Na megalicitação de ônibus de SP, como fica a mobilidade a pé?

Liberada hoje (24) pelo TCM, licitação de ônibus vai trazer aumento nas baldeações, mas não prevê melhor infraestrutura ao pedestre, o principal usuário do transporte

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Meli Malatesta*/ Mobilize  |  Postado em: 24 de outubro de 2018

Mobilidade a pé deve integrar a rede de transporte

Mobilidade a pé deve integrar a rede de transporte público

créditos: Gustavo Bonfate

Nesta quarta-feira (24) foi noticiado que o TCM - Tribunal de Contas do Município de São Paulo liberou a licitação de ônibus lançada pela Prefeitura do Município de São Paulo, por meio da Secretaria de Mobilidade e Transportes. Esta licitação, orçada em 68 bilhões  de reais, traz como principal novidade a chamada racionalização e otimização da atual rede de ônibus, responsável por atender hoje em dia 9 milhões de pessoas. 

Quando se fala em racionalização e otimização da rede de ônibus fala-se também em aumentar em torno de 4%  o número de baldeações ao longo das viagens porque a ideia é concentrar os ônibus maiores, de longo alcance, nos corredores alimentados por itinerários complementares realizados por veículos menores. Com isso a previsão é de promover maior eficiência, reduzindo a quantidade de veículos (7%), e aumento da velocidade média e do número de lugares disponíveis (10%).  

Entretanto não se falou até o momento se esta super-revolução na forma mais utilizada para as pessoas se transportarem na nossa cidade vai também contemplar a preparação dos espaços públicos que acolherão o previsto aumento das baldeações.  

Causa apreensão a constatação das dificuldades enfrentadas pelos pedestres antes ou logo após se tornarem passageiros, tais como:    

- Plataformas com largura insuficiente para acomodar com um mínimo de conforto e segurança pessoas que aguardam seu ônibus tentando conviver na busca por espaço com as pessoas que embarcam e desembarcam dos veículos. Essas manobras de sobrevivência se tornam ainda mais complicadas quando são protagonizadas por pessoas com deficiência, cada vez mais comuns em nossos ônibus, já que finalmente está sendo cumprida a determinação por veículos  acessíveis; 

- Travessias de pedestres semaforizadas sendo realizadas em duas etapas nas vias com canteiros centrais, já que, por imporem ao pedestre longo tempo de espera, ocasionam a formação de expressivos pelotões de pessoas aguardando para atravessarem. Os transbordos certamente aumentarão a quantidade de gente nas travessias e se não fizer parte do “pacote” a adoção de uma política de programação semafórica que otimize travessias de pedestres, poderá ser esperada uma situação de insegurança e o aumento de atropelamentos; 

- Colabora também para isso a área das calçadas que será disponível para acomodar a espera do futuro passageiro que ainda é pedestre para fazer a travessia ou simplesmente fazer parte da conexão entre duas paradas ou pontos de conexão. 

Assim, se esta megalicitação responsável pela megarrevolução na forma de se usar ônibus na cidade não contemplar a infraestrutura urbana que acomoda a rede de mobilidade a pé que, por sua vez, alimenta qualquer rede de ônibus, é de se prever a triste perspectiva de aumento dos atropelamentos de potenciais passageiros. E isto só não ocorrerá se houver tratamento adequado de calçadas, travessias, áreas de espera para travessias e os locais de embarque e desembarque.  

De nada adiantará os milhões envolvidos na implementação de um novo sistema de itinerários racionalizados controlados por tecnologia de ponta, se houver o acréscimo de deseconomias geradas pelos básicos atropelamentos de seus usuários.  

*A arquiteta Meli Malatesta assina o blog Pé de Igualdade, no Mobilize 

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