Em Fortaleza, programas citam, mas não avançam na mobilidade

Entre os cinco candidatos que lideram as pesquisas na capital do Ceará, apenas o programa de Renato Roseno detalha suas propostas para a mobilidade sustentável

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marilia Hildebrand e Marcos de Sousa/ Mobilize  |  Postado em: 02 de novembro de 2020

BRT em operação na capital cearense

BRT em operação na capital cearense

créditos: FortalBus


Referência nacional na adoção de práticas de mobilidade sustentável, Fortaleza não transparece esse avanço nas propostas dos cinco candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto. 
Entre os programas de Wagner Souza Gomes (PROS), Luizianne Lins (PT), José Sarto (PDT), Renato Roseno (PSOL), e Heitor Férrer (PSL), apenas o texto de Renato Roseno atende à quase totalidade dos critérios de avaliação adotados pelo Mobilize na análise que está realizando em várias capitais do Brasil.


Nas duas gestões do atual prefeito Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra a capital do Ceará se destacou pela ampliação de sua rede cicloviária, pela implantação de sistemas públicos de bicicletas compartilhadas, além da requalificação de várias vias, visando à redução de mortes no trânsito. Nesse período, a cidade também estruturou um marco legal que dá corpo às redes de mobilidade ativa, entre outras iniciativas.


Assim, há um evidente descompasso entre os programas registrados no TSE e a imagem vanguardista que Fortaleza conquistou na área de mobilidade urbana.
A maioria dos programas, como é o caso do texto de José Sarto - que conta com o apoio do prefeito atual - são exageradamente sintéticos em apresentar seus eixos de ação, provocando a disparidade revelada no infográfico. A rápida observação do número de páginas de cada um dos programas já deixa transparecer tal fato, uma vez que enquanto o programa do candidato do PSOL se alonga em 101 páginas, os demais variam entre 5 e 10 páginas de conteúdo.  É importante pontuar, que alguns desses programas atribuem sua economia de conteúdo à necessidade de construção de um programa de governo coletivo, com participação popular.

 

Algumas citações, poucas propostas
A proposta de Heitor Férrer cita brevemente alguns pontos ligados ao tema: passe livre estudantil, expansão da tarifa social, linhas (de ônibus) 24 horas, manutenção do preço da passagem, adoção de tecnologias de inteligência artificial e big data na melhoria dos serviços de transporte, e prioridade de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais.


Wagner Souza Gomes incluiu a mobilidade urbana como um dos principais eixos de seu programa, mas no detalhamento dos planos cita somente a "ampliação da malha cicloviária da cidade, com ênfase para o aumento da oferta de novas vias na periferia, a criação de um aplicativo que auxilie pessoas com deficiência a identificar os ônibus antes de embarcar, bem como aviso sonoro e visual ao motorista sobre a presença de um passageiro nessa condição e aumento do número de semáforos, com alerta sonoro, nos principais cruzamentos".


Luizianne Lins cita a mobilidade como um dos problemas centrais da cidade e aponta a necessidade de aproximar moradias e locais de emprego para reduzir a necessidade de transporte. José Sarto também inclui a mobilidade entre os eixos centrais de seu programa e nomeia explicitamente a "mobilidade sustentável", mas não evolui em propostas para o tema.


O programa de Renato Roseno cita 53 vezes a palavra mobilidade, tema que está sumarizado em pelo menos cinco das 50 propostas iniciais que resumem e apresentam texto. Entre as ações  está a "criação de uma secretaria de mobilidade, capaz de planejar e prover ações prioritariamente voltadas ao transporte público e não motorizado em detrimento do transporte individual motorizado, com o objetivo de implantar medidas tais como: ciclofaixas, ciclovias, corredores exclusivos de ônibus, vias exclusivas para pedestres, ações educativas, melhoria de calçadas, medidas de moderação de tráfego e demais estratégias de gestão da mobilidade". Ou ainda, o abandono progressivo do transporte individual motorizado para dar lugar e recursos aos meios de transporte socialmente mais inclusivos e eficientes energeticamente, isto é: a pé, de bicicleta e por transporte público coletivo...". O texto inclui ainda temas como o passe livre, tecnologia no transporte, acessibilidade e maior transparência na gestão do sistema de transporte.


Todos os cinco programas mencionam o problema estrutural da desigualdade e apostam participação social e transparência como forma de construir políticas públicas para Fortaleza.


Mas, cabe lembrar que programas podem ser "esquecidos" tão logo os eleitos assumam seus cargos nas prefeituras. Afinal, a Lei 9.504/97 , que regula as eleições, obriga os candidatos a apresentarem programas à Justiça Eleitoral, mas não estabelece nenhuma penalidade, caso o eleito não seja fiel ao que prometeu ao eleitorado. Daí para a frente o jeito é fiscalizar e pressionar o novo prefeito.


Leia os programas dos candidatos a prefeito em Fortaleza:
Anizio Santos de Melo (PCdoB)
Celso Studart Barbosa (PV)
Heitor Férrer (PSL)
José Loureto (PCO)
José Sarto (PDT)
Luizianne Lins (PT)
Paula Colares (UP)
Renato Roseno (PSOL)
Samuel Braga (Patriota)
Wagner Souza Gomes (PROS)

Clique, amplie e consulte a análise dos programas:

 



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