

O Teleférico do Alemão

O Teleférico do Alemão

créditos: Silvia Pereira
Um milhão, cento e cinquenta mil passageiros: é o que o Teleférico do Alemão, no Rio de Janeiro, já transportou em seis meses de operação. E desde que o sistema passou a ser controlado, a média diária chega a 10 mil passageiros por dia, com eficiência operacional de 99%, diz o diretor operacional do serviço, Luis de Sousa. Implantado pelo governo federal ao custo de R$ 210 milhões, o novo transporte - aéreo e por cabos - é pioneiro no Brasil e já vem se tornando referência turística e de logística da cidade. 
 
A meta da Supervia, que administra o sistema, é chegar a 30 mil passageiros por dia à medida em que o novo transporte se incorpore à rotina das pessoas, com o incentivo de uma tarifa diferenciada para os moradores da comunidade.
 
A tarifação funciona com vantagens para o morador,  que dispõe de duas passagens gratuitas, diariamente. Após essa utilização, ele passa a pagar R$ 1 e, ainda, quando cadastrado no RioCard Vale-Transporte da Fetranspor - Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro, tem a facilidade da tarifa integrada trem/teleférico. Por esse sistema, embarcando de qualquer estação da Supervia, a tarifa total (trem+vlt) sai por apenas R$ 2,80.
 
De câmera fotográfica a tiracolo, a turista Mariza Sanches, de Mato Grosso do Sul, passeava de teleférico quando falou à reportagem do Mobilize Brasil. Em sua visão, o transporte deveria ser subsidiado pela renda dos turistas que todo dia vem à cidade e visitam o equipamento. Para ela, mesmo a tarifa atual de um real representa um custo alto para uma população de baixa renda como a do Alemão.
 
Transporte e lazer 

Já quanto à atração proporcionada pela paisagem, não há discordâncias. Viajar pelo Teleférico do Alemão é  ter uma vista panorâmica nunca antes experimentada nas 15 comunidades na região. Para o trajeto aéreo de 3,5 km de extensão, o transporte conta com 152 gôndolas, cada uma com capacidade para 10 passageiros. O serviço funciona de segunda a sexta, das 6h às 21h; sábados das 8h às 20h; e domingos e feriados das 9h às 15h. Mesmo depois de seis meses de operação, as gôndolas continuam como novas, com boa manutenção e limpeza, sem sinais de vandalismo.
 
Há seis estações de embarque/desembarque. A primeira, em Bonsucesso, é uma estação intermodal, integrada ao sistema ferroviário de transporte. Para Luis de Sousa, os investimentos no sistema ferroviário, feitos agora sob a nova gestão da Odebrecht TransPort, vem se somar à integração nessa estação, "beneficiando positivamente o teleférico e todo o sistema de transportes", enfatiza. Em seguida vem a Estação do Adeus, localizada em uma das comunidades mais importantes do complexo do Alemão, antes só acessável por meio de longas escadarias.
 
A terceira estação, a Baiana, no bairro de Ramos, é o "motor", ou "cérebro" de todo o sistema, pois dali os técnicos fazem o monitoramento online, em tempo real, de todo o sistema de segurança das gôndolas, durante os 16 minutos entre um trajeto e outro. É também na Baiana que atuam os técnicos que fazem a manutenção dos cabos. Eles foram treinados por profissionais colombianos, a partir da experiência de Medellin, inclusive para ações de socorro e resgate no caso de falhas no sistema.
 
Depois da Baiana, vem a estação Alemão, situada na comunidade que batiza o complexo, seguida da estação Itararé/Alvorada, onde há integração com o conjunto habitacional da Poesi, na estrada do Itararé, e também com o colégio estadual Jornalista Tim Lopes. Ao chegar à última estação, Palmeiras, no bairro de Inhaúma, o teleférico faz o retorno.
 
Apesar das seis estações, a abrangência ainda não é satisfatória a todos os moradores da região. Esta é a crítica de Adeílson Pereira, nascido na Paraíba e criado no Alemão, para quem faltou ao governo ouvir a comunidade para saber das suas reais prioridades. Segundo ele, o teleférico só atende aos que vivem mais perto ao topo dos morros, o que não é o caso dele e de seus vizinhos, que ainda vivem diariamente a dificuldade de ter que caminhar durante meia hora até o ponto de ônibus mais próximo.
 
Modelo colombiano

Inspirado no MetroCable de Medellín, na Colômbia, o teleférico carioca, a exemplo desse modelo de transporte, baseou seu projeto de infraestrutura no conceito de desenvolvimento social, até porque ambos vinham de um contexto histórico de violência urbana semelhante. Assim, além de meio de transporte, o Teleférico do Alemão cumpre o papel fundamental de inserir os habitantes dos morros na vida e oportunidades do asfalto, nas áreas centrais da cidade do Rio.
 
Nas estações, dispõe de serviços que agregam valores de cidadania, em postos do Detran, INSS, correios, agências do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Além disso, abriga Centro Cultural com auditório e biblioteca, Centro de Referência da Juventude, com atividades de esporte e cursos de capacitação profissional.
 
 
Também para quem vem de fora o teleférico contribui para uma mudança de conceitos. É o que pensa Zaíde Almeida, aposentada e moradora de Vaz Lobo, na zona norte da cidade, que frisa a importância de o turista conhecer esse lado do Rio. De acordo com ela, "o mundo inteiro só conhece o lado romanceado e bonito da Cidade Maravilhosa", e o teleférico dá a oportunidade de se ver o lado real e miserável das favelas cariocas. "Quem sabe assim as coisas mudam", sonha.
Estação Palmeiras do Teleférico

Estação Palmeiras do Teleférico

créditos: Silvia Pereira

 

Alemão, ou melhor, polonês

O Morro do Alemão é oficialmente, desde 1993, um bairro. Na origem, havia ali uma enorme fazenda que perdurou até o final do anos 1940 e que deu origem ao nome do lugar, posto que seu primeiro proprietário, um imigrante de origem polonesa, de aparência ariana, foi confundido pelos moradores da época com um germânico. Com o tempo, a designação "Alemão" se estendeu a partes dos bairros vizinhos de Ramos, Penha, Olaria, Inhaúma e Bonsucesso.
 
Hoje, quinze favelas formam o complexo do Alemão: os Morros da Baiana e do Alemão, Alvorada, Matinha, Morro dos Mineiros, Nova Brasília, Pedra do Sapo, Palmeiras, Fazendinha, Grota, Morro da Chatuba, Caracol, Favelinha, Caixa D’água e Morro do Adeus.
 
A explosão demográfica que geraria inúmeras invasões nos terrenos do “Alemão” nos anos 80 tivera início após o então governador Leonel Brizola desapropriar parte da antiga fazenda para dar espaço aos migrantes nordestinos que chegavam para tentar a sorte no Rio. A década seguinte veio com o tráfico de armas e drogas, que só aumentou seu império de dominação nos vinte anos seguintes.
 
Também conhecida como "o berço dos bailes funk", a região realizou festas famosas como as da Chatuba e Grota, que varavam a noite regadas a drogas e sexo, inclusive entre menores de idade.
 
No final de 2010, o Alemão foi palco de uma invasão "cinematográfica" da Polícia Militar, com apoio da Marinha. E a operação especial para tomar o controle da Vila Cruzeiro, quem não lembra? Os traficantes fugiram para o complexo do Alemão e, no dia 26 de Novembro, as polícias Militar, Federal e Civil, ao lado das Forças Armadas, se posicionaram nos arredores do morro para tentar dar fim ao controle do tráfico na região.
 
Ainda sob proteção do Exército nas ruas, o Alemão, durante décadas esquecido e mesmo segregado pelo poder público, aguarda agora pela instalação de uma UPP, que promova a pacificação, a exemplo de outras comunidades como a Rocinha, o Morro da Providência, o Pavãozinho Cantagalo em Ipanema, entre outras já pacificadas.
 
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