Existem modas para tudo. As saias das moças sobem e descem acima e abaixo dos joelhos; o salmão passa a ser mais conhecido como cor do que como um delicioso peixe; as tatuagens e piercings enfeitam as costas, os braços, as pernas e dizem que até outras partes dos corpos dos jovens e das jovens. Também nas áreas da engenharia elas surgem e durante algum tempo se impõem. Processos construtivos, métodos de cálculo, equipamentos, materiais têm suas épocas. Apesar de modas, quando ocorrem situações meritórias um bom resíduo fica no fundo do cadinho, enquanto a impureza se esvai como fumaça.
Penso que em todas as profissões existam modas. Muitas vezes elas têm motivos práticos, pecuniários ou não. Vejamos na medicina: um alto percentual dos nascidos nos anos 40 ou 50 não têm amígdalas, outro tanto teve seus apêndices extraídos. Hoje não vemos essas cirurgias serem tão amplamente usadas. Talvez os tratamentos menos invasivos tenham se desenvolvido tanto que os mais traumáticos puderam ser descartados na maioria dos casos. Ou também existem modas na medicina?
Na engenharia, vez por outra, surge um tema que polariza a atenção dos profissionais. Associações são constituídas, seminários, simpósios e os modernos workshops são organizados. Papas no assunto aparecem, por mérito ou autonomeados, e viajam de norte a sul, de leste a oeste e vão o exterior – muitas vezes a moda é internacional – pontificando como autoridades da novel especialidade sem a qual a humanidade ou a economia nacional sofrem riscos iminentes. Surgem consultorias na área e rolam apoios para os eventos e para as viagens, com diárias etc.
Nos últimos três lustros a acessibilidade, tema meritório, tem tido esse tipo de atenção. Avanços têm sido observados para os portadores de necessidades especiais, idosos, gestantes, acidentados e outros. Ao longo desse tempo, categorias profissionais tentam ter o monopólio do tema, encontros variados têm se verificado em inúmeros aprazíveis locais do nosso país. Se entrarmos nos mecanismos de procura na Internet com a chave acessibilidade, encontraremos milhares de endereços, tratando do tema dos mais diferentes pontos de vista.
Nem sempre, no entanto, as realizações físicas, as que beneficiam as comunidades, andam numa velocidade compatível com a parte soft do tema. É o caso das calçadas de Brasília. Tema também na moda, já que sobre ele, diversas reportagens têm sido veiculadas. Por uma questão de justiça devo dizer que a capital do país é, em geral, muito cuidada e que as questões de acessibilidade têm sido observadas. Restam, no entanto, muitas localidades em que as providências compatíveis ainda não foram tomadas. Uma outra questão é que certas opções urbanísticas não foram felizes e conduziram a soluções bastante antiesteticas ou indequadas ao deslocamento das pessoas. As fotos abaixo retratam essas situações.
Nas fotos aparecem calçadas desniveladas, com degraus e obstáculos nas 715 e 716 norte. Terá sido essa situação autorizada? Haverá fiscalização para exigir correções?
A CLN 316, tem prédios comerciais bem construídos. Os desníveis vencidos por escadas e rampas faz pensar que Brasília está situada num terreno de montanha. A topografia adotada tirou sua funcionalidade.? Um passeio pelas lojas da quadra se constitui num forte exercício para as pernas pelo subir e descer escadas.
As comerciais CLN 205 e CLN 206 mostram um grande equívoco urbanístico. As quadras residenciais suas vizinhas são muito prejudicadas pelo que alí foi construído. Na foto um pedestre caminha pela pista de rolamento, pois a calçada é inadequada. Aqui também os desníveis dificultam o deslocamento e em muito prejudicam o comércio local.
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Brasília é certamente uma cidade planejada, mas seu planejamento eventualmente não produziu os melhores resultados. E disso vamos falar aqui, mesmo sabendo que é muito mais fácil criticar do que fazer.
Email: danilosiliborges@gmail.com
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