Guayaquil é a cidade mais populosa e maior porto do Equador. E tal como nas outras grandes cidades equatorianas o transporte público está baseado em corredores exclusivos de ônibus diesel, os BRTs. Os ônibus chegaram a Guayaquil nos anos 1920, mas foi somente a partir dos anos 1950 que o transporte sobre pneus se tornou majoritário. Por volta de 1991, com o crescimento da demanda, a cidade adotou alguns ônibus articulados, mas o experimento foi abandonado em função de dificuldades de manutenção.
Os articulados somente voltaram a Guayaquil em 2006 com a implantação da primeira linha do BRT Metrovia, sistema que hoje conta com sete linhas e é o principal meio de transporte guayaquileno. O Metrovia de fato melhorou a eficiência do transporte na cidade, antes baseado em ônibus, peruas, microônibus e táxis, mas rapidamente se mostrou insuficiente para atender à demanda crescente, o que resulta em carros sempre lotados, mesmo nos finais de semana.
Carro alegórico brinca com a superlotação do sistema de ônibus. Ao volante, a imagem do ex-prefeito Jaime Nebot Foto El Universo
Outra agravante é a baixa qualidade do óleo diesel equatoriano, com altas emissões de poluentes na atmosfera. Há fumaça preta por todo lado, além do ruído excessivo provocado pelos veículos. Assim, a imagem do transporte público é muito negativa. Já nas eleições de 2013, um grupo de artesãos construiu uma alegoria, o "Metro Sardina", que circulou durante várias semanas pela cidade, gerando grande polêmica. Duas gestões municipais se passaram e as autoridades já experimentaram ônibus mais modernos, dotados de ar-condicionado e até novos ônibus elétricos a bateria, mas as melhorias ainda são restritas e insuficientes.
Bonde no centro de Guayaquil nos anos 1940 Foto: Coleção Allen Morrison (tramz.com)
Até os anos 1950 Guayaquil contava com duas linhas de bondes (tranvías) elétricos com 14 km de extensão que funcionaram relativamente bem até os anos 1940. Pelo contrato firmado em 1910, a companhia operadora teria a concessão até 1960, quando repassaria todos os equipamentos para a prefeitura local. Segundo os historiadores equatorianos Graciela García de Véliz e Gaitán Villavicencio Loor, por volta de 1922 chegaram à cidade os primeiros ônibus, importados pelo empresário Rodolfo Baquerizo Moreno, o mesmo proprietário da empresa operadora dos bondes. Assim, a partir de 1944, a empresa deixou de investir na expansão e manutenção do sistema de trilhos urbanos, levando ao abandono dos bondes e sua desativação gradativa em meados da década de 1950.
Ônibus, só elétricos, a partir de 2025
A eletrificação do transporte público deverá ser acelerada a partir desta década, conforme a nova Lei de Eficiência Energética, publicada em março de 2019 pelo governo equatoriano. Hoje, segundo dados oficiais, o Equador conta com 26.251 ônibus com motores alimentados por diesel ou gasolina, dos quais 20.444 terão que ser substituídos nos próximos 15 anos, conforme o limite de 20 anos estabelecido pela Agência Nacional de Trânsito (ANT). E, a partir de 2025 todos os novos veículos do transporte público deverão ser obrigatoriamente elétricos. Até o momento Guayaquil conta com apenas 20 ônibus a bateria da BYD, que entraram em funcionamento em fevereiro de 2019.
Ônibus elétricos já operam em Guyaquil Foto: Divulgação
Teleférico urbano e cicloponte
Uma alternativa de transportes está sendo tentada com a construção do teleférico Aerovia, que vai ligar a cidade à vizinha Durán, na outra margem do majestoso rio Guayas. Serão cinco estações e 27 torres para o embarque nas 154 cabinas, cada uma projetada para transportar dez pessoas. As previsões da empresa municipal ATM indicam que o sistema transportará 42 mil pessoas por dia sobre as águas do rio Guayas.
Outro modo de transporte e turismo entre Guayaquil e Durán são as pontes para pedestres e ciclistas que permitem a conexão entre as duas localidades por meio da ilha Santay. A infraestrutura permite cruzar o rio a pé ou de bicicleta até a ilha, e seguir em pontes de madeirra em meio à vegetação, cursos d'água e pântanos até uma segunda ponte, que completa a travessia do rio. Uma delas conta com um tramo móvel para permitir a travessia de barcos de grande porte. As pontes foram inauguradas em 2014, mas uma delas (entre Santay e Durán) foi derrubada por um acidente com um navio, em 2017, e ainda se encontrava fechada em dezembro de 2019.
Ponte para pedestres e ciclistas sobre o rio Guayas Foto: Mobilize Brasil
Região metropolitana: Localizada quase na foz do rio Guayas, Guayaquil é o centro de uma região metropolitana que reúne mais de 3 milhões de pessoas atraídas por oportunidades de trabalho. A cidade tem uma população multicultural, com traços andinos, amazônicos e sobretudo caribenhos. Há migrantes de todas as partes do Equador, da Colômbia, Venezuela e Cuba, entre outros países. E essa riqueza se reflete na música, na culinária, na arquitetura e até no jeito de falar o espanhol.
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